quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

converso com você no skype e toca cat power. se os nossos blogues são terapias, vamos entrar um pouco mais fundo nelas. o mapa do mundo está colado na frente da minha mesa, atrás do meu computador e ele é a coisa mais perto de mim aqui nesse quarto apertado. até quando vou escrever em quartos apertados. o quanto nós ainda precisaremos dos quartos apertados ninguém pode dizer. nem nós mesmos. o mundo que você habita agora eu não sei qual é. não sei o tamanho da floresta negra para saber se devo ou não me preocupar com você. não sei se aí existem duendes. na irlanda eu sei que existe, mas não sei se eles algum dia chegaram na alemanha. na época em que as pequenas florestas e os grandes bosques de carvalho eram todos uma coisa só. para eles as rotas eram menos complicadas naquela época. viviam mais próximos. conectados em uma rede que enviava sinais significando árvores. ventos. florações. falavam por uma rede secreta. a linguagem das plantações. você também nota que a nossa voz está mudando? pouco a pouco perco as referências da forma como você falava. às vezes fico pensando que nos conhecemos através das palavras escritas mais do que as palavras ditas. enfim. eu sempre vou para longe quando converso com você. não importa onde você esteja. e esse texto vai ao ar sem ser lido duas vezes. algumas coisas precisam de certeza para acontecer. e coragem para serem admitidas. 

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Today I was reading the news. It’s a little bit strange when I recognize myself in the pages of the local newspaper. Today I was reading about Barbara Ganley and, somehow, we are some kind of partners in life and the visions that makes it real. Somehow I found a group. The Slow Blogger’s group. And I’ve got less alone without having to be with someone. It’s always good to feel not so alone and, at the same time, not to need to get phisically near to anyone.

Even if feeling alone is a state of mind. Even if loneliness is my mood. My constant mood. I am a man of constant solitude. And I always feel good when I’m alone.

But today it was different. Barbara Ganley was with me. By my side. In the other side of the sea. In the top of the earth. Near to the ice. Near, so far away, like a silent neighboor of my private storms.

I’m so thankfull to all those who can give his own words to my own feelings. That’s the beauty of the non-solitude. That’s when I make sense. When I’m understood through the other’s eyes. And that’s when it’s not just for me. Serendipity. Or. Find your own way to describe the place that you inhabit now. Find your own way to describe no-leaving. No-living. Or heimweg.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Estranha essa sensação de ir, pouco a pouco, me aproximando de você de um jeito que depois vai ser mais difícil de te largar. Hoje, depois da corrida matinal dentro do bosque de eucaliptos, pensei que as drogas são para os adultos. Não sei o que isso quer dizer. Na hora em que eu pensei era apenas uma lição de moral para uma pessoa que era legal e virou careta. Tantas pessoas eram legais e viraram caretas. Provavelmente um dia você foi legal e agora tenha virado careta. Não me refiro sobre as drogas. Me refiro a você. E no seu caso é bem possível que tenha sido o contrario.
Mas essas coisas nada importam. O que importa é que agora toca uma canção linda na sala. E eu sou criança. Tenho doze anos e estou sozinho no meu quarto. Bolando planos para ir embora. Escutando os passos de alguma faxineira. Ou da minha irmã e as suas amigas mais novas do que eu. Eu queria que elas me achassem lindo quando elas passassem por mim dentro da minha casa. mas eu não era. Aquele não era eu. O garoto bonito. Aquele não era eu, o looser deprimido e feio dentro do meu quarto. Algumas garotas me acharam bonitos. E com essas eu tive paixões platônicas. Intensas e profundas. Dessas que, se até hoje ainda ecoam em mim, é provável que ecoarão para sempre. Como as canções quando nos transportam. As canções quando nos transportam é para sempre.
Mas essas coisas não importam. Estou falando merda. Tem uma coisa que eu sempre penso que preciso falar para você. Faz algum tempo que gosto de ouvir vinis. Eles tem uma sonoridade que me remetem à minha casa. À um tempo muito antes de agora. Antes mesmo de eu ter nascido. Um tempo que foi dos meus pais. E que eu só me reconheço, por nunca ter feito parte dele.
Costumo garimpar discos em lojas de usados. Compro muita coisa estranha. Coisas que ouvia quando eu era adolescente. Cantores contemporâneos de alguns ídolos de sempre. A face mais escura do que sobreviveu. Gosto preferencialmente dos lados B desses discos. Gosto de voltar a penas no lado A. Depois beber uma coca-cola ou comer um fandangos, e mergulhar, de barriga cheia e neurônios renovados na obscuridade do lado B. Mergulhar nas lembranças de quando comer não era culpa. De quando perder tempo ouvindo um disco inteiro não era perder tempo. Era mergulhar sem pensar na sonoridade que vinha de dentro das faixas escuras. A agulhava deslizava a tarde sem tocar nos ponteiros do relógio.
Voltamos devagar para lugares de onde nunca devíamos ter partido. E isso me conforta. Viva a incerteza. A ultima que restou.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008



















































































(todos por 25 pilas)





os vinis chiam a tarde. uma idéia brilhante nasceu. mariana, você me ajuda nessa?
chove, vou sair para comprar vinis antigos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008


no espaço unibanco, enquanto espero no café do saguão devorando as primeiras páginas de um livro recém-lançado.

entro no livro, e ao sair pela primeira vez, noto a presença de algumas mães com os seus bebês. bonitos. limpos. um mundo inteiro pela frente. as mães, estranhamente, pouco sorriem. depois percebo, descendo as escadarias, dezenas de mães com seus bebês no colo. todas sérias. um clima de apreensão. alguns casais com filhos aproximam-se do café. as crianças estão calmas. nenhuma chora. nenhuma ri. as mães parecem afastadas do mundo. grupos não se formam. distantes todas de si mesmas. vazias. talvez pela primeira vez.

mais uma sessão materna terminava. perguntei-me qual filme elas teriam assistido. 

ao chegar no guichê leio em um pequeno cartaz que o filme da sessão materna era "Vicky Cristina Barcelona". um filme que talvez devesse ser proibido para mães recém nascidas. um filme, talvez, sério demais para quem acredita em filhos. em fraldas. para quem vive um futuro. um filme perigoso demais para os que acreditam na beleza cor-de-rosa das sessões maternas do espaço unibanco.

se, nessa noite, alguma criança chorar de fome ou dormir sem a dose exata de carinho, a culpa terá sido toda do unibanco. do woody allen. e delas mesmas. por terem nascido.





ps - e eu acho que estou gostando de uma garota. você sabe que é de você mesma que estou falando. e isso é sério. e eu teria um filho com você. mesmo depois do filme.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

marry christmas if you dare














São Paulo. Algumas pessoas vão embora. Outras ficam. E é para sempre, embora a gente pense que não. Chove na rua e aqui dentro faz um calor. Os amigos quando dançam na sala e os planos que nunca seremos. O mundo não existe amanhã. Chove do outro lado da janela. O mundo dorme quando nós não.

Tentamos o contato com qualquer coisa que não nós.

Na pista eu arranquei a camiseta. E só você não estava lá. E eu queria viver em tempo não esse.  Qualquer duas décadas antes de agora me faria feliz. O mundo ainda é uma criança e vivemos todos uma pré-adolescencia coletiva. Nos agarramos ao que não existe. Nos exilamos no que não foi proibido. E sofremos tão mais do que precisamos.

