sábado, 28 de junho de 2008

era de tarde. era uma tarde de chuva. era na casa da minha avó. foi minha avó quem me criou. até os três anos o idioma era o alemão. alemão pomerone. ou apenas o pomerone. era essa a língua que eu entendia. minha avó se referia a nós, como, os alemães. "eles" eram os brasileiros. eles moravam em casas que não eram feitas de madeira. 

de vez em quando o meu avô voltava mais cedo do trabalho e me pegava no colo e ficávamos olhando para a rua ouvindo um rádio de pilha. o nome da rádio era "rádio independente AM". a rádio sempre falava nomes de pessoas mortas. eu não entendia as palavras que o locutor falava por que ele falava a língua dos brasileiros. mas eu entendia os nomes que ele dizia. às vezes, depois de algum nome, meu avô gritava para a minha avó que aquele nome tinha morrido. os passos da minha avó corriam pela casa. quando chegavam ela tinha a testa franzida ainda mais e pedia para o meu avô repetir o que ele havia dito. ele respondia na língua dos pomeranes que aquele nome havia morrido e minha avó entrava de volta para casa sem mudar a expressão da testa. 

a tarde caía do outro lado da rua. os brasileiros voltavam para casa. a novela começava e em todas as janelas de todas as casas da rua todas as cortinas trocavam de cor ao mesmo tempo. todas as luzes eram as cores da mesma emissora costurando os infinitos silêncios entre nossos diálogos. eu não entendia o que os brasileiros falavam na televisão. de vez em quando minha tia ria e eu perguntava por que ela estava rindo. mas essa não é a história que quero contar. a história das risadas da minha tia eu não vou contar agora.

era de tarde e chovia. eu estava deitado na cama da minha avó. no teto a lâmpada brilhava e as paredes ficavam amareladas. como tudo o que é memória, as paredes eram amareladas e um pouco quentes. do lado de cima do outro lado do telhado as gotas explodiam. às vezes suaves, às vezes todas ao mesmo tempo, às vezes pesadas pisando passos lentos. quando olhava para os lados a janela se escondia atrás da cortina e o pequeno retrato do casamento era uma mulher de vestido negro e um senhor de rosto sério. aqueles eram eles. mesmo não sendo. 

depois eu ainda estava deitado, mas o meu rosto estava coberto. quando abria os olhos a claridade da lâmpada atravessando a coberta eram flores de luz. embaixo dos tecidos a cama era como voltar para um lugar de onde eu nunca devesse ter partido. ou do qual nunca tenha sido expulso. olhei para o lado e minha mãe sorria debaixo da coberta deitada ao meu lado na cama da minha avó. os seus braços compridos iam até o alto e as suas mãos levantavam o tecido brilhando cada vez mais alto até que ela cansasse e soltasse o pano com força para cima de nós. e o vento gelava os nossos ossos por que éramos feitos de gelo. eu fechava os olhos e ela mantinha os lábios pressionando contra a minha testa. eu abria os olhos e eram os seus cabelos pretos ou as flores coloridas desenhadas na coberta. ela respirava e o hálito quente que saía do seu nariz penetrava nos meus cabelos e eu suava. ela apertava as minhas costelas e elas doíam, mas era bom. ela balançava o meu curpo e meu pau ficava duro, mas eu ainda não sabia. depois ela saía da cama, abria a janela e ficava olhando para a chuva. e fumava um cigarro inteiro de costas para mim.

eu acho que essa foi a minha primeira sensação de conforto.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

quando eu tinha dezessete anos eu fui embora daqui pq eu não aguentava essa cidade. o mundo no interior do rio grande do sul era grande demais para mim. eu destoava da paisagem. as pessoas me olhavam de um jeito estranho, como se me dissessem que eu não era um deles. eu nunca pertenci a essa cidade. eu nunca pertenci a ninguém. por isso as brigas atravessando as madrugadas. minha mãe chorando. meu pai tentando entender. minha irmã namorando na sala. era assim. tentávamos nos suportar. eles tentavam suportar a idéia de eu partir tão cedo. imploravam uma faculdade. um diploma. uma vida segura. 

eu ria.
e só chorava antes de dormir quando eu rezava para algum deus que me arrancasse daquela casa. que me arrancasse dessa cidade.

quando eu tinha dezesseis fugi para o rio de janeiro, mas não fiz muita coisa. andava pelo catete vendo a cidade. passei quarenta e cinco dias. o tempo que durou a minha grana. eu sempre fiz dinheiro. de um jeito ou de outro. pintava estátuas de gesso antes de as lojas de 1,99 acabarem com o artesanato. dava aulas de teatro em escolas de gente rica. com 14 anos tive carteira de trabalho assinado. profissão: professor de teatro.
quando saí de casa para procurar emprego minha mãe me desejou sorte.
quando voltei no final do dia com a proposta de começar a trabalhar na semana seguinte, ela me contou que sentiu pena de mim. ela tinha certeza de que eu teria, naquela tarde, a minha primeira decepção. ela não sabia que a primeira decepção sempre foi ela não acreditar em mim. esperando que a minha vida fosse feita de decepções. ela, como a maioria dos alemães, sempre espera pelo pior. que é para a realidade não os pegar com as calças curtas. é assim a cabeça aqui.

