domingo, 31 de maio de 2009

Há uma certa sabedoria na rotina da semana. Desde que me permiti fazer nada referente a trabalho no sábado e no domingo,  os dias úteis têm sido bem melhor aproveitados.

Ontem de noite revi dois filmes que já haviam passado por mim há algum tempo. O Espelho, do Tarkovsky e 2001, do Kubrick. O Espelho é uma versão de Os Famosos e os Duendes da Morte. Falo isso sem  nenhum medo. De nada. Falamos sobre o mesmo tema de uma forma muito parecida. Dadas as devidas proporções de genialidade. O fascínio sobre a memória é o mesmo. Os espelhos perdidos no nosso passado. Um presente que nunca saberemos situar. Apesar de eu não ter sugerido O Espelho para o diretor, os filmes acabaram dialogando inconscientemente. Inconscientemente é como a maior parte dos nossos diálogos têm se dado. E isso é bom. Talvez seja o primeiro passo para a profunda amizade. Percepção e vontade.

Nesse fim de semana as vontades têm me traído. Tenho sido mais eu do que eu podia imaginar que um dia seria.

E eu não sei o que isso quer dizer.

Meu telefone esteve ligado o tempo inteiro.  Menos durante a madrugada.

Alguém me ligou no meio da madrugada e eu não estava aqui para atender. Mas isso não importa. Na madrugada que passou alguém perdeu a ultima das ilusões. Na madrugada passada você se cobrou fazer algo interessante por ser uma noite de sábado. Você ainda não entendeu que o interessante sempre chega sem avisar. Quando você menos espera. O interessante exige meias sujas e cuecas suadas. A preservação dos nossos feronômios é dos segredos que melhor sabemos guardar.

Nesse fim de semana as vontades têm se acalmado. Tenho sido mais eu do que eu podia imaginar que um dia seria.

Meu telefone esteve ligado o tempo inteiro. Menos durante a manhã de domingo.

O segundo filme foi 2001. Tem alguma coisa para falar a respeito? O obvio é obvio e por isso ele não é nada alem de obvio. Obviamente bom. Obviamente genial. Obviamente retrato fiel de tudo o que a gente acredita que vai acontecer. Aconteceu. Acontecerá. Se você já leu Os Famosos e os Duendes da Morte, entenderá o que estou falando.

Amanhã eles virão buscar a vitrola. Depois de todos os sons terem quebrado em menos de uma semana (pós praia), só sobrou a vitrola. E a vitrola, metida que é, resolveu ser temperamental. Ela, que sempre tocou qualquer disco. Que nunca me enfiava em nóia por repetição (principalmente quando tocava Pink Floyd), agora resolveu trancar. A agulha começou a correr pelo vinil sem respeitar a ordem de cada faixa. Enfim. A vitrola resolveu se comportar como uma dama difícil de ser pega. Maldita. Passamos a semana inteira entre brigas e amores. Ela negou tocar o “Cantar”, da Gal. Mas tocou bonitinha o “Blonde on Blonde”. De cabo a rabo. Toda metida. Ela também não tocou aquele disco do Caetano, do Exílio. O que ele está com peles  na capa. Mas o “Revolver” ela tocou lindamente. Cat Power ela aceitou tocar Angelitos Negros. Depois ficou parando. Enfim. O resultado é que, na sexta, decidi mandá-la para o conserto.

Os caras da assistência disseram que viriam pegá-la na segunda-feira.  Disse que queria trocar a agulha, arrumar a saída de uma das caixas e, se possível, trocar os alto falantes das caixas de som.  Agendado horário e dia do resgate, abandonei a vitrola estragada para ouvir fone de ouvido no computador.

Ontem de noite.  Filmes. Vinhos. Queijos. Tapete e cobertor. Frio do lado de fora da janela. Vitrola tocando tudo. Vitrola negando pela segunda vez “Barato Total”. Tudo bem, pensei eu. Vamos de Carpenters, aquele que você me deu de aniversário. E foi de Carpenters. Depois tocou mais um Beatles, e Sad Eyed Lady of the Lowlands sem nem trancar uma única vez.

Amanhã ela vai para o conserto. Vão trocar a agulha, arrumar a saída da caixa de som e trocar os alto-falantes. Se possível a fiação também.

Hoje, durante a organização pratica da casa para a semana, ela tocou os dois lados dos dois discos do Fa-Tal.  Duas vezes.

Agora é noite de domingo. Amanhã ela vai embora daqui. E agora roda o Transa com uma limpeza de dar inveja.