Vivemos o momento final antes da primeira morte, e não sabemos que há tanto a fazer depois. Quando você me ensinou a psicografia há tanto tempo atrás, eu não pude entender. Você foi ele através dela e eu não pude entender.

Agora é o ultimo verão antes do fim. Feliz Natal IF you dare.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

La Boca

Naquele ano estranho de 1979 ela devia ter dezoito anos. Hoje eu sei quase tudo sobre mim através das fotografias que tiramos juntos. Ou que tiraram de nós. Nossos rostos do lado de dentro da fina película plástica dos álbuns escondidos dentro do armário da sala. A sala escondendo um cheiro antigo dentro de cada gaveta. “É sempre preciso muito mais cuidado ao voltar para casa”, alguém deveria ter me dito antes de partir. É o que, agora, eu digo para você. Mesmo sabendo que agora nada ainda será entendido. Você ainda é pequenino demais para entendimentos de ordem tão simples. Será preciso que os anos acumulem sobre os seus dias. Será preciso que as estradas façam parte do repertório de imagens do seu passado. Escrevo esta carta como o desejo mais profundo de que você viaje. Que você parta sempre. Que sempre uma paisagem mas distante te chame para ir. Que você crie mistérios para depois desvendá-los. Que platonize paixões para sempre ter o que destruir. Escrevo para que você nunca fuja de si mesmo. As estradas nunca serão perigosas, se o caminho de volta continuar a menor distância entre você e quem você é. Quem você será, de quem você foi. 




Caminho pelos corredores sujos da rodoviária de Lajeado. Preciso partir. Os exames de saúde são exemplos de uma conduta correta. Caminho sozinho. Observo rostos conhecidos. Agricultores voltando para casa. Agricultores chegando na cidade. Eles carregam um cheiro estranho. Um cheiro de vaca. Um cheiro de tudo o que fui. Todos os agricultores são os meus avós. São as galinhas mortas no quintal da nossa casa no meio de uma quarta-feira qualquer. O último grito. Os últimos passos sem cabeça. A panela de água fervendo. As penas brancas submergindo. Depois os nossos dedos arrancando todas as penas. O cheiro de pena fervida. A pequena montanha branca de penas molhadas sobre nossos pés. As últimas penas queimadas sobre a fogueira e o cheiro de penas molhadas, fervidas e queimadas se misturando em pequenos redemoinhos que penetravam pelos meus ouvidos e percorriam a infinita distancia entre o que um dia eu cheirei e o que nunca mais sairia de mim. Eu ainda não havia aprendido a ter cuidado com os cheiros. A não deixar que eles entrassem sem critério. O cheiro das galinhas mortas. O galinheiro vazio. Os ovos dentro delas. Pequenos abortos de filhotes que nunca nasceram. Minha mãe gostava desses dias. Eu lembro dela. Eu lembro de mim. Os cheiros que entraram e que nunca mais sairão. É preciso cuidado. É preciso não deixar que eles entrem para nunca mais sair. É preciso critério para formar o repertório que nos fará memória. Existem partes dessa carta que você deveria compreender antes de ler. Aprenda a entender cada cheiro. Entenda o que cada cheiro desperta em você. Lição numero um para não sofrer de memórias. De nostalgias dolorosas. De galinhas mortas e de lágrimas sobre o quintal.
Escolhi a empresa de ônibus pelo atendente do outro lado do balcão. Não que ele fosse especial. Ele era apenas o único atendente atrás de um dos três balcões das três companhias que possuíam linhas para Montevidéo. Ele atendia duas garotas. Elas não tinham dinheiro para as passagens até o Uruguai e tentavam convencer o atendente a trocar uma passagem por um celular. A garota sem celular cogitava continuar na cidade e trabalhar mais um mês para comprar um celular, trocar por uma passagem e depois encontrar com a amiga no país vizinho. Talvez elas fossem personagens muito mais interessantes do que eu. Quase todos os personagens são mais interessantes do que eu mesmo, dentro das minhas histórias. Não. Isso é mentira. E eu não vou mentir para você. A garota de cabelos encaracolados e escuros olhou para mim e sorriu. Perguntou-me se eu precisava de uma companheira de viagem. Eu sempre acho estranho quando estranhos conversam comigo. A última coisa que eu preciso é de uma companheira para as minhas viagens. É sempre um pouco perturbador quando um personagem deixa de ser um figurante na minha história para tentar roubar a cena e protagonizar a minha vida. Eu não deixo. 
Sorri por educação e olhei para o balcão esperando encontrar ali algum calendário, alguma grade de horários. “Um dia estive aqui”, estava escrito sobre a madeira escura. 
A garota ainda sorria para mim e a outra, a loira, conversava com a mãe no celular da amiga. O atendente examinava o aparelho e eu observava a aliança no seu dedo do meio. A garota perguntou se ele era casado e ele perguntou se o celular tinha câmera e rádio. Eu perguntei quanto custava o trecho entre Lajeado e Montevidéo. Mas ninguém me escutou. Depois de um tempo ele olhou para mim e disse que havia um ônibus partindo ainda naquela mesma madrugada. Era um ônibus leito a preço de ônibus comum e eu sempre prefiro as decisões tomadas sem tempo para pensar. O tempo nunca age certo sobre o pensar. O tempo de pensar é o tempo da não ação. Na dúvida, vá. Na dúvida, salte. No aperto, relaxe. Perguntei o preço e ele aceitaria sim o meu cartão de crédito. Era a primeira vez que eu usava o meu cartão de crédito para pagar alguma coisa realmente importante na minha vida. Eu tinha trinta anos e aquela era a primeira viagem que eu faria sem que ninguém me desse dinheiro para isso. Eu tinha quase trinta anos e aquela era a primeira viagem que eu fazia sem ninguém para saber. Sem que ninguém pudesse agir sobre o meu percurso. Era a minha primeira viagem sozinho para fora do país. Mesmo que esse país estrangeiro estivesse a poucos quilômetros do meu. Mesmo que esse estranho país falasse uma língua tão perto da minha. Partir era mais importante do que as palavras. Do que qualquer distancia. 
“Posso ir te chupando daqui até Montevidéo se você pagar a minha passagem”, a garota loira falou olhando para mim. O atendente riu. Eu senti um calor no rosto e suei. Ordenei ao atendendente que debitasse duas passagens no meu cartão e comprei dois bilhetes de ida. Um para mim. E outro para ela. A boca.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

it's all about us
















É um pouco complicado escrever durante as temporadas longe de mim. Existem fases em que não me encontro. Por mais que me procure, não sei onde estou. Quando acordo ainda sinto a mesma fome, mas, aos poucos, vou entendo que, hoje, ela não será saciada.

Às vezes basta uma palavra dita da forma certa, mas na hora errada, para o mundo perder a graça. As palavras são fortes demais para mim e eu me sinto mais verdadeiro quando escrevo. Quando falo quase sempre saem mentiras de dentro de mim e eu não me reconheço nos diálogos que tento reconstruir quando a solidão volta. É sempre mais fácil quando sozinho. Sempre foi assim.