quando voltei do rio de janeiro as ruas dessa cidade haviam ficado menores. todos os olhares eram para rir da minha cara. a minha volta era a minha derrota e a cidade grande não havia me aceitado. ainda bem. ainda bem.

com 16 anos eu era seguidor de um guru. 
com 17 anos eu larguei a vida que não queria e entrei em um ônibus. quando cheguei em sp era noite e chovia. eu estava na rodoviária com uma mala na mão. uma mochila pesada nas costas. e um sonho bem grande era eu. a cidade parecia que não existia. a rodoviária não tinha vidros. passei a noite sentado em um banco tentando imaginar o que eu poderia fazer quando o sol aparecesse. esperei o metrô abrir. eu não tinha nenhuma pessoa para procurar em sp. nenhum telefone. nenhuma cama. havia a grana para a volta, se as coisas dessem errado.

peguei um metrô e fiquei andando na rebouças. gostei das árvores e passei alguma horas andando por lá. chovia, mas era estranho. eu não me molhava. caminhei até encontrar um hotel que coubesse no meu dinheiro. fiquei em uma espelunca no largo da batata.

eu sabia que o meu guru estava em sp selecionando atores para uma peça. eu não sabia os horários. sabia que seria em um tal de sesc consolação. parei um táxi e perguntei quanto custava para ele me levar até o sesc consolação. fechamos o preço. e eu embarquei.

quando chegamos perto do sesc ele se perdeu e ficou vagando pelas ruas da santa cecília. paramos em um farol e o meu guru atravessou a rua. ele estava atrasado e corria para a seleção de atores da peça que eu faria.

saltei do táxi e comecei a gritar no meio da rua. o guru me olhou assustado e disse para eu não tocá-lo. comecei a chorar tentando explicar o que eu fazia lá,  naquela rua, naquela cidade, vindo de tão longe. depois ele me contou que eu parecia um matador. cabeça raspada, magreza profunda e olheiras salientes. eu mataria por amor. eu mato por amor.

o guru me jogou em uma sala com mais 400 atores de são paulo. a produtora pediu o meu currículo. eu pedi-lhe papel e caneta  e inventei um currículo de mentira. escrevi coisas que não fiz. inventei peças de minha autoria. direções. atuações em clássicos. minha vida sempre foi uma grande mentira. mas eu acredito nela. e é isso o que importa.

fiz a peça. ele me viu no meio dos 400 atores e eu fiquei com ele. depois ele me escolheu entre os atores da sua companhia e fomos para a europa. o mundo era grande demais para mim, ele dizia. ele dizia que eu precisava conhecer novas paisagens. viramos a europa assim. alugamos um audi e ensaiávamos uma ópera. eu carregava o mapa e as trouchinhas da sua cocaína. era dia do meu aniversário e ninguém sabia. nem ele. naquele dia eu fiz dezoito. paramos em um acostamento e ele pediu para eu fazer mais uma carreira. eu fiz e ele cheirou. depois ele olhou para mim e disse: fique longe disso, pó é uma porcaria. 

fiz mais uma carreira para ele. o mapa da alemanha ficou cheio de farelinhos brancos. no relógio marcavam seis e quinze. a hora exata em que eu nascia. lembrei da minha mãe. lembrei do mundo tão longe. o estofado de couro daquele audi estacionado em uma autobahn. a voz rouca da lauryn hill cantando no rádio. os pingos de chuva. a cocaína. eu precisava conhecer o mundo. ele sabia disso. ele me ensinou.

obrigado meu guru. o mundo ficou menor depois que entramos na mesma vida.
faz tempo que não te vejo. não sei se vc ainda lembra das coisas que eu lembro. mas eu te agradeço hoje. tanto tempo depois. tão longe daqueles dias. fugir de casa e ganhar um pai. foi assim que eu acreditei. o mundo é grande. a pior solidão está aqui. nessa pequena cidade. na cara das pessoas. na obviedade dos seus dias. obrigado meu guru. o mundo brilhou sempre mais depois que eu parti. obrigado. 
às vezes fica um pouco complicado escrever quando uma perfeição da natureza está sentada na mesa ao lado. esse é o inconveniente de escrever em cafés. a perfeição da natureza bebe coca-cola sem ser light e come um sanduíche pesado e continua sendo a prefeição da natureza. a má alimentação não lhe tira a perfeita angulosidade dos ossos. o rosto mantém-se firme em bochechas com pouca saliência. a papada não há. para onde a perfeição da natureza empurra as toxinas da má alimentação?