É mais ou menos sobre isso que fala 2001. Sobre a inteligência das coisas que agem.

sábado, 30 de maio de 2009

A casa está vazia. Cat Power is speaking for trees on the TV. Alguém acorda. Abre a porta e um sorriso brota por trás de olhos cansados. Diz: que delícia ouvir isso. Depois entra no banheiro. E eu continuo mais um pouco. Os grilos dentro da televisão. A guitarra procurando a próxima canção e agora eu lembro que sonhei com o Morro Gaúcho. Eu queria que o Morro Gaúcho fosse no fim da avenida Paulista. A cidade ideal. 

 Agora você vive na cidade onde os meninos tremem de medo no ponto de ônibus. Agora você ainda espera uma van que não sabe nada sobre você. Agora você ainda é a louca que atravessa a cidade carregando uma árvore nas mãos. Aproveite antes que termine. A pior das perdas é o fim dos medos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Agora estamos, lentamente, adentrando o lado B. A agulha está gasta e pode se romper a qualquer momento. As faixas saltam. Gritam. Cortam. E eu lembro de quando eu acreditava que, se me concentrasse bastante, a agulha flutuaria sobre o vinil com a suavidade de um laser que ainda nem existia. Mais intensamente do que antes, o nosso lado A era a limpeza que não temos mais. Estamos cansados. Mordidos pelo vírus da grande cidade. Do outro lado da janela eu continuo lá. Na pequena praia esquecida.
O disco tranca beirando a paranóia e eu recebo a ligação de uma pessoa conhecida. Essa pessoa esclarece tudo. Fala que o mundo é uma bobagem e que a auto preservação é o segredo para a permanência. O mais importante é que ninguém saiba o meu nome. 

Hora de voltar para dentro da casa. De fechar as cortinas que não existem. De desmontar o cenário que não construí. Sinto coisas assim algumas vezes na minha vida. Sempre, depois de algum pequeno surto de empolgação, vem um balde de água fria. E, quando vem um balde de água fria, as pessoas se encolhem e paralisam. Eu, quando recebo um banho de água fria, abro os braços e me preparo para um vigoroso banho tonificante. E grito com força expulsando os demônios. Cada banho de água fria é um respiro. É a vida me oferecendo novas dimensões. Novas possibilidades de adaptação. Comer pelas beiradas é sempre mais interessante. Analisar o tamanho do prato antes de dar a primeira garfada. Entender as proporções de um âmbito mais geral. Eu sou a pessoa mais otimista do universo.
Ainda temos a tarde inteira. As conexões sempre se fecharão muito mais depressa do que você poderá imaginar. Os mistérios se constroem para que se rompam. Recobrar o mistério é tarefa para fenômenos. 
A agulha deve estar quebrada mesmo. O som não pára de trancar. Fones de ouvido e Nelo. Nelo foi feito para ouvir no fone de ouvido do seu computador enquanto você bebe uma cerveja, fuma um cigarro e escreve um texto para o blogue. O grau máximo da superexposição é você quem define. A chuva trouxe a promessa de pequeninos dias de conforto. Meu corpo, aos poucos, vai entendendo que os prazeres passarão a ser cada vez mais internos. Dez dias de mar trouxeram uma onda que ainda surfo. Ontem, voltando para casa, me perguntava até onde essa onda de positividade vai me levar. Aos poucos as águas vão ficando mais paradas e meus braços se sentem obrigados a fazer uma força que o meu pensamento ainda não assimilou. 
Por outro lado, é preciso maestria para controlar os vendavais de pensamentos desencontrados. Deve ser por que agora toca Beatles. E a agulha corre suave. Deve ser o lado A de Revólver. Here, there and everywhere. E a voz do Paul dá de dez na do Lennon.
Mas no fim de tudo teve o seu texto. O seu texto foi a certeza do que ontem ousei acreditar: é você quem manterá teso o arco da promessa.
Você entende o silencio de Bob Dylan, dos coiotes e de uma camisa xadrez.






































terça-feira, 26 de maio de 2009

como carla bruni em uma noite de verão


















Tal qual a arte do casamento é reinvenção, a arte do autor é reescrever.

 

Agora a praia que me espera no meio da tarde é um quadrado de pele, a janela aberta ou a televisão. Os sons estão todos quebrados. Só sobrou a vitrola.

Meus pés correndo sobre a baleia. Os olhos descansando na barra. A ilha de cabeça para baixo cinco minutos sem parar. As casas escorregando pelas colinas. A prancha. Os brothers. A Gal. Novos Baianos. Vida de praia dez dias sem pensar. Os bancos de areia formando espelhos. A vontade de chorar a cada passo deixado sobre a areia grossa da Barra do Sahy. o chão engolindo pés.

A simplicidade é o grau máximo da sofisticação. Sahy é Da Vinci. Michelangelo. Qualquer coisa que tenha encostado na mão de deus.