Hoje encontrei um texto que traduzi em 2006. Li as primeiras páginas e tudo continuava lá. As palavras ainda fortes. As intenções ainda verdadeiras. E, à medida que lia as falas daqueles personagens, uma vontade de voltar ao teatro foi tomando conta de mim. Antes que a vontade ficasse forte demais, fechei o documento e deitei no chão da sala. Enquanto o vinil do Led arranhava as paredes da casa e o sol atravessava os galhos do abacateiro até mim, eu criei um elenco dos sonhos. E eu escalei um time que faria a peça mais linda do mundo. Quando a música terminou eu tentei saber o nome daqueles atores, mas eles não existem.

Depois mijei. E depois de mijar fiquei olhando no espelho e pensando nos artistas que hoje me tocam. Pensei na Tuane e nas suas fotografias e no seu sorriso carregado de lágrimas que o seu olhar crava quando olha dentro do meu. Pensei nas músicas do senhor Johann. Pensei nas frases interminadas da Francieli. E fiquei feliz. Quando penso que os meus companheiros lá de Lajeado são os artistas mais interessantes que eu conheço hoje, nada fica complicado. Quando sei que, mesmo longe, na época das festas estaremos todos juntos, mesmo sem nunca estar, o dia encontra algum sentido. E eu sei que, se algum dia nos encontrarmos todos juntos, o mundo deixará de ser. Porque nós só conseguimos habitar plenamente os territórios imaginados. Porque nós somos feitos de uma matéria que não existe. Ou que ainda não existiu até aqui. Nossa arte é feita de vento e de tudo o que ele esconde. De tudo o que ele faz sentir quando varre nossos cabelos e arranca lágrimas dos nossos olhos. Nossas frases são imperfeitas, e nem por isso estamos tristes. Nossos raciocínios são complicados demais para os que não encontraram a simplicidade cortante de uma tarde inteira a suportar.

Os que sabem a dor do antes dormir. Do quase não dormir. Do nunca mais descansar.

Mr Johann toca agora "there's so much life besides". Ele está certo. Ele sabe que ela ficará lá, para sempre. Ele sabe que ela nunca será tocada por nenhum de nós. Somos feitos da vida antes que ela aconteça. Francieli atualiza seu blogue com fúria. Tuane despeja as fotografias mais belas do mundo de agora em seu flickr de ontem. E tudo está bem assim. Somos quatro dimensões de um mesmo segredo. E somos um só corpo condenado a nunca se encontrar.


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Parfoir j’ai envie d’aller à la plage. Mais après je me dissoudres. Et la mer recule jusque une terre distante. Si distante de moi même que, peut-être, il n’existe pas. Plus on distant d’ici, plus on près de mes souvenirs. Ma vie est comme si de rien n’était. Comme s'était morte aprés du réveiller. Ma voiture est la vitesse. Mes yeux sont la plenitude du virage aprés le bout. Ou debutance.  Comme commencer. L’avalanche. La chute. Mon parachute. Ton parachutiste. Quelque chose impossible d’écrire.  Quelque corps impossible de sécher. Un scanner sour mes rêves. Un scanner sour tes parachutes.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

As pessoas dançam. Sorriem nas filas. Trocam frases de amor. Discutem amenidades. Depois choram sobre as linhas de um blogue. Eles comem em restaurantes caros. Dormem em camas confortáveis. Falam no celular sem pensar nos minutos. Depois despejam no blogue o pavor sobre planos de governo. Eles tratam mal os seus funcionários. Eles são arrogantes com o mundo. Depois debatem a depressão em blogues que nunca terão acessos suficientes. Nenhum contador jamais aplacará a sede dos seus egos. Antes de dormir eles sempre pedirão um pouco mais do que nunca lhes foi dado. No meio de um sonho eles saberão que não cabe a si o que não faz parte de. Mas de manhã eles acordarão. E continuarão acreditando em tudo o que nunca criaram. É assim que se vive. É assim que se leva. É assim que se segue. Sempre um pouco mais para longe de si mesmo. Quando o mundo te chamar de artista é quando você terá deixado de ser. Quando você deixar de acreditar em si mesmo será quando as verdades surgirão em ti. Duvide. Depois acredite. Para duvidar com mais certeza. E siga um ritmo constante e eterno. Como a respiração. Até que não restem dúvidas. Até que não restem respirações. Então você morrerá. E o estrago terá sido feito enfim.

As pessoas fazem tantas coisas que não deveriam fazer. Mas elas fazem mesmo assim. O mundo é simples se você olhar do jeito certo. Talvez o jeito certo seja olhar um pouco menos pelo buraco da fechadura. O buraco da fechadura sempre mostra o quarto dos outros. As paisagens podem ser escolhidas. Cada escolha interfere uma invenção e a maldade sempre está nos olhos de quem lê.

Talvez seja apenas mais uma sexta-feira e as sexta-feiras são centopéias de cinco patas ainda sem cabeça. A cabeça é o fim de semana. Os dois lados da cabeça. Sábado é o lado esquerdo. Quando só existe alegria de viver porque não existe amanhã. Domingo é o lado direito. Quando há o entendimento do dia para si e do dia para outro. A segunda-feira é o dia de ninguém. Do não. Do nada. Sexta-feira, por pior que eu possa estar, por mais velho que eu possa ser, sempre carregará nas suas horas a promessa do vir a ser. Sexta-feira pode ser o pior dia do mundo se você for dezesseis. Sexta-feira pode ser o melhor dia do mundo se você for dezesseis. Olhe dentro do seu coração e me diga o que existe lá dentro. Se você conseguir, escreva cem vezes dentro dele até deixar de ser verdade. Escreva cem vezes a mesma verdade para que ela possa ser mentira. Liberte o mundo de ser o que é condicionando à repetição o que nunca deveria ser igual. Alimente pequenos fantasmas. Desfrute de pequenos segredos. Esconda as suas maiores virtudes. Dela depende apenas que  sejam suas.

No meio da noite bebês despencavam da janela do meu quarto, mas tudo estava bem. Eu estava lá para velar a queda. Você caiu da janela do meu prédio no meio da noite. Mas você não morreu. Ficou deitado no telhado da igreja que tem aqui ao lado. A vida pode ser bonita se você não acredita no perigo. Ou se você dá ao perigo a dimensão exata que ele precisa ter.

Quanto maior a alegria de viver, maior o medo da morte.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

no mind que seja eu.

O ano avança sobre os seus finalmentes e eu quero saber se hoje eu sou mais eu do que fui no final do ano que passou. No ano que passou eu voltei de uma terra prestes a congelar para dançar na beira de um mar bonito e azul com um céu cheio de estrelas e baleias e pingüins e paisagens antes de gelo. Você me abraçou e tomamos banho de mar, de bebida e de música. E congelamos nossos pés dentro das ondas. Depois o sol nasceu sozinho dentro de mim no primeiro dia desse ano que prometia ser tudo. Você dormia. Eu vomitava todos os banheiros do mundo. Estrangeiros dançavam e eu era mais um francês entre todos os pretos daquela cidade. E foi assim que começamos mais um ano. O ultimo ano do começo do fim das nossas vidas. Não há motivos para temer.