ontem teve um jantar na casa dos meus pais. bebi demais. não sei como a amy aguenta. vomitando a quinta privada da casa e imundiciando o quarto todo de vômito eu só pensava "mas meu deus como a amy aguenta". e da-lhe água gelada. e dá-lhe leite quente e TODA a salada saindo da minha barriga na velocidade de um tornado. a casa virou uma nojeira. meus pais dormiam e a maldita cadela lambia toda a minha sujeira. porquinha safada. viva o sonho cadela. coma meu vômito putinha. chutei ela para o lado. mas ela mordeu meu calcanhar. peguei ela no colo e ela lambeu minha cara. triste cadela. a vida é triste. bastante. não sei como a amy aguenta.

o que acontece é que tudo demanda uma energia filha da puta. esse lance de beber e ser feliz. e sempre vem a onda braba no dia seguinte.
mas hoje a onda braba veio com mais uma remessa do submarino. speaking with trees chegou na porta de casa e a tarde foi cat power cantando em uma floresta no interior do estado de nova iorque. como eu amo essa puta. a tarde foi eu e a cadela na cama vendo cat cantar entre árvores. um dia de folga. um dia inteiro para a ressaca. para as olheiras. para esqualidez do meu corpo. vinte quilos a menos. vinte anos mais velho. três toneladas mais chato. insuportável até para mim mesmo.

eu tenho que te mandar um original do meu livro novo. mas não dá. reli o livro semana pasada com os atores do filme e ele me pareceu TAAAAAAAAAAAAO esquisito. confesso q penso todo o dia em mandar o original para vc. mas eu não acredito naquelas palavras hoje. vc espera?

bem. eu tinha idéias ótimas para escrever aqui. mas elas se foram na privada da noite passada. e ficou só uma PUTA de uma dor de cabeça.
e meus chutes não machucam. machucam muito mais a mim mesmo. quando vc chora. quando eu choro. 

a perfeição da natureza foi embora. e só ficaram as peruas. como elas riem alto. como elas são loiras falsas. onde está você? perfeição da natureza. me deixou sozinho sem um texto para escrever.

terça-feira, 24 de junho de 2008
























lá fora deve estar fazendo alguma espécie de sol, mas eu não sei. fecho as cortinas para sentir a noite menos roubada de mim. cheiros chegam da cozinha. ela faz carnes enquanto ele lê o jornal do dia. a internet traz tudo tão mais rápido do que as páginas do jornal. mas a internet não tem paulo sant'anna. a única coisa que presta no jornal que ele lê. quero ser um velho como ele. como meu pai. como paulo sant'anna. como o tonacci, cineasta de serras da desordem. como bob dylan hoje em dia.
leio miranda july antes de dormir e ela me faz querer parar com tudo para apenas ficar lendo as suas palavras compondo frases que beiram a perfeição.
chris garneau e cat power são a trilha de todos os dias para todas as horas.
chá de bugre eu bebo o dia inteiro quando estou em casa. o aquecimento sempre está ligado em 30 graus, o que me faz quase não sair do escritório. xícaras de chá e uma taça de vinho por dia. somente uma. apenas uma. é preciso se controlar sempre um pouco mais. meu filho está aqui. meu filho corre entre as minhas pernas antes de dormir. antes que eu me canse dele. ele ainda não sabe, mas eu sempre canso rápido demais.
no dvd o pai e o filho do sokurov é o presente emprestado da thereza que veio de são paulo. uma das meninas mais bonitas está comigo sempre. o pai e o filho é um poema filmado e como poema tem o seu sentido em qualquer ponto que seja visto.
queria saber de mais coisas, mas não.
queria ver mais pessoas, mas só hoje não.
queria ter mais amigos, mas eu sempre canso de tudo cedo demais.
menos de você. você me faz feliz quando aparece carregando um pouco mais na beleza a cada manhã.
os cabelos quando são cortados. as peles quando emagrecidas. os olhos quando choraram demais. ou quando ficaram secos.
no frio os meus pensamentos se processam lentos.
esses são meus dias. antes do fim.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

günter grass - heimweg - geheimnis - raveonettes 2008

é sempre na alemanha que sangro. é sempre a alemanha a terra amada. por mais que eu me impregne de latinidades e por mais que eu tente encontrar uma raíz, é nas terras distantes que ela pode germinar. aqui sou a semente. lá serei as extremidades atravessando a terra. serei um homem em berlim. nunca serei um deles.

pensamentos confusos de uma noite fria de domingo. lá fora quase neves. casamentos pomeranes. noivas de negro chorando a morta das mutiladas por senhores feudais. é preciso sempre olhar para trás. é preciso nunca esquecer de onde viemos. as brincadeiras mais ingênuas são cartões-postais correndo contra o tempo para chegar na hora certa. sempre saberemos, sem nunca entender, que as horas nunca serão exatas. nunca foram.

o chá esquenta a garganta e meu coração derrete um pouco mais a cada gole. a lareira queima na sala onde meu pai morre um pouco mais a cada noite. não adianta chorar. nunca será o bastante para reverter os fatos. a família morrendo. minha mãe dormindo um pouco mais fora de hora a cada dia. meu pai a cada noite mais insône. meus olhos querendo se fechar sempre antes do fim. o quarto está quente. o sono sempre vem. cedo ou tarde, o sono sempre virá.