 

No sahy eu sou as mãos para deus.

 

Quando anoitece tem peixe com cheiro de mar em cima da pia da cozinha. Tem limão espremendo e azeite separando. E a gente sorri quando abre a  garrafa de vinho. As primeiras canções sempre são as melhores. Lubrificadas pelo prazer do entendimento três goles antes do fim das terras sóbrias. As primeiras canções são Carla Bruni sussurrando em Francês para um garoto de dezesseis anos em uma casa de verão.

Depois as cebolas despedaçando lágrimas.




Aqui na cidade são pessoas onde quer que esteja. Ruídos externos sangrando os ouvidos. Estragos internos que não se manifestam. Estragos internos podem ser tumores.  Tumores podem não ser estragos internos. Eu não sei qual é o preço do cigarro.

Depois. Madrugada na praia:

Choradeira na beira do mar. Desespero na areia do caminho. Lama brotando em todas as poças e a exposição sempre transcende os seus limites.




Agora preciso parar de brincar com você e voltar pro trabalho. Tchau.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

letter to hermione

any
estou eu aqui.... vagando a tarde... pensando pensando pensando. reescrevendo o livro para o minc. a primeira parte estava muito tatibitati. odeio esse expressão, mas foi a única coisa que consegui pensar para definir essa primeira parte. sabe quando você reconhece fragmentos de um outro texto contaminando a história seguinte? sabe quando você precisa eliminar qualquer vestígios de uma história anterior? estou falando sobre amores. sobre cada um no seu quadrado.

aqui nessa cidade louca tenho vizinhos que estão muito mais perto do que eu poderia imaginar. esse seria um email para você. todos nós estamos muito mais expostos do que jamais pudemos imaginar. eu não sei quem lê as coisas que escrevo. nunca saberei. eu não sei quem vê os meus olhos do outro lado da janela. prefiro não saber. aqui nessa cidade louca os olhos são muito mais espertos do que os seus. não falo dos seus olhos. falo dos olhares que mandam para você.

um dia vou escrever um livro falando sobre os olhares de lajeado. sobre como os olhares de lajeado olham para dentro de nós. até quando vamos viver acreditando que são eles os culpados de todas as nossas culpas? quanto ainda precisaremos viver para reconhecer em cada olhar de lajeado um longo, profundo e doloroso olhar para dentro de si. a culpa não é deles. eles, coitados, não podem enxergar a beleza com a intensidade que nós ousamos. nós ousamos por que sabemos partir. eles não. os condenados a ser lajeado precisam cautela para não enlouquecer dentro de si, olhando para fora.

tudo é meio assim. e eu sigo acreditando que a sabedoria da torneira estragada é ser uma gota de cada vez.





















Se perder na poesia é caminho sem volta e eu nunca tive medo de me perder. Vou observando a paisagem e aceito pegar atalhos, mesmo que eles prolonguem infinitamente a distancia entre o que sou e o que serei. Para os que acreditam no tarô, existem cartas que explicam todos os sentimentos humanos. Sempre haverá uma explicação, onde quer que seja, para aqueles que precisam saber. Na vitrola toca Tina Turner. O ano do lançamento do disco é 1986 e eu tento entender quem era eu em 1986. Existimos em 1986? A pequena coleção de discos na parte de baixo da prateleira tem a exata dimensão dos álbuns de fotografias que só herdaremos quando eles morrerem. Quando a casa que antes habitamos se tornar o incomodo. O motivo de brigas. A vida real finalmente batendo na porta dos fundos. Sempre conheci todos os esconderijos da estrada. Sempre serei o fio sobre a ponta de cada pedra. Esperando pelo pior.. O frio gotejando o verde de cada pasto. Esperando pelo pior. O orvalho sangrando lento. Esperando pelo pior. O lado negro de um paraíso. Tenho medo de me perder nas poesias. O atalho delas é longo demais para a agilidade das minhas pernas de jogador de futebol.

Mais importante é ainda ter para onde voltar.


aos poucos vou voltando.
na sala rola um paul. 
agulha sobre a poeira.

aos poucos vou voltando.
ruídos no banheiro.
você escova os dentes.

aos poucos vou voltando.
os pratos. os garfos. nossas bocas manchando copos.
a sabedoria da torneira é ser um pingo de cada vez.


quarta-feira, 13 de maio de 2009

eu sou a vida que você teve medo de sonhar

(they're. they're. they're not)



















O dia nasce em são Paulo e mais uma vez faço as malas para ir embora. Os poucos dias aqui serviram para me fazer querer ficar cada vez mais dentro da minha casa. Quase fui atropelado em todas as vezes que saí de casa. Essa cidade não foi feita para os distraídos. Os rapazes são espertos e, em cada esquina, tem alguém querendo tirar alguma coisa que não lhe pertence. Eu não pertenço mais aqui. São Paulo virou o antigo.  Tirando as salas de cinema, qualquer lugar do mundo tem atrativos mais interessantes.