 As chuvas do verão começaram a cair ontem, mas eu ainda sinto o frio dentro de mim. Longe, onde você mora, você me disse que chovia. Que estava cinza. E que os pássaros cantavam mais do que sempre cantam. Aqui, onde estou sem habitar, faz sol. Há um sabiá no imenso abacateiro que entra pela janela da sala. Aqui os pássaros cantam histéricos. Como se atrasados. Como se não devessem ser. Aqui, longe de você, Nina Simone canta baixinho Mr Bojangles. Alguém dorme na minha cama, mas eu não sei quem é. Talvez seja você num futuro que nunca tivemos. O mapa do mundo pregado na parede é só mais um pais  para cada dia que passa. Pesquiso distancias que posso percorrer. Traços roteiros imaginários tentando encontrar um ponto no mundo para ver 2008 se transformar 2009 e tudo continuar como era antes. Quando foi que eu parei de acreditar que as coisas mudam, mas que nada é impossível de suportar? Nada vai mudar se os dias seguirem no mind. As datas não se correspondem mais e o tempo de cada dia hoje não é mais o tempo de cada dia que foi ontem. As velocidades aumentam todas, mas o meu corpo sempre demora um pouco mais para sentir o que todos já sabem.

Quando deixarmos de ser 2008 eu quero te abraçar na beira de uma praia de água doce. Seremos estrangeiros em um pais vizinho. Seremos ricos onde nossa economia desperta alguma inveja. E eu colocarei alguma canção nos seus ouvidos para tocar enquanto você me olha dançar salgado entre as ondas doces de um mar de uma cidade dividida ao meio. De uma cidade que nunca pertenceu a lado algum. De uma cidade que um dia se cobriu de sangue e que agora, amanhã, 01 de janeiro, será meu sangue todo dançando para você. Do outro lado dele  alguma cidade grande esperará por nós, mas saberemos o tempo exato de habitá-la.

As suas sujeiras. As suas tristezas. Os seus excessos.

Agora estou dentro dela. Chorando cada dia um pouco mais. A cada dia um pouco mais complicado de se esconder de mim mesmo. Caminhar sem esperar o sol se pôr. Sem saber como ele vai embora. Observar as pequenas mudanças de cor refletidas nas vitrines. Nos vidros dos carros. Saber o tamanho da lua pelo calendário, não pela paisagem noturna. Tem dias em que me sinto sozinho demais e nem você, nem seus olhos, nem saber que você está aí pode mudar qualquer coisa. Tem dias que falta saber do mundo pelos olhos dele mesmo. Tem dias que falta saber de mim pelos olhos da terra. Tem dias que falta me o eu. Mas eu espero. Eu sempre espero por mim quando tudo parece estar perdido.

Ontem baixei todas as versões que Nina Simone fez para canções de Bob Dylan. Agora ela canta Just Like a Woman e é tão bonito. Mas eu não estou aqui para escutar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

another gay sunshine day

Talvez a medida exata para um corpo seja uma garrafa antes de dormir. Ou antes de compor uma nova canção. Talvez a medida exata para dizer quem eu sou seja Marianne Faithfull gritando em seus ouvidos para que você nunca possa dormir. Talvez a imensidão exata dos meus cabelos seja o vento entrando pela janela de todas as estradas que ainda não tivemos.
Diga uma verdade antes de dormir e você saberá quem eu sou.
Ontem a noite foi de festa. Os amigos quando se encontram. As línguas antes de terem sido cortadas. Os corações antes do fim. Os sonhos antes do não. A morte antes do se.
Ontem a noite foi de risadas em roda. De goteiras quando não chuva. Ontem a noite foi de nós. Voltei para casa e é sempre estranho voltar para casa sendo dois. Até quando vai ser assim? Ontem eu dormi e a cama não sou somente eu. Até quando vai ser assim? Até quando você vai me suportar? Até quando eu vou me suportar sendo tudo o que não sou ao lado seu? Casamentos são sonos profundos. São respiros antes do salto. São descansos entre duas vidas.
Queria escrever cem vezes a mesma mentira até que ela fosse verdade. Eu escreveria cem vezes. Ou milhão delas. Passo o dia fugindo de mim mesmo em salas de cinema. Passo os dias tentando me encontrar em cenas que eu não seria. Passo os dias à procura de mim mesmo em filmes que não eu. Que nunca serão. Mas se de noite eu sempre volto para casa sozinho. Sempre um pouco mais sozinho de mim mesmo. E se dentro dela eu me encontrar, todos os filmes terão valido à pena. É que hoje. Só hoje. Eu não estou muito feliz.
Como as noite sem amigos. Como os amigos antes do não mais ser.
Os amigos, como a vida, são opcionais. A vida, como os amigos, vale a pena ser cultivada. Eu tento. Mas depois de cada gole de café fica sempre um pouco mais complicado não pensar que talvez não. Que talvez ele arrebente. O coração. Hoje não. Só hoje que não. Dorme. E eu queria deitar. Noite. E eu queria ser.
Quando você disse que me amava eu sabia que era mentira. Aos dezessete ninguém nunca me disse que me amava e eu nunca amei ninguém mas a idéia de amar era o amor no seu estado mais puro. Como amar fantasmas de mim mesmo. Aos dezessete eu caminhava por cemitérios e, pobre de mim, não sabia que toda a vida do mundo estava ali. Depois eu cresci. Todos crescemos. E os amores se tornaram reais e, nem por isso, vivos. Os amores dos dezessete são os únicos de verdade. Hoje tentamos acreditar nessa vida que não é nossa. Onde estão as nossas camisetas das bandas que nos eram cantando até o fim? As agendas com pedaços de nós mesmos? Os cadernos de perguntas que nunca seriam respondidas?
Você é virgem?
Você é feliz?
Você acredita em você mesmo?
Responda não. Cem vezes. À todas as perguntas acima, e considere-se vivo. Encontre-se dentro da canção mais triste do mundo e pense nunca mais poder sair de dentro dela e seja dezessete tatuado em seu coração. Quando você me olhava no recreio eu tentava te amar. Mas entre um gole de Coca-Cola e uma mordida no paste do Folhinha, a vida poderia ter sido tão mais triste do que foi de verdade. Eu chafurdo na tristeza para encontrar quem eu sou. Eu me afundo na lama na expectativa mais sincera de saber quem sou eu. Eu procuro. Mas a vida, às vezes parece fazer nenhum sentido. É quando ela vale a pena. Quando é madrugada e o teu corpo não quer dormir. Quando você é a noite de sábado sem ninguém para sair. Quando você é bonito sem ninguém para saber. Quando você acredita sem ninguém para te mentir.
A vida foi bonita. Mas você não estava lá para entender o quanto.

sábado, 18 de outubro de 2008

sobre o tamanho da vergonha


O sábado começa e a vida hoje é só mais um cansaço. Comprar orgânicos na feira. Ouvir Cat Power tocando na vitrola da sala sem parar. Pensar no mundo e nos lugares onde não estou. É só mais um sábado que começa e talvez esse seja apenas o últimos sábado antes do fim do mundo.

Antes de dormir eu penso nos problemas do mundo para ter sono. Penso na crise. Penso nas tragédias. Nas misérias. Nos governos totalitaristas. E o sonho vem chegando devagarzinho. Para dormir penso em coisas inúteis. Só assim sinto sono. Penso nas dimensões, no tamanho delas, no quanto eu sou pequeno e no quanto as políticas internas me interessam muito mais do que tudo o que vem de fora. Não me interessa o que não diz respeito a mim. Mas nas políticas internas, nessas não se deve pensar antes de dormir. Essas tiram o sono e fazem não querer dormir nunca mais. Ou poluem os sonhos com chaves para portas que abrem para lugares que talvez sejam perigosos demais.