sejamos eternos enquanto durarmos. 

mais um domingo. mais um domingo. mais um domingo. às vezes eu tenho dezesseis e as lâmpadas são velas desenhando as paredes do meu quarto. retrocedo três séculos para ser seu hochditsbira chamando os primos para o casamento. todas as fitas serão costuradas nos meus ombros e nossos bolsos serão o quente das mãos protegidas pelo inverno. sentirei menos frio. quebraremos a louça e eu dançarei te vendo limpar o chão de um homem que não seria eu. os véus sobre seu rosto e as mulheres da vila protegendo seus seios dos meus olhares. 

engordo-te um porco. descasco e engulo o coração cru de um quero-quero.  alisto-me em guerra contra mim mesmo. 

os galos serão rabos por ti. as vacas serão gordas por ti. os dias virão. que retrocedam as horas antes de chegar o nosso fim.

sábado, 21 de junho de 2008


















suíça café. 09:43.
nuvens sob o céu. sábado. Escrevo com cafés a história do amor em desencontro. escrevo como se o mundo fosse agora a cena de um filme. como se eu fosse um personagem estranho a mim mesmo, autor da própria obra. escrevo para desfazer a lógica. e para surpreender minhas expectativas com as letras que eu mesmo orquestro. os dias ficam mais belos quando a inspiração está por perto. 
nas mesas em volta, como em todas as mesas das pequenas cidades do sul do brasil, o silêncio só é quebrado pela mastigação de pães. poucos bebem café. no meu ouvido cat power. sempre ela. é ela que fornece  a tônica dessa narrativa que toma forma. um pouco mais a cada dia.

vamos. uma bela história começa a nascer. outra vez.
cat power esconde a falta de assunto nos cafés gaúchos. e revela paisagens que, de tão internas, quase não percebo.
o dia será lindo. que venham as horas.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

são 12 e 10 e estou na cama. acordei de madrugada com o barulho da chuva. eram cinco da manhã. o nariz corria corria corria. os pingos batendo no telhado de zinco. os cobertores subindo pela orelha. depois a fome pintando devagarinho do calor escuro das cobertas. as frutas que só devem ser comidas no café da manhã. meus pés saltitando até a cozinha para escapar do chão iglu. 

fiquei encostado na pia comendo maçã. através do vidro da janela as gotas corriam e depois desciam até a grama onde as flores estão lá, sem estar. o verde está quase todo seco pela geada que faz nas madrugadas. os dias congelam e meu coração quase não bate mais. com meus quilos se foi o desejo. com a magreza ganhei friezas. meu coração bate tão devagar. meus pensamentos são tempestades que tento controlar, sem conseguir.

a televisão da manhã tem um dos melhores programas. globo rural. o feijão valorizou esse ano. saltou de 30 reais a saca para 100 reais. os agricultores sorriem e comemoram. depois foi a vez do trabalho escravo nas fazendas do oeste paulistano. a mulher de 53 anos já no fim da vida. os adolescentes descalços que ainda não nasceram. o mundo é sempre belo debaixo dos cobertores antes do mundo acordar.

puxo o mac para a cama. descubro que meu amigo de longe também acorda antes do sol. ele me conta sobre a lua e como ela continua forte antes do sol nascer. aqui chove. imagino o que existe por cima das nuvens. ele me faz imaginar. os cartões postais podem ser imaginários. sempre vou preferir uma frase bonita à qualquer fotografia. sempre vou preferir os meus sonhos e expectativas à qualquer possibilidade real.

continuo na cama. alguém chegou em casa e a cachorra latiu. o dia deve começar. a tarde seguirá chuva e a noite será lareira. e vinho. e fome. emagrecer. sempre um pouco mais. dormir. sonhar. fugir. sempre um pouco mais. sempre mais longe. o inverno chegou finalmente. nada mais pode ser feito que não esperar.

terça-feira, 17 de junho de 2008

às vezes eu me sinto roubado. de tarde gosto de sair para sentir o sol. as árvores sempre ficam mais bonitas sob a luz do inverno. às vezes escuto rádio, mas as músicas que tocam aqui não me fazem partir. às vezes sento em um café, mas as mesas daqui são silêncios coletivos. vazios em dose dupla onde os casais sem mais assunto. gosto de sair para jantar. não aqui. onde os restaurantes são televisores e as casas de onde nunca saímos. de onde nunca sairão. os pratos entopem artérias à custa de casamentos falidos por barrigas obesas demais. às vezes eu toco o silêncio. quando a madrugada não são carros de som. às vezes eu toco o silêncio. quando observo em cada esquina um sorriso que não está mais aqui. às vezes eu toco o silêncio. quando você, para quem sempre contei minhas verdades, ficou surda sem que possa perceber. às vezes eu toco o silêncio. quando os seus lábios são tristezas. às vezes eu toco o silêncio. quando você se torna você. quando os seus medos voam para longe e ventos sem poeira trazem de volta o seu olhar. e nos furamos. e sangramos devagar. quase sem notar. como se nunca tivesse. o tempo antes de nos começar. 

sábado, 14 de junho de 2008












às vezes eu não sei por onde começar. aí eu nem começo.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

noventa e cinco e um, a rádio da univates!