Aí você sempre me pergunta “mas da onde você tira dinheiro para tanta viagem” e você não entende que eu não faço viagens para descansar. Eu viajo para escrever os textos que importam. De uma forma ou de outra eu viajo para ganhar dinheiro. Por mais estranho que isso possa parecer. São Paulo alimenta o blogue. Alimenta a cinefilia. Alimenta conhecer algumas pessoas e vender o que encontrei longe daqui. Aqui não brotam histórias. Não se concluem argumentos. Não fomentam apostas sobre formas inusitadas de se escrever. Aqui é sempre o obvio. O caos disfarçado de exótico. A sujeira disfarçada de pitoresco. O preconceito disfarçado de braços abertos depois da décima rodada de cerveja. Depois da décima rodada de cerveja as pessoas se tornam agressivas e as verdades mais feias escapam das bocas de todas as pessoas que um dia se amaram. Eu não sou diferente de nada do que existe aqui. Por isso quero ir embora. Acabou-se o tempo em que eu assistia sem participar. Acabou-se a idade pequena.

Mas falo o que quiser dessa cidade. Ela tem os meus amigos e tem conversas que fluem. Aqui as mesas são em alto som. Aí. Pobre de mim quando estou aí. Aí as mesas ecoam o vazio da vida das pessoas. Ninguém fala nada. Todos se olham e eu me sinto um cara estranho no meio de tantas pessoas que apenas olham. Olham. Olham. Passam o dia dedicados a enxergar apenas o que está por fora. Apenas aquilo que não diz respeito a si mesmo. Tenho pena das pessoas que precisam ficar aí. Em Lajeado. Mas não vou falar mal. Cada cidade tem os próprios encantos. Cada cidade sabe exatamente o motivo de ser do jeito que é. Eu que não devia esperar tanto do meio. Eu deveria saber me preservar de tudo o que está fora. Ousar nem mesmo perceber os olhares de todas as mesas à nossa volta.

Esse post é só para dizer que estou indo embora com os filmes mais incríveis que a Thereza selecionou. Vou levar uma mala carregada de DVD’s. Filmes sempre nos inspiram nos momentos de retiro. Queria explorar as ilhas dentro do mar. Aquelas tres ilhas que passam todas as tardes flutuando bem na nossa frente enquanto ficamos deitados na areia hipnotizados pelo movimento das ondas que quase não existe.

Faz sol na grande cidade. À noite não estaremos mais aqui. Não sabemos quando voltaremos. Toda a viagem implica a possibilidade de nunca mais voltar. Cada viagem é mais uma capa que nos disfarça do que fomos para aqueles que ficaram. Desculpe se o que escrevo te obriga a sempre reler. Desculpa se o que escrevo não faz parte dos seus interesses. Desculpa se a minha vida te inveja. É o que sempre quis. 



terça-feira, 12 de maio de 2009

{passo do corvo[arroio do meio]}











“Mas  vocês são pessoas legais”, eu disse para meus vizinhos depois de um tempo falando ao telefone. De vez em quando eles contam sobre o que faço. Mas nem tudo pode ser dito através da verdade. Eu também sei coisas sobre eles. De vez em quando eles almoçam na mesa de reuniões e eles parecem um pouco tristes. Do outro lado do pé de ameixa há uma profusão de vontades. De sonhos que se materializam. De olhares que não se cruzam.

Do outro lado da janela há um mundo real me dizendo que a vida caminha para algum ponto que não está aqui. Do lado de dentro da minha janela eu congelo o tempo. Quando estou cansado do barulho da geladeira ligo o som. Mas à medida que meus pensamentos não encontram descanso, vou aumentando a música para abafar qualquer vestígio de uma voz interna que eu não quero escutar.

Quando a tarde chega ao fim meu corpo pede um movimento e eu danço hipnotizado por objetos de decoração da sala de estar. Depois me sinto um pouco ridículo, e volto às letras.  Eles  observam meu transe e ousam se contaminar por ele. Eles querem me chamar, mas ainda não sabem o meu nome. Eu gosto deles. São como peixes dentro de um aquário, os meus vizinhos. Eles gostam de mim. Sou como um peixe dentro de um aquário, o vizinho.

Às vezes o dia passa devagar e, quando é assim, é por que ninguém apareceu do outro lado da janela para brincar comigo. Basta entreter-me para que eu seja a melhor das companhias.