Então eu penso em Bush, Obama, Lula, e em tanto nomes que são apenas nomes e que são apenas sucessões de sucessões e de sucessões. E eu sinto uma ponta de ironia quando leio opiniões tão certas sobre tudo o que não diz respeito a mim. Eu sinto uma ponta de orgulho por não comparecer. Por não participar. Por tentar fazer do meu mundo um lugar bom para mim. O câncer mais assustador é aquele que talvez esteja crescendo entre as minhas carnes. As feridas que mais doem são as que acometem o céu da minha boca. A miséria mais dolorida sou eu querendo comprar sempre o que não deveria ter. A ditadura mais sofrida é ter que esconder dos outros a minha alegria por estar vivo no tempo de agora. Eu não me envergonho. Eu não me envergonho. Eu não me envergonho. Escreva cem vezes e ainda assim não entenderá.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

um trecho

“Faz três dias que todas as crianças do mundo lavam as mãos na televisão sem parar. Um órgão internacional destinado ao combate às doenças pede que todas as crianças lavem as mãos. Segundo as contagens do órgão, se todas as crianças do mundo lavarem as mãos ao mesmo tempo, uma quantidade significativa de doenças letais a essas crianças será sensivelmente diminuída em países menos civilizados.
Na pagina seguinte os ecologistas se mostram preocupados com a falta de água no mundo e eu me pergunto se o órgão internacional de saúde pública mundial não deveria ter distribuído lenços umedecidos ou pequenos recipientes de gel anti-septico para todas as crianças do mundo antes que elas abrissem todas as torneiras do mundo ao mesmo tempo.
Na pagina seguinte eu faria um levantamento dos gastos de água e compararia a diferença dos gastos entre as três alternativas possíveis para fazer com que todas as crianças do mundo lavassem as mãos gastando o mínimo de água.
Gosto de pensar em pessoas que têm projetos para o mundo inteiro.
Faz tempo que tenho uma idéia para o mundo inteiro fazer ao mesmo tempo e na mesma hora. A minha proposta realmente mudaria rumo da humanidade. Mas ela é séria demais e hoje eu não posso contar qual é. Mas se valer a pena. Ou se alguém achar que não vai dar nada. Sei lá. Se alguém me convencer ou me instigar a contar, eu acho que eu até conto.”

Sempre que uma nova rotina se estabelece em minha vida eu começo a me ver de longe. À medida que começo a me repetir todos os dias, vejo os dias de repetição fora do tempo presente.

Depois de tempos, consegui estabelecer um tipo de rotina nessa semana. Meia semana de rotina no meu tempo é maior do que no seu. Há três dias que sento na mesma mesa, do mesmo café, abro o meu lap top e escrevo há três dias seguidos a continuação de uma mesma história. Quando o dia termina caminho pela Paulista escutando canções que conheço tão bem há tanto tempo. A tríade Nancy Sinatra, Marianne Faithfull e Bob Dylan sempre me acompanha. E é bonito assim. Sendo o mesmo mais um pouco. Um pouco a mais a cada dia. 

Há um tipo de beleza que só existe nos escritores em início de carreira. De um jeito que sempre fui e que só deixei de ser quando me fizeram saber. Os mistérios deixam de ser quando ditos. 

Quando chego perto de casa atravesso uma pracinha e sempre vejo um grupo de garotos fumando os seus baseados. Eu olho para eles e me vejo ali. O guardinha me cumprimenta, mas eu nunca respondo. Eu sempre penso que deveria responder e ser amigo do guardinha. Mas aí eu lembro da moça que trabalha aqui em casa. Então eu sinto que a minha cota de ser legal com pessoas que não gosto mas que é preciso ser amigo ainda está ativa. Eu sempre achei que eu devia ser amigo de pessoas que não me interessavam. Eu sempre me senti meio que auto-obrigado a gostar de quem ninguém gostava. E assim foi indo. Era uma espécie de dívida com o mundo. Se o mundo não gostava de mim eu devia pagar de volta o pouco amor que me foi dado. A medida do ódio por quem não me gostava era exatamente igual ao amor que eu devotava a qualquer um que sentisse um mínimo de simpatia por mim. É foda ser cachorro. Mas essa é uma forma de pensar que é só minha.

Desde que meu contador de acessos tem explodido, me vejo obrigado a controlar os meus excessos por aqui. E aqui não é minha vida. É só um pedaço grande de mim mesmo.

O verão chega. Sempre que a estação muda uma onda de nostalgia elétrica se faz presente no ar. Os alérgicos são sensíveis ao invisível. Jamais duvide de um deles. Sempre que o dia estaciona no meio de um capricho da natureza, eu me sinto mais forte. Que faça sol até ferver. Que esfrie até congelar. Mas que congele. Ou que queime. Só não vale parar antes do fim.

As naves não vieram. Talvez devêssemos ir.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Hosana às Alturas!!!


Gosto de saber quando não estou sozinho no mundo. Embora encontrar antigos conhecidos seja mais doloroso do que me encontrar nas esquinas que atravesso, os diálogos internos ainda são os mais fáceis e estimulantes sempre. Agora descobri um pequeno oásis na grande cidade. um refugio onde serve-se um bom café e onde passo o dia escrevendo, escrevendo, escrevendo. Os homens são sérios e as mulheres falam baixo. Minha mesa, no canto, sob a luminária mais discreta, sempre está disponível. O café é caro, mas a discrição sempre compensa. Aqui não encontrarei conhecidos. Aqui a minha mesa não correrá o risco de ser invadida por assuntos que não me interessam. Aqui o centro dos goles gira em torno do que quero produzir. No meio das minhas palavras viajo pela internet. Como desanuviar. Como olhar um sol no meio da tempestade. O dia termina e estou menos sozinho. Descobri nas fotografias de uma garota chamada Calico Courtney que ela percebe o mundo de uma maneira muito próxima à minha. Entendo as suas cores, os  seus xadrezes e a leveza das suas fotografias. Se agora eu pudesse ser alguém, eu seria um modelo da sua coleção de fotos. Se eu pudesse ter alguém para me ler agora, seria ela. Às vezes eu penso que deveria escrever em inglês para atingir pessoas que estão próximas de mim.

Ontem, saindo do café, o pôr do sol refletido nos prédios de vidro da avenida Paulista me fez chorar de um jeito que nunca foi aqui em São Paulo. Nos ouvidos Bob Dylan combinava como nunca com a grandiosidade desse lugar. E eu era feliz. Eu. Minha mochila. Meu laptop carregado de idéias e as melhores canções na melhor cidade do Brasil. Estou grande. Estou forte. Sigo em frente. Comprei um livro de Ingmar Bergman, e li para você antes de dormir. Reconheço-me no que não entendo. E é assim que sigo um pouco perto de ser feliz.

Tem semanas que começam fazendo-nos sentido. Ainda bem. Que não dure para sempre para que não deixe de ser digno de celebração.

E hoje a nave há de chegar. Olhos aos céus. Sempre atentos para  o aberto. 

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dizem que a medida exata da paixão está no medo que ela desperta em mim. Entregar-se implica temer. Amar implica a constante possibilidade de deixar de ser amado pelo que se ama. Deixar-se amar talvez seja mais simples. Mas é quase certo que não. Tudo do que não depende apenas do eu é estranho e contém o descontrole. A terra é minada e as explosões são possíveis. Acontecer não depende de quem pisa. Explodir não diz respeito à falta de atenção. Por isso amar, quando se torna real, deixa de ser bonito. Por isso amar, quando torna-se a verdade, passa a ser a alma quando insone. Pensar no amor é deixar que ele pare de existir. Fazer cogitar o não mais se pertencer é o começo dele. Deixar-se de ser um nunca será a partida de dois.