Seria preciso começar falando sobre rádio. Algo sobre como e quanto o rádio teve e tem um papel na formação e transformação de uma sociedade. Também deveria se mencionar o caráter específico de cada rádio, identificar em cada tipo de rádio o seu estandarte, a sua peculiaridade e a sua missão. Rádio comercial, rádio comunitária, rádio pirata, rádio AM, rádio universitária. Cada rádio tem o seu papel em uma sociedade plural e razoavelmente bem desenvolvida. Pode se dizer isso de Lajeado. Uma sociedade plural e razoavelmente bem desenvolvida.
Se pensar sobre Rádio Universitária, é praticamente impossível dissociar o seu papel social de dentro do núcleo da sua Filosofia. Pensando em Rádio Universitária, tomo por exemplo a Rádio da Univates (FM 95.1). A UNIVATES fica em lajeado, cidade onde estou exilado por questões profissionais, algo como um mergulho no inferno.

Antes de se falar sobre rádio universitária, é importante apenas retomar as diretrizes básicas que norteiam uma Universidade. A universidade tida como o centro do saber onde têm sempre vez prioritária a discussão, a pesquisa, o exercício da ciência no estado mais puro e belo da palavra. É na universidade que se encontram concentradas as cabeças pensantes de uma sociedade. É na universidade que está o supra-sumo da inteligentsia, da vanguarda, dos olhares ao alto. Homens que pensam criticamente a estrutura social. Cabeças à frente do seu tempo. Visionários. Cientistas, na pureza e na beleza da palavra.

E temos daí, de dentro do nosso Centro do Saber, a rádio da UNIVATES. A rádio da Univates é a voz de uma Universidade tida como a melhor Universidade particular do Rio Grande do Sul. Quem sou eu para dizer o contrário? A Rádio da Univates fala por si só. Nas suas ondas se refletem os prédios de uma arquitetura higiênica, quase germânica na sua funcionalidade. Nas suas ondas a assepsia é tão visível quanto na limpeza dos corredores impecáveis e dos banheiros imaculados. É quase como se estivéssemos na casa de uma tia asseada demais. Sempre tão limpinha. Eu, que sou apenas um aluno temporário de língua alemã, posso ouvir a a rádio da Univates e comprovar, de dentro da sua estrutura física, a limpeza do local. Impecável, na limpeza.

O problema da rádio da Univates é que ela entrega o jogo. Ela é o cartão-postal para quem está de fora dela, e os cartões-postais sempre são um pouco mais bonitos do que o lugar retratado. Ou deveriam ser. A Rádio da Univates é a Univates para quem está fora dela, é propaganda vinte e quatro horas por dia no ar. O problema da rádio da Univates é que ela mostra ser justamente aquilo o que ela é. E no reino da propaganda é preciso nunca mostrar a verdade, quando ela pode não nos beneficiar.

Me distancio da Rádio da Univates para pensar em uma Rádio Universitária e na sua missão social e intelectual. Desculpe, mas não me refiro ao social como uma rádio comunitária ou uma rádio que leia notinhas sobre enchentes, me refiro à uma rádio que entenda o seu papel social na forma mais genuína. Uma rádio comprometida com o ser humano. Assim como a Universidade. Uma rádio que não entrega apenas o que aquela sociedade quer ouvir. Uma rádio que não se submete ao sistema imposto e martelado todos os dias por todos os meios de comunicação e mostra uma nova visão, única e diferenciada, de um meio cultural. Mostra o seu lado. A rádio Universitária mostra o lado da Universidade. Entenderam? A rádio sempre deve ser um pouco menos higiênica do que os seus banheiros. Um pouco mais poluída pelas cabeças pensantes. Um pouco bagunçada pelos professores que extravazam-se de dentro da sala para as ondas do rádio. Pelos alunos nerds que invadem a cabine para tocar a última versão de um Radiohead ao vivo em Glastonburry. A Rádio Universitária é o retrato vivo de uma célula social que pulsa. Ou que deveria pulsar. Pulsar como as idéias quando são acordadas pelo saber.
Onde estão os alunos da Univates? Aqueles que não concordam que a Rádio da sua Universidade seja estandarte para Armandinho, para a nova "música de trabalho do Capital Inicial", para a última da novela das 8? Onde estão os professores que aceitam ter a rádio da sua Universidade tocando sucessos populares dos anos 80 como se aquilo fosse o ápice do seu bom gosto e conhecimento histórico de música? Onde está a alma viva da Universidade? Nas ondas dessa Rádio da Univates? Espero que não. Eu teria vergonha de ser seu aluno. Imagina os meus amigos ouvindo a Rádio da universidade onde estudo e escutando "beija flor que trouxe meu amor..." Imagina a cara do professor da Univates quando ele sintoniza na "sua" rádio e ouve a Pitty cantando. Ele deve pensar que, no fundo, aquela rádio talvez não seja tão boa assim, mas é limpinha. E talvez isso já seja o bastante no país da desordem.