 

(Eu só não queria nunca mais ter que beber sozinho dentro de casa no meio de uma tarde de sol de um dia útil. Nem despejar mentiras sobre meu teclado. Ele não tem culpa. Meus dedos sempre mentiram por mim.)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Na vitrola um disco toca muito mais lento do que a rotação normal. Os sons distorcidos fazem novos sentidos. O tempo anda mais devagar. A voz da cantora mais límpida dentro de cada segundo dilatado pela agulha. A agulha está longe do meu corpo. Até quando as agulhas estarão longe do meu corpo?

No teto um mosquito bate as asas tentando atravessar o concreto. A raiz dos meus cabelos coça. Eles pedem água. Meus dedos gritam por um descanso. Ou por golpes mais precisos. As articulações são mais frágeis quando pegas de surpresa. Do outro lado da janela eles olham para mim. E eu nunca saberei a força do inimigo que me espera.

Mas quando Gal roda eu sou o selvagem que levanta o braço, abre a mão e tira um caju. A Tuane entra no posto faleiro para comprar uma Coca Cola. Ainda existem momentos de grande amor.

A Tuane ainda não foi embora, não tem como saber tudo o que ela é capaz de esperar. Não tem como predizer nada sobre ninguém. Só que um dia tu ta com a cara esfolada na merda e no outro tu até consegue abrir a torneira e se olhar no fundo dos olhos. No outro você já ousa sentir as gotas fazerem cócegas em seu rosto. O mundo já nos deu trabalho demais. Podemos passar horas apenas sentindo a água escorrer e depois secar naturalmente sobre a pele. Tanto faz se foi choro ou se foi chuva.  Cicatrizamos cedo demais. Aprendemos a não esperar e, por isso, termos em nós todo o tempo do mundo. Toda a urgência e toda a calma do mundo.

Hoje é noite de lua cheia. Ela nasce atrás dos prédios e eu visito um lugar antigo pela primeira vez. Talvez pela primeira vez eu veja nitidamente o passado dentro de mim, sem ter nenhuma vontade de voltar até ele. Basta que eu fique um pouco quieto. Ou que execute repetições infinitas sobre um mesmo gesto. Quem sabe os dedos.

Baby’s on fire. Não importa o que escutamos juntos pela primeira vez. Dirija suas lentes para onde quer que seja. Mas nunca se esqueça de que o filtro ainda está em você.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

sobre não comemorar. ou delete qualquer comentário antes de fazer.



























Talvez a maior das loucuras seja ter que suportar o silêncio. Ser obrigado a ele. A sala está quase escura. A vitrola está desligada. A geladeira e a moto que acaba de atravessar a noite. De tempos em tempos o ar entra pela janela. A luz verde da luminária pisca e um dia teremos que trocá-la. Um dia iremos embora desse apartamento. Um dia passaremos sozinhos por essa rua onde hoje eu passo todos os dias. Abriremos a janela e lembraremos dos dias de hoje. E vai doer. Mas não tanto assim. Talvez o mundo pare de doer quando o tempo passar. Sentir saudades do agora. Às vezes isto é complicado demais. Eu sei que não se pode escrever sobre o olho do furacão estando no centro dele. Mas, de vez em quando, é preciso tentar. 
O silêncio continua na casa. Estou mais calmo.
A cidade é grande. Grande demais. E às vezes seus ruídos beiram o insuportável. Motocicletas pequenininhas. Carrinhos freando assustados. Buzinas e latidos ridículos. A lua brilhando forte. Você viu como ela está? Conversava sobre a lua. Sobre a via-lactea. E eu senti saudade de casa. É que agora eu só trocaria tudo por uma banda na ceva 20. O vento do começo do inverno trazendo os primeiros frios. O faróis refletindo o milho seco. A terra evaporando cada vez mais. A chuva que nunca mais ameaçou. Venho de uma terra que sangra. Não vamos conversar sobre a lua em um café na Vila Madalena. Às vezes o mundo se torna óbvio demais. A vida, longe de casa, é obvia demais. Mas eu agüento. Só mais um pouco eu vou agüentar. Daqui a pouco volto a viver um sonho outra vez. Não me acorde. Não faça barulho onde o mundo descansa em paz.
Eu vou dar um jeito. Eu vou dar um jeito. Eu vou ver a vida do lado certo. Mentalizo frases dentro da minha cabeça e eu vou concertar a nossa casa. Vou reparar o nosso telhado e vou varrer, todos os dias, bem cedo, as folhas que caíram no jardim. Há um mundo de minhocas acontecendo debaixo dos nossos pés. O primeiro sol da manhã é o que me faz lembrar das noites em claro. Da angustia feliz de ver o dia começar. A natureza entrega as chaves de graça. Da forma mais obvia. E ainda tem gente que não se dá ao trabalho de entender. Eu quero ser um cara melhor. Eu quero ser um cara melhor. Eu quero ser um cara melhor.
Em noite de lua cheia temos palavras mais bonitas. Temos picas mais duras. Quase não existe medo. Talvez seja hiv. Talvez hemofilia. Eu não sei por que seus olhos ficaram brancos. De vez em quando você chora, eu sinto saudade. Sinto agora a saudade que eu vou sentir. A gente faz o que pode para que nada saia do planejado. 
Hoje saiu. Hoje saiu a cartela oposta à de ontem. É foda, mas por mais que a gente se prepare, a vida SEMPRE vai pegar a gente de surpresa.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