Por isso a dor quando é de verdade. Por isso talvez quando não seja o sim. O não. Não o assim. Para que não se tenha o que falar quando o pressuposto for o nada a entender. Muito menos a fazer. Quando entregar-se é a prova final, a sua conclusão é a perda de si. Em si.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Faz tempo que não vejo um bonito sol cair. Faz tempo que não vejo uma bonita lua cheia. Faz tempo que não vejo a chuva chegando do longe até eu. Faz tempo que não sinto no vento um cheiro estranho, que me faz ter vontade de chorar, ou de voltar atrás ou de correr contra ele sentindo os fios dos meus cabelos se desprendendo. As rugas se esticando até eu ser bebê careca. Faz tempo que não sou eu aqui nessa cidade. Mas eu tento.

A cidade pede um outro olhar. O olhar que precisa algum exercício, não o olhar do conforto. Não a vida entendida. A cidade pede a vida descoberta. A vida com verbos externos. Perco-me em necessidades do corpo e sinto minha alma pequenina. Meu corpo está vivo, mas minha alma eu não sei onde pegar.

Ontem li o livro novo da Phrann e, oh Jesus, ela tão melhor do que eu jamais serei. Eu queria ser ela quando escrevesse. Ela não termina nenhum dos livros que começa, e nem precisa. Conheço a Phrann desde que somos crianças e ela era a menina mais estranha da escola e o nosso primeiro contato foi quando ela me pediu o “Guia das Profissões” emprestado. Ela, assim como eu, também tinha vontade de sair de Lajeado e conhecer outras pessoas. Ficávamos olhando todas as possibilidades de nós mesmos dentro da capa azul do “Guia das Profissões” e sonhando com qualquer terra que fosse longe da nossa. E  saímos de lá, abandonamos nossas pequenas almas muito antes do esperado. Voltamos de vez em quando. Como olhar para as fotografias de um álbum esquecido em alguma gaveta na casa da mãe. Como encontrar, sem querer, a carta de um amor antigo dentro de um livro que esquecemos de chegar ao fim. Como se encontrar no espelho no meio da madrugada e ficar mais tempo mergulhado na penumbra dos próprios olhos no vazio do banheiro. Os carros atravessando a cidade fria. Os ruídos no apartamento de cima. Os cachorros latindo longe.

Mas nossas voltas, as minhas e as dela, nunca mais se encontraram. Quando eu estou por lá, ela está longe e quando eu estou longe, ela está por lá. Como uma coreografia, como se fosse esse o nosso combinado, talvez sejam esses os passos certos a se dançar. Talvez assim dure para sempre um amor que atravessa os anos. Nos redescobrimos nos originais que trocamos. Nos reinventamos nas músicas quando escutadas juntos mesmo que separados por milhares de quilômetros. Nos entendemos quando passamos mais tempo no MSN do que nossos patrões internos gostariam que fosse. É assim que consigo amar quem é família. Indo sempre mais para o longe. Mantendo todos eles, os amados, em lugares que não posso estar. Sentindo mais a saudade do conviver do que o cansaço de uma convivência. Fazendo a convivência um instante ínfimo, sempre perdido entre duas partidas. Mas eu sei, eles também (pois somos feitos da mesma matéria), que o amor é o tempo quando insuportável.  Que a verdade é conviver, conviver, repetir, suportar o nada das histórias quando recontadas. Recontadas. Recontadas. Nós fingimos tão bem. Eles e eu.

Ontem acordei pensando na avó que me criou. Ela está cansada. Ou não. É preciso não entender mais dos outros do que eles mesmos se entendem. Quando penso nela, ela já está morta. Embora ainda habite a mesma casinha que me fez crescer. Ao lado do meu avô que ontem fiquei sabendo ter feito mais uma cirurgia nos joelhos. Ele sonha poder caminhar e ir andando até o centro de Lajeado e pegar a sua aposentadoria e depois passar na loja de discos e comprar um disco d’Os Serranos como ele fazia todos os meses desde que eu era pequenino. Mas ele não sabe que discos não existem mais. Nem as irmãos Gastão, as solteironas, afundadas em pilhas de vinis e fitas k7 pirateadas com capas brancas datilografadas. Ele sonha com o dia em que seus passos o levarão sozinho até o Banco do Brasil, sem saber que as araucárias do Alberto Torres não estão mais lá para contar para ele mesmo, os detalhes da própria história. Ele não sabe que a cidade cresceu e que é quase certo que ele será atropelado pelos carros que voam sobre o asfalto. Seus joelhos ficaram inúteis. Dessa vez para sempre. Como o asfalto quando cobre paralelepípedos, a poesia das palavras difíceis quando a prosa perde a dificuldade, a inutilidade da beleza para os caminhos retos, ele não entenderá a cidade se esvaziando de si. E ele será eu. Nós dois chorando sobre o mesmo tumulo. Nós dois órfãos de nós mesmos. Do que fomos. Do que seríamos se nunca partidos.

No meu íntimo eu desejo que ele nunca mais caminhe.  Que a geografia do seu passado não se mutile em novos andares solitários. Caminhar sozinho é perigoso. É sempre possível encontrar-se consigo mesmo na próxima esquina. É certo que. É mais fácil percorrer os caminhos quando conhecidos. É sempre mais bonita a cidade que nos fez crescer. É sempre mais doce o tempo da memória. O mesmo sol caindo no mesmo horizonte alheio ao eixo do planeta que se desloca tão veloz. Os mesmos dias e as mesmas horas que encurtam como sempre mais. Todos percebem, poucos entendem. O mesmo vento trazendo um tempo que ficou para trás. Antes das tsunamis, dos furacões, do fim dos dias. Todos caem. Todos cairão. É mais belo o dia quando não hoje. Será mais linda a terra quando o não agora.

As naves vieram. As naves virão.

Enquanto o passado não volta, me cerco dos objetos antigos. Das roupas usadas por pessoas que não conheci. Dos vinis arranhados por ouvidos que foram eu antes de mim mesmo.  

Para quem já nasceu triste, o mundo não deixará nunca de ser.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Quando acordo sem ser eu do outro lado do espelho. Primeiro ele pensou que fosse cansaço. Então ele descansou. Depois ele pensou que fosse uma virose. Então ele se cuidou. Quando estava certo de que era um vírus ele desmaiou. Quando acordou foi fazer um exame de sangue e sentiu-se limpo. Um tempo depois ficou doente mais uma vez. Entendeu que era a cabeça confusa demais e parou de fumar. O tempo passou. E o seu coração doeu até que ele caiu. Fez todos os exames que o coração pediu para saber-se forte. Ele sabia. E quanto mais os diagnósticos foram limpos com ele, mais sujo ele ficou.

