domingo, 28 de junho de 2009

há um ano atrás




Agora já passou um ano das coisas que aconteceram há um ano atrás. Eu estou em casa, um pouco mais longe de mim. Um ano longe de mim.

Lembro das noites enlouquecedoras debaixo do céu daquele pequeno paraíso de um ano atrás. Lembro de sentir fome, muita fome, um ano atrás. Lembro de chorar por tudo. Por nada. Eu chorei tanto há um ano atrás. Lembro da fragilidade dos meninos refletindo meus próprios medos. Eles também não eram os mesmos há um ano atrás. Os olhos novos. Ainda vivos. Tão pequenos do lado de fora.

A vida sorriu pela primeira vez, um ano atrás. Os olhos enxergaram um caminho alem dos trajetos diários de um ano atrás. Há um ano atrás. Há um ano atrás o futuro ganhou certeza.

 Às vezes o mundo faz sentido, mas nunca mais será como há um ano atrás. Ainda passaremos tempo habitando um ano atrás. Depois cicatrizaremos. Ainda estamos na idade das cicatrizações. Eles não.

Algumas vidas voltarão para o rumo que elas seguiriam se não tivesse existido um ano atrás.

É certo que você quase esqueceu. É lógico que você finge que não viveu. Alguns, mais velhos, não souberam respeitar o seu coração. Fingiram entender os seus medos. Fingiram gostar de você. Te deixaram dormir perto deles para depois  te jogar na noite fria e perigosa de uma grande cidade. Te negaram abrigo quando você mais precisou. Não deixaram que os seus medos fossem apenas os seus medos. Os pequeninos são tão mais sábios do que os adultos.

Tristeza nunca será vaidade. É perigoso cicatrizar antes da hora.

Hoje faz um ano atrás. Os encontros nunca mais terão a mesma intensidade de um ano atrás. Sabedoria é deixar passar. Serenidade é desapegar. Por mais que tentássemos, por mais que tivessem nos deixado em paz, por mais que o mundo tivesse sido bonito, jamais teríamos  sido crianças encantadas. Se tivéssemos sido crianças encantadas, não teríamos tido um ano atrás para sentir saudade.

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