la ventana.


























A janela da minha casa é um triste teatro que represento para ninguém. Ao contrario dos meus dias. Estranha essa tendência constante de sempre ver o pior dentro do que quer que aconteça. Por mais que a gente pense o contrario, sempre prevemos o pior. Somos nós dois. Nós tres. Quantos compactuam sobre um mesmo mal?

As janelas do outro lado da minha estão acesas e, de tempos em tempos, um rosto surge para reportar aos outros tudo o que estou fazendo. É chique usar roupas douradas numa tarde de sol? Pensamentos anti-tropicalistas e sentimentos opostos ao sexo me despertam a janela acesa do outro lado do meu terreno. Reportem o que não acontece. Difundam o que nunca existiu. Cedo ou tarde vocês saberão.

Agora eu estou de costas para eles. Desculpe se o que escrevo te prende. Desculpe se o que te escrevo te influencia no que você escreve. Desculpe se você nunca souber para quem estou falando. Existem pessoas à nossa volta. Você já reparou? Do outro lado da janela, atrás das minhas costas, eles tecem observações precisas sobre o que não sou.

Grandes. Gigantescas epifanias esperam por mim.

terça-feira, 5 de maio de 2009

como agora. só que vinte anos antes.













É mais ou menos assim. Os caras têm filhos. Depois passam a vida falando nisso. É mais ou menos assim. Meus amigos estão tendo filhos e eu me vejo obrigado a pensar em coisas sobre as quais não estou preparado. Eles dizem que ninguém nunca está. No meio disso tudo eu me vejo meio filho dos meus amigos que são pais. Se eu tiver que escolher um lado, nunca será o deles. Os filhos sempre estão certos.  Eu defendo tudo o que uma criança deseja.

O café está um pouco mais amargo hoje. Os dias têm sido sonâmbulos. Pesadelos brotam de gestos simples. E eu sei que nenhum gesto é simples. Isso que é o foda. Saber que nada é só aquilo que é. O copo sobre a mesa de cabeceira não é mais só o seu copo sobre a mesa da cabeceira. Talvez você acorde no meio da noite. Talvez eu fale com você. Talvez você acredite nas coisas que eu te diga. Quando amanhece eu nunca lembro de nada. São os outros que escrevem a minha memória. É complicado ser assim. Nem Radiohead – quem vai descobrir o nome do disco?

Estou sentado em uma mesa pequena. Em um lugar pequeno. Em um bairro pequeno da maior de todas as cidades. Nos ouvidos toca Violent Femmes. É só o que tem tocado ultimamente. Ultimamente tenho escutado muita musica. Qualquer coisa. O café está ruim. Amargo demais. Eu não gosto desse lugar mas eu venho por que é o lugar mais sujo e mais perto da minha casa. Em vizinhanças esnobes o podre precisa ser estimulado. Conte comigo para fazer a sua parte.

Hoje um amigo escreveu sobre uma flor específica que lembra o seu grande amor. um amor que morreu em uma dessas manhãs de maio. Ontem eu pensei na possível morte de um amor. Na morte física de um amor. Meu corpo foi o primeiro a reagir. Dor no peito. Braços enrijecidos e garganta apertada. Te abracei, mas você não sentia o mesmo. As palavras de hoje em seu blogue são como flores novas sobre um livro escrito há tanto tempo atrás. Primaveras sobre Risco de Vida. Talvez tenha sido isso o que me fez chorar.

  

segunda-feira, 4 de maio de 2009

para uma segunda-feira sem sol











Uma carne cozinha na panela. Uma garrafa de vinho está aberta sobre a bancada da cozinha. A louça está lavada e a torneira pinga em intervalos regulares de tempo. Não sei se ficarei sozinho na casa.

Sim. Eu ficarei sozinho. Comerei sozinho. Dançarei sozinho e fumarei sozinho olhando para a cidade do outro lado da janela. Agora eu ligo para você.