O café está cheio. Aqui as pessoas conversam. Lá os mesmos vícios se repetem. Os vereadores se reelegem e nenhuma cidade é diferente daqui. Longe. A casa e as sujeiras de todas as festas. Há sangue em todas as nossas toalhas. Como desinflar você parou de gostar de mim e eu parei de te querer. Como desinflar eu desapareci um pouco mais para dentro de mim mesmo. Fazer o bem é uma filosofia muito simples e eu acho muito legal isso, ela me disse entre duas xícaras de café. Duas horas antes de tirar a minha roupa e me sugar até que eu desinflasse numa derrota triste eu já sabia que seria assim. Quando os olhares são previstas não há o que temer no não estabelecido. Mas logo a Mostra de Cinema vai começar e eu terei três semanas para deixar de seu. Fria. E solitária. Como eu ela será tudo o que nunca será. Como o meu pinto ela também será um pouco menos inflada do que foi há um ano atrás.

Sobre desinflar nenhum de nós tinha nada a dizer. Os bicos dos seus peitos continuaram duros mesmo depois de eu ter me amolecido inteiro. Eu olhava para a parede e ninguém estava lá, pendurado do outro lado. Para o teto branco descascando no canto eu era um pinto mole e cansado. Para a lâmpada amarela desligada eu não tinha pq estar lá. E eu solucei três vezes antes de entender que não era soluço. Era tristeza. Ou medo da morte. Ou não saber a felicidade. Ou ter parado de te querer fazer feliz. Para você eu não era mais homem. Como desinflar. Para mim eu nunca fui homem.

Ela escorregou até o limite da cama. Até o espaço mais distante do meu. Ficou me olhando de longe e o seu olhar saltava do meu pinto para os meus olhos e dos meus olhos para o meu pinto outra vez e assim ficaram, os seus olhos, repetidas vezes passeando pelo meu corpo. Eu estava magro e você também. Mas nós não nos amamos mais. E eu pensei que ela deveria escorregar para ainda mais longe de mim. E cair. E eu iria perguntar se você havia se machucado, mas você iria rir. E no meio do seu sorriso as minhas veias e o meu cérebro encontrariam uma conexão perfeita e eu teria uma ereção enquanto você gargalha. E quanto mais você gargalharia, mais duro o meu pau ficaria e maior seria a sua boca se abrindo e os seus dentes mostrariam as obturações cor de chumbo e eu pegaria na sua nuca e puxaria os seus cabelos até o seu nariz encostar nos pelos que caminham até o meu umbigo. E você sentiria os músculos da minha barriga e o cheiro dos meus pêlos que caminham do umbigo para o meu pinto que estaria dentro da sua boca e você sentiria tanta vontade de mim e de ser eu e você choraria sem saber por quê nunca seríamos o mesmo. Eu puxaria os seus cabelos mais uma vez mas não seria um puxão de dor. Seria um puxar de cabelo quase um carinho.  Como se você fosse um cachorro fêmea. Ou eu um cachorro macho. Mais macho do que era de verdade. Tanto faz. Contanto que a sua gargalhada engolisse o meu pau. As ondas sonoras emitiriam vibrações e eu seria seu sem que para isso eu tivesse que ser eu.

Depois pegaríamos a nossa ultima toalha. A única sem manchas de sangue. E nos limparíamos nela ignorantes do perigo contido nos vestígios quando esquecidos expostos demais. Você me limparia com cuidado e depois me beijaria na minha boca mas a sua língua não entraria na minha. Como culpados de um crime nunca cometido nos vestiríamos sem muito nos olhar. Ou pedir desculpas antes do soco éramos apertando as mãos antes de esquecer todo o passado. No ultimo instante em que fomos dois. O ultimo suspiro antes de um casal deixar de ser. Depois eu caminharia solteiro e você caminharia solteira. Deixando sempre um pouco de nós a cada passo. Perdendo em ti um pouco de mim sempre mais até nunca mais ser. Por quê os amores não são eternos. Nunca foram. Nunca serão.

Suas gengivas sangrarão. Eu sempre desinflarei um pouco mais a cada foda. E dormiremos por um longo tempo sob o fino manto do descanso. As doenças aumentarão enquanto o sonhos não vierem. Os sonhos nunca serão. A grossa foice do descaso afiará um pouco mais a cada dia vencido. E tolherá nossos órgãos sexuais no dia em que completarmos cinqüenta anos juntos. Então eu vou me olhar no espelho. E vou me ver, pela primeira vez, chorando baixinho e envergonhado, segurando entre as mãos o meu pau tão murcho. E eu me perguntarei sem querer saber a resposta: pq você não foi feliz? 

sábado, 4 de outubro de 2008

um pequeno suspiro sobre a nostalgia

(para M.)



 

Se há uma pergunta que gosto de fazer às pessoas com quem converso é: “Qual a paisagem que você vê quando tomado de nostalgia?” Assim como para mim, muitas pessoas, quase todas, possui uma pequena e íntima sequencia de  imagens que partiram de um terreno externo para se fixar do lado de dentro, na gaveta dos afetos. Talvez essa pequena sequencia de imagens eternas sejam as fotografias que compõem o álbum da nostalgia. Ou as ilustrações do livro íntimo de um destino.

A nostalgia difere da saudade por ser superior à ela. A nostalgia pode ser a saudade quando adulta. A saudade quando madura. As feridas quando cobertas de uma bonita cicatriz. A nostalgia é a saudade sem dor. Não inflama o peito o fogo da urgência. É mais um “nada a fazer” sobre o que está feito. Como uma paisagem que nunca será tocada. Uma beleza que se desfaz na própria beleza. A nostalgia é liquida. Feita de uma água que não mata a sede. É preciso nunca esperar da nostalgia que ela sacie. É preciso não ir com sede à ela. Não cabe à nostalgia encerrar-se.

Cabe ao nostálgico atenção e equilíbrio. Como estar no centro de uma gangorra que não pode nunca tocar o solo. Como caminhar sobre o fino fio da razão. Ao nostálgico é cobrado não se deixar cair no passado, nos afetos antigos. No lado sombrio das sensações do não agora. Ser preso de um tempo anterior implica não seguir. Atrofiar raízes. Embaçar qualquer possibilidade de visão.  Submergir-se em si. Ser passadista não diz respeito ao artista.

Cabe ao nostálgico atenção e equilíbrio. Como estar no centro de uma gangorra que não pode nunca tocar o solo. Como caminhar sobre o fino fio da emoção. Ao nostálgico é cobrado não se deixar cair no esquecimento, na higiene da alma. No lado iluminado das emoções quando feitas de um presente sem sombras. Ser preso de nada que não a matéria atual implica seguir sem saber de onde se vem. Enraizar-se no vento. Embaçar qualquer possibilidade de visão. Submergir-se na matéria. Não olhar para trás diz respeito ao não artista.

O pequeno álbum da nostalgia mostra suas páginas no ínfimo instante em que flano sobre o vazio íntimo de mim mesmo. O álbum da nostalgia não possui trancas. Nem senhas. Nem turnos. Abre-se quando esquecido. Flutua se respirado.

Quando lembro sem querer lembrar, eu sou o tempo.