Onde estão os programas voltados à história músical? Quem pode nos apresentar, nem que seja nas madrugadas de segunda-feira, algo como "as raízes do psicodelismo", "o techno alemão do pós guerra", "o industrial na música"? Estranho demais? Cabeça demais? Hermético demais ? Talvez a maioria desses adjetivos devessem combinar com o pensamento de uma universidade do primeiro time. Uma universidade com alunos e professores pensantes.

Ou poderia se pensar em um programa voltado ao debate de líderes de diferentes facções acadêmicas? Ah. "Facções acadêmicas"? Será que não existem facções acadêmicas na univates? Elas dialogam? O que elas pensam? Onde elas discutem? Como elas se expressam?

Uma solução prática e urgente: a volta do "Só Sonzeira" no final dos domingos. Talvez aos poucos as coisas voltariam ao seu caminho.


Só para constar: nesse exato instante, na rádio da Univates, toca a música da Adriana Calcanhoto. Não aquela faixa conceitual de Maritmo. Nem a nova do Maré. É a música da novela mesmo. Aquela que os alunos gostam e os professores A-DO-RAM.
E, assim, o meu tempo aqui em Lajeado vai passando. E, por aqui, a tendência das coisas parece sempre tender a piorar um pouco mais. Pelo menos, nesse momento, alguém acredita estar cagando na melhor privada do estado. Pensamento positivo e bola pra frente! Essa é a ordem.

segunda-feira, 9 de junho de 2008


é tarde da manhã. a casa dorme. não existem grilos na madrugada fria.
por cima da neblina haveria uma nuvem se você estivesse aqui. a sua voz me faria menos sozinho. aqui os homens escondem de mim a máscara que me puseram. aqui estou do lado do mal. em frente a minha casa pintaram uma mancha branca no tronco de uma das árvores. não existem casualidades. apenas sinais. eternamente enviados por não sei quem e tantas vezes passados sem notar. a vida escorrendo lenta aqui nessa cidade. os homens emburrecendo mulheres em silêncios constrangedores na mesa do restaurante. a televisão passando as notícias. os comentários quase insones durante os comerciais. e eles comem tanto. tão demais. engolem o amargo do silêncio disfarçado de alimento. sofrem tanto os homens daqui. da dor de sentir-se sozinho. para sempre. abandonados de si mesmos. murchando um pouco mais a cada dia. chorando um pouco mais para longe de si. engolindo tudo o que pode ser letal. não existem casualidades. eu é que ainda não compreendo todos os sinais à minha volta. ou apenas finjo não entender para não sofrer por antecipação.
a noite está fria. e parece que vai ser longa.

domingo, 8 de junho de 2008


As noites de inverno são tristes aqui longe de tudo. Por volta das quatro da tarde o sol já não existe mais. Um nevoeiro que vem do rio encobre toda a cidade e, com ele, também se vai o pôr do sol. Quando faz claridade todos saem à rua.


Hoje o sol apareceu por volta das duas e meia da tarde. Eu, como todos os habitantes dessa pequena cidade, saí para pegar o sol. Dirigi até uma estrada deserta no meio da zona rural e fiquei ouvindo bob dylan. Quando a bateria do mp3 acabou liguei o rádio.


Por sorte eu estava no topo de uma pequena colina e por sorte o rio passava ali perto e por sorte o rádio estava sintonizado na frequência 94.9 e por sorte eu estava sozinho. como sempre. Por sorte era a ipanema fm e eu não lembrava mais que a ipanema existia e que quando eu era adolescente e estudava na unisinos era a ipanema fm que eu escutava todos os dias.


o nome do programa de tarde de domingo era algo como ipanema felicidade, apresentado por uma doce voz chamada marília. e marília tocou coisas tão bonitas e fez o domingo ficar tão mais suave com seus sons melancolimanete alegres. como uma tarde de domingo quando o sol aparece da forma mais inesperada. como as músicas quando tocam na hora certa. sempre quando nunca se espera.