É que basta simplesmente se acabar num sábado à noite para que a semana inteira encontre algum sentido para continuar existindo. Hoje fui dormir às sete da manhã. O nariz intacto e o estômago livre de destilados. O vinho veio da serra onde fomos felizes. O vinho da menina da boca bonita e todas as meninas aqui descritas são exatamente o oposto daquilo que elas representam.

Estava tenso, agora não estou mais. Despejei verdades sobre meu MSN. Lide com elas agora que estamos longe. Agora que não existem estradas que liguem nossas portas. Estamos separados por fusos horários. Nada pode ser mais cruel.

Penso nos lugares com os quais não posso me comunicar agora. Na esquina da agencia do Banco do Brasil de Arroio do Meio. Quem estará lá? Nosso tempo estará para sempre aprisionado em calçadas limpas. Ou em ervas daninhas que crescem entre os paralelepípedos da rua onde ousamos crescer. (acordo e encontro o arquivo aberto) Penso nos adolescentes das cidades paulistanas onde agora existe toque de recolher. O juiz de trinta anos usando a bíblia para justificar proibições. O livro das castrações. Proibições. O livro do não fazer. Penso em Lajeado. Nos envolvidos em crimes neo-nazistas. Nas escolas que derrubam arvores centenárias. Nos adolescentes fumando craque no parque dos Dick. Às vezes é só segunda-feira e talvez eu deveria ter ficado mais tempo na cama.

Os vizinhos falam alto e, para eles, o mundo ainda tem alguma importância. Ligo o som para ouvir cantoras de voz suave (Anya Marina, Carla Bruni, Au Revoir Simone). Cat Power não. Apesar de suave, sua voz escorre sangue de pulsos prestes a serem cortados. Agora é Gal. Sempre repetindo “Dê Um Rolê”. E é assim que vai ser. Daqui a pouco vou pegar a rua com o computador pendurado nas costas e com a cabeça vazia para a correção das primeiras trinta paginas do novo livro. Todas as correções aumentam os significados e um gesto descrito quase sem por quê pode assumir importâncias surpreendentes. Como tudo em nosso próprio cotidiano. Se isolado. Se analisada a sua função para que a história avance, cada gesto do nosso próprio cotidiano contem dentro dele uma infinidade de significados. Há todo um código genético escondido em tudo o que nos contem. Perigo é agir por inércia. O resto a gente agüenta.

 

Começou “The Kinks”. Sunny Afternoon. Do outro lado da janela ele brilha e mais um texto chega ao fim com uma bonita trilha sonora.

domingo, 3 de maio de 2009

qual o tamanho do espaço que uma certeza requer?



















Às vezes eu me sinto um pouco fútil nesse país. Preocupações burguesas demais. Conceitos fechados demais. Estados de espírito egoístas.  Tudo o que deveria me indignar está fora de mim. há um mundo do outro lado da minha pele. Pessoas sofrem do outro lado da minha pele. Pessoas são baleadas sem que eu sofra nenhum tipo de abalo.

Do alto dos prédios a cidade é um pequenino enfeite. O quadro perfeito para nossas paredes emoldurar. E do alto das nossas janelas recrio toda uma vida antes de agora. Vejo as árvores que um dia cobriram os terrenos onde hoje são telhados. Me falam dos córregos que ali corriam. Das boiadas e das estradas de barro. Do brejo das corujas.

Um disco sempre arranha as nossas madrugadas. Só assim atingimos, ou ousamos desejar, o estado mais próximo do que poderia ser sagrado. E tecemos observações precisas sobre nossas existências. Depois o mais velho do casal dorme na sala enquanto os outros conversam sem parar. As luminárias ficam mais vermelhas e o ar absorve o frio que sentimos um pouco menos a cada respiração. As janelas estão fechadas, mas estamos deitados sobre o tapete. As paredes emolduram a cidade como se nada estivesse acontecendo.

Não me peça para falar do que te incomoda. Não espere que eu dê voz ao que alguém pensa. Não tolere que ninguém, não importa quem seja, fale por você. Atente para o que é seu. Antes que seja tarde.

Logo ocorrerá a grande divisão. A grande divisão está acontecendo agora e poucos ousam perceber. O mundo dá sinais claros de colapso e os assustados acreditam que ninguém se salvará. Os cautelosos estocam alimento sob grossas camadas de gordura. As mães pensam em um dia e um dia é sempre mais antes de um outro. Meu pai ainda se assusta quando eu ligo para ele. E nada do que eu pensei que fosse acontecer comigo, não aconteceu. Lembrar dos meus sonhos é vê-los bem pequenos dentro das luzes da cidade cada vez mais distante.