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

os meses últimos foram de um profundo medo de ir me embora de vez e para sempre. cada olhar para alguém que eu amava era, de uma forma muito íntima, um pequeno adeus. quando eu desligava o telefone eu pensava que talvez nunca mais fosse escutar a sua voz. talvez por isso eu nunca tenha dito tanto que te amava.é fácil mentir na iminência da partida. talvez por isso eu evitei levar discussões para terrenos mais profundos. se habitamos o futuro o tempo de agora é um sorriso de hironia. quando estamos lá, o aqui é apenas o espaço vazio entre dois pontos. o meu corpo tremia e eu sofria pequenos espasmos no decorrer de um dia. após uma xícara de café era certo sentir o chão chegando cada vez mais perto de mim. dos meus olhos assustados. no dia da estréia da peça eu fui levado para o hospital horas antes da cortina se abrir. e eu fiquei lá. no hospital. pedindo todos os exames possíveis para estar certo de que o meu coração não estava cansado de bater. era somente eu. um pouco menos do que já fui. sem saber do quê. sem saber até quando.


aqui na cidade grande estou equalizado. os olhares vazios me ecoam e eu não sou a excessão. a vida no interior é dura para os que trazem um coração no peito. a vida no interior é triste para os que não tem fome. aqui eu me perco na massa humana e eu sou um deles. como as pessoas dessa grande cidade eu me permito esconder-me em mim. e passo a ser assim, um pouco mais eu. 

é bom não ser ninguém para todos os que estão à nossa volta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

carta aberta para F


acabei os estudos diários e agora escrevo para você. quanto tempo deve durar a nossa conversa? quanto tempo do meu dia eu tenho para escrever linhas às pessoas que amo? quantas pessoas eu amo no decorrer de um dia? 


tenho me puxado no alemão e no francês. tenho pensado muito sobre os sonhos não realizados e como esses projetos em constante espera são carmas negativos. segundo o lair ribeiro, que escreveu o texto que li e me fez pensar, morra de rir eu te conheço, ele dizia que projetos não realizados acumulam energias negativas. a saída então seria viabilizar o projeto ou desencanar dele. eu sempre quis estudar francês e alemão. então eu estudo uma hora por dia de alemão e uma hora por dia de francês. sim, cansa bastante e é bem puxado. mas as idéias precisam deixar de ser idéia para virar ação. 


eu entendo o q vc fala sobre nosso amigo que faz músicas. ele está prestes a dar uma guinada na vida dele. está vindo para sp. a música que ele faz será respeitada por pessoas que ele não conhece. ele virá de avião, ficará em hotel, comerá bem e de graça e ainda ser pago e aplaudido no final da viagem. imagina cabeça desse guri agora. ele me perguntou se precisava tirar passaporte para vir de avião do sul para sp. normal ele falar tanto de morte agora. foi o que rolou comigo. o que ainda rola quando penso nas voltas que a vida deu em mim nos últimos meses. é como se ver morrendo. ver uma parte sua indo embora para sempre. um eu que vc foi vai ficando para trás. você também se viu morrendo quando sua filha nasceu. eu sei q vc é aquariana e mãe e, portanto, a sua vida tende a ser mais prática do que a nossa. mas nós, piscianos e sem filhos, vemos o mundo pelo seu lado mais difícil e triste e lindo e intenso. não preciso te explicar o q vc já nasceu sabendo.


a vida aqui vai bem. de vez em quando eu sou a pessoa mais chata do mundo para se conviver e como é foda saber disso. hoje tudo está bem. mas tive uns dias complicados. tentando entender a dinâmica da minha casa. tentando enfrentar as burocracias do dia após o dia. tentando não deixar o amor que a gente sente virar cansaço. não deixando me secar e não deixar de ser eu. amor. conviver é um troço tão complicado para quem tem uma vida interior tão intensa. e nunca, nunca vai ser forever. se hoje o dia está bom é preciso comemorar. é sempre possível que no segundo seguinte tudo caia. e eu fico tão feliz quando o dia termina bem. quando passam as nóias por mim e quando as nóias vão embora daqui. quando eu penso que o mundo está bom e as coisas estão no lugar em que elas deveriam estar. quando o dia termina sem eu ter tido medo de não conseguir chegar ao fim dele. quando eu chego no fim de mim mesmo e consigo voltar ao começo uma outra vez.


a saudade que eu tenho de você é constante sem doer porque nos temos tão por perto. eu sou tão mais distante das pessoas daqui do que de você. ando meio sem saco para o mundo. para conversas. 


ontem fui ver um pianista eslavo. uma das peças q ele tocou tinha como inspiração os campos calmos da escandinavia e a segunda parte remetia a uma invasão de gnomos nesse campo tranquilo. foi lindo lindo lindo e eu chorei. e eu queria estar perto de ti nessas horas. pq sempre quando alguma coisa me emociona eu sou nós dois no tempo em que a gente era adolescente e sentia o mundo ser tão mais lindo do que ele era de verdade.

 

a saudade que eu tenho de ti está em um tempo que não consigo pegar. nem quero. mas para sempre, no sempre em que a saudade existir, eu estarei perto de você. e você saberá.


se sua filha começou no mundo das palavras te dizendo "pé", prepare o seu coração de mãe. prepare o seu mundo para suportar as distâncias que a sua pequena vai criar dentro dela mesma. eu quero ver grande. ela. eu. você. eu quero te ver comendo bergamotas e ela, entre uma viagem e outra, contando para nós sobre o mundo que não vivemos. e nós dois orgulhosos de tudo o que não fizemos.


aqui deve começar a chover. e eu vou para a aula de francês caminhando a pé esperando o mundo cair sobre mim e lavar os meus cabelos. 

terça-feira, 30 de setembro de 2008

os dias parecem sustos. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

os dias parecem mergulhados em sutis doses de pânico. na sala toca um vinil do pink floyd. ao lado o chá de rosas talvez seja a combustão para uma tarde inteira. ontem fomos menos um. o domingo terminou menos nós. 
hoje festejamos o ano-novo, mas estou longe da minha mãe. hoje ela não me acordou com um pequeno segredo. hoje não fomos nós dois a nossa festa íntima. pequenos segredos em campos vazios.

um cão late. será o vinil ou vem da rua?
um coração arde. será o meu ou será o fim do mundo?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

chove muito, muito forte sobre o estado. no meio da tarde, dirigindo pelo centro, por volta das duas e meia, as luzes dos postes se acenderam pq anoitecia. o relógio digital marcava duas e trinta e poucos minutos e eu pensei que o mundo talvez estivesse virando um grande buraco negro. a luz parecia estar sendo sugada pelo céu. todos os carros acenderam os faróis e eu não tive medo. um sorriso leve surgiu no canto da minha boca. se eu visse carros voando e pessoas sendo engolidas eu não teria medo pq não estaria morrendo sozinho. e eu seria testemunho de um tempo que termina. e eu não seria um testemunho solitário.
às vezes basta saber que não estou só para nada mais me assustar. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

oh happy day!

da rua volto com isso:

lou reed and velvet underground (the best of early years)
the smiths
johnny cash (american III: solitary man)
mandelsson bartholdy (a middsummer night's dream)
echo and the bunnymen (songs to learn and sing)
miles davis (miles in berlin)
dvd - beach boys - endless harmony (the beach boys story)

mittwoch! mittwoch! mittwoch!


Existem pessoas que têm uma visão epidêmica do mundo. Eu não. Na casa de cima a cabeça da vizinha estourou. A minha não vai. Tomara que não.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

hg2life




















hedonist guide to life.
www.hg2life.blogspot.com

é o endereço de um guia hedonista que estamos desenvolvendo... eu e mais alguns.

quem quiser mandar dicas hedonistas ou fazer parte do time de hedonistas blogueiros, sinta-se convidado.

Twitter Updates

    follow me on Twitter

    Seguidores