é uma pena que a ipanema não pegue tão bem aqui em lajeado. é uma pena que a rádio da univates tenha colocado a sua frequência no 95.1, o que praticamente aniquila o caminho para a ipanema chegar até nós. o que praticamente aniquila a possibilidade de nossos ouvidos escutarem boa música. e assim, somos bombardeados por uma rádio universitária que de inovadora e inventiva pouco tem. uma rádio universitária que não ousa, que cumpre tão pateticamente o papel social que uma rádio comunitária deveria ter. o mal gosto acadêmico grita nos nossos ouvidos. se pelo menos esse lixo estivesse longe da ipanema fm... se pelo menos tivéssemos escolha. mas não. temos a rádio da univates. temos qualquer coisa disfarçada de inteligência. temos a melhor privada do estado. e temos uma rádio despejando cocô em nossos ouvidos.
























































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sexta-feira, 6 de junho de 2008


tenho tido sonhos estranhos e gengivas que dóem e que sangram. como quando eu era criança. sonhava com artistas famosos. fazia tempo que eu não sonhava com artistas famosos.


na noite passada eu estava na frente de uma casa para onde deveria levar uma mala de dinheiro. todos estavam armados. até mesmo o pedro bial. quando os nervos começaram a esquentar eu saí da casa e, do outro lado da rua, dylan estava indo fazer um show. eu fui falar com ele e nós corremos de mãos dadas pelo meio da rua e ele perguntou se eu veria o show daquela noite. pensei que ele fosse me convidar para ir com ele, mas ele desapareceu no meio da rua da minha casa.


pequenos rios de sangue sobre os meus dentes. isso não é sonho. isso faz parte de quando eu era criança e vomitava todos os dias. ultimamente tenho vomitado todos os dias. geralmente no banho. como quando eu era criancinha.


antes do banho geralmente eu chego em casa com muita fome. é complicado passar a tarde bebendo. depois de uma tarde no bar da rodoviária, quando o sol se põe o vinho já me derrubou. por duas vezes quase bati no poste aqui da esquina de casa.


abro a geladeira e sempre tenho vontade de comer. não sei o que vem antes. se é a vontade de comer ou a geladeira que se abre. eu sei que isso só se dá pq não estou magro e nem gordo no presente momento. quando estou muito magro eu entendo que a imagem não combina com a ação e eu desisto da geladeira para ver a novela. quando estou gordo a imagem se torna ainda mais repulsiva e eu abandono a cozinha para caminhar pela cidade e passar frio. dizem que o frio emagrece. e a magreza enobrece. então o frio enobrece também. claro que o frio enobrece. aqui tem um mendigo loiro e eu me sinto em um filme francês sempre que passo por ele. ele é jovem e loiro e belo. deve ter algum dilema existencial que o levou às ruas. existe tanto charme na sua pobreza que eu chego a me perguntar se ele não é um desses artistas plásticos contemporâneos que fazem do próprio sangue a sua obra de arte. ou algum jornalista vivendo alguma reportagem de crítica social. de qualquer forma, nenhuma das alternativas me deixa à vontade para fingir ser seu amigo e convidá-lo a um copo de vinho. una copa, como dizem aqui. sim. isso também é brasil, embora muito mais perto de montevidéo do que do rio de janeiro.


fiquei parado na frente da geladeira esperando que ela parasse de girar. fiquei ajoelhado com a cadela pulando ao meu lado. peguei-a com força e a arremessei contra a pia. ela gemeu e voltou para a poltrona da minha mãe. peguei uma linguiça, bolachas de manteiga, dois activias e um pouco de tofu. o tofu e os activias eram para neutralizar os malefícios do salame e das bolachas de manteiga.


na sala a televisão passava notícias sobre celebridades e eu pensei ter escutado o nome de bob dylan na voz de um jovem ator candidato a ator sério no horário nobre. na verdade o jovem ator candidato a galã sério era um cara muito parecido comigo. senti a mesma raiva que sempre sinto em todas as vezes que alguém se antecipa a mim e ocupa um lugar que deveria ser meu. eu sou o jovem ator sério candidato a galã clone do bob dylan. só de raiva abri uma garrafa de vinho cara. e ateei fogo à lareira. eu sabia que alguma coisa estava errada comigo. nenhum candidato a jovem ator sério galã talentoso clone de um ícone pop está enfurnado em uma cidade da fronteira do brasil com uruguai, fumando, comendo e bebendo vinho.


terminei a garrafa e larguei o prato na mesa. enquanto chegava no banheiro escutei os passos tímidos da cadela pulando no chão e estacionando em frente à mesinha. que comesse tudo. todos os meus resto eram seus. e depois que vomitasse a noite inteira. igual a mim.


tirei a roupa e fiquei pelado tremendo de frio na frente do espelho. eu não estava magro, mas ainda não era propriamente gordo. apertei as gorduras do abdomem e elas enchiam as duas mãos. e eram frias. seja gordo ou seja magro. só não seja um meio-termo. nunca seja o meio-termo. como disse deus: eu vomito os mornos.