Aqui. No lado de dentro do conforto, vejo a cidade e a noite. Aqui. Do alto do futuro, o mundo foi muito mais belo do que eu poderia imaginar. Em algum lugar pessoas sangram. Em um quarto escuro alguém está chorando. Há espaço e momento para tudo. Basta que se viva de verdade cada  coisa de uma vez.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

só não leia se for paulistano.




















Acordei cedo. Não gosto de ter uma gripe rondando o meu corpo. Faz tempo que não saio de casa para quase nada. Vou ao yoga. Corro no parque no meio da tarde e caminho um pouco pelas ruas que compõe o quadrado da minha casa. Tenho evitado metrô. Ônibus. Estou sem carro e isso não é tão ruim. Tenho amigos bons. Amigos com carro. Amigos que eu conheço  há muitos anos. E cada vez mais eu tenho certeza de que o melhor é ficar em casa com esses amigos. Os copos andam sujos demais. A cerveja não é a melhor pedida e essa cidade não presta nas noites antes dos grandes feriados. Mas eu tento. Eu sempre acredito que pode ser legal.

Como quando você está em casa e se depara com Gal Costa cantando “Dê um Rolê”. Impossível não acreditar se é ela quem diz que a vida é boa. É preciso estar atento às datas das canções. Aprendo isso um pouco mais a cada dia. Se alguém te diz “não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa” por favor entenda que isso foi escrito em mil novecentos e setenta e pouco e isso já faz parte do passado. Atente às canções de agora. Por mais vazias que elas possam ser.

Mas às vezes ficamos desatentos e a desatenção é um perigo. Sim. São Paulo é uma selva e eu estou longe daqui faz muito tempo. Não me acostumei. E não pretendo me acostumar a essa cidade.

Pegar o metrô às seis da tarde pode ser quente demais. Mas sempre tem uma menina que também poderia simplesmente ser a sua musa. Talvez eu devesse ter simplesmente seguido a menina bonita que estava no mesmo vagão que eu. De vez em quando ela desviava os olhos do livro e ela tinha olhos de coelho assustado e eu pensei em Alice. Em seguir simplesmente alguém sem saber onde eu poderia chegar. Eu fazia isso quando cheguei aqui. Nas festas eu escolhia uma pessoa para seguir. E não seguia apenas dentro do salão. Uma vez caminhei da augusta até depois da Vila Mariana. Até São Judas. E valeu à pena. Ganhei uma amiga. Até hoje, depois do sexo, depois dos beijos, depois das perseguições, o que perseverou foi um tipo de amizade que nos une para sempre. Éramos quase adolescentes. Somos para sempre adolescentes. Mas brincar de gato e rato ainda é coisa para os mais novos.

Mas você sai na estação Consolação e a menina continua lendo o seu livro e a vontade que implica você ter para sair de um metrô precisa ser grande demais. Cada espaço, por menor que seja, implica contato. Cada passo é um contrario à direção de alguém. Mas eu atravessei o mar quente de pessoas feias e cheguei à superfície. No alto da paulista respirei o ar pesado da noite de ontem. E não foi bom. Não é bom. Olhei para o céu, mas não dava para ver muita coisa. Entrei no Banco do Brasil. Saquei sem medo de ser roubado com sorriso nos lábios. O dinheiro é o passaporte para a felicidade. Trate de ganhar o seu se quiser continuar aqui.

Depois Livraria Cultura. O livro de correspondências da Clarice Lispector. A identificação imediata com quase todas as linhas. Sentado na pequena sala de estar esqueci o mundo por dez paginas antes de encontrar uma menina. Uma menina que nasceu lá longe onde eu nasci. Uma menina que era minha colega de escola e que hoje tem o seu escritório de arquitetura em algum lugar bem alto dos prédios bonitos da avenida paulista. Atravessamos as ruas na direção do centro. As mesmas pessoas subindo a Augusta. Os mesmos papos entre nós dois. O mesmo conflito de nove meses atrás. Depois um kebab. Aproveitar cada mordida. Nada como comer em São Paulo. Nada como pagar em São Paulo.

Depois caminhar mais um pouco. Descer sempre mais. receber chamadas. Atender chamadas. Escrever mensagens. O mundo sempre se surpreende quando tudo o que você deveria fazer é voltar para casa. Mas você pede mais uma cerveja e é claro que mais uma cerveja e sempre mais uma cerveja. Alguma coisa dentro de mim dizendo que vinho ainda é melhor. Que o tapete da minha sala está mais limpo do que a calçada onde crianças brincam e sujam o mesmo ar que respiramos. Peço à dona do bar que toque mais uma vez “Maria Bethânia”, a canção que Caetano