liguei o chuveiro e peguei uma escova. coloquei bastante pasta e esfreguei os dentes com força. limpei todos os cantos da minha boca até que o gosto da linguiça desaparecesse. depois virei a escova e pressionei o seu cabo contra a garganta. uma pressão subiu pelo abdomem e fez com que me curvasse. a água escorria pelo ralo e o chão estava tão perto de mim. um gosto de sangue azedo na boca e eu engoli quatro goles da água quente do chuveiro e, antes que a água chegasse ao estômago, um golpe certeiro da escova contra a garganta fez um jato de água marrom e vermelha tingir de colorido os azulejos do chão. pequenos pedaços de linguiça boiavam. alguns descansavam sobre as unhas dos meus pés. cuspi mais algumas gotas de sangue e tive vontade de chorar. eu não era mais o jovem ator galã promissor clone de um ícone pop. eu teria que vomitar muito vinho com linguiça para chegar aonde eu precisava chegar.


eu teria que saber para onde estava indo se queria chegar em algum lugar. no meio disso eu acho que desmaiei. ou só não lembro mais. ou a história perdeu a graça. tem dias em que não estamos inspirados. não adianta forçar.
ps - a foto foi a jordana fez lá na ceva 20 e ela sempre está inspirada.

terça-feira, 3 de junho de 2008


poderia ser tanta coisa para te dizer. fico tentando imaginar do que se fazem os textos que escrevo. fico tentando descobrir quando foi que os meus dias se tornaram um refúgio. um eterno retiro. a procura de um pequeno esplendor que coroe o final de cada tarde. sempre sozinho. cada vez mais em silêncio. tão longe que até eu mesmo corra o risco de me perder de mim.


sonhei com viagens a noite inteira. a cada novo sonho o meu mote era sempre o mesmo: a iminência de uma viagem. 


de uns tempos para cá a minha voz tem sido ouvida. os meus textos, subitamente, começaram a ser lidos embora as minhas idéias ainda não tenham começado a tomar a projeção que espero, um dia, elas tomem. continuo mudando tanto de idéia o tempo todo. o engraçado é que quanto mais as minhas idéias se transformam, mais os meus conceitos se solidificam. conceitos antigos, que eu pregava há tanto tempo e que, de uns tempos para cá, vinham me parecendo tão superficiais voltaram a ser fundamentais para mim. se o significado para o tempo seja mudar o tempo todo, então voltar ao que é superficial pode ser uma parte decisiva do processo. uma rota sempre necessária à jornada. se os tempos são a mudança, pensamentos quase infantis e adolescentes no seu ímpeto de ser eterno, a mudança também pede um retrocesso tanto no pensar quanto no agir. trazer à carne o significado dos conceitos para não perder-se em abstrações. ou voltar a um ponto inicial. 


nenhuma visita nunca será idêntica à outra. pelo simples fato de a visita anterior ter sido um fator decisivo à mudança que virá para a próxima. a visita me transforma e querer reviver o passado é lutar contra o ato de viver. morte, portanto.


se o tempo é mudança, mudança é quase certo que seja apenas mais um significado para estar vivo.


um passado ancestral recomeça, pouco à pouco, a se materializar na minha cabeça. como usar o termo "recomeçar" se nada começa duas vezes do mesmo jeito que foi? lembro de quando os meus avós se referiam à “há vinte anos atrás...". vinte anos atrás parecia ser tanto tempo há tão pouco tempo atrás. muito mais tempo do que o meu na terra até então. envelhecer é redimensionalizar não apenas o espaço, mas muito mais o tempo. envelhecer é reaprender as dimensões do pensamento que nunca pára de crescer. como o adolescente que não sabe o que fazer com as extremidades, cada vez mais distantes de si, esbarrando pela casa, tropeçando na mobília. assim somos nós vivendo. tentando entender a direção para onde nosso pensamento segue. o espaço que expandir o entendimento, nos toma. vamos levando os dias tentando encontrar algum equilíbrio sem perceber que o equilíbrio não está em nenhum outro lugar, senão na sua própria procura. se perceber assim implica cair no precipício. é preciso prestar atenção à paisagem antes da queda.


"ou o buraco era muito fundo ou ela estava caindo muito devagar..."  


o corpo celestial de onde vem o pensamento cresce dentro de um corpo físico que mingua. os braços cansam. os órgão esfriam. a noite sempre vem. mas eu sei que, se ultrapassar a próxima arrebentação, talvez um oceano de calma prometa me fazer repousar por algum tempo. um tempo de morte, avesso às mudanças. se mudar o tempo todo é estar vivo, talvez a eterna repetição seja morrer. do outro lado do mar existe, ou pode existir, uma europa. ou uma áfrica. os braços precisam ser fortes e as velas bem esticadas para dominar a direção do barco independente do vento. as correntes e os vendavais estão no mar aberto e atingir o porto indesejado é mais fácil do que se imagina. 


para onde estamos indo? às vezes é importante se fazer certas perguntas. principalmente quando as suas respostas são tão distantes. quase inexistentes. nada saber, simplesmente para constatar cada pequena descoberta.

















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segunda-feira, 2 de junho de 2008

luz silenciosa





o rosto das pessoas. as mães. os casais de namorados em silêncio. a comemoração vazia.
ontem, no fim da tarde, a festa em arroio do meio da gincana the horse era a continuação desse filme que me arrebentou por dentro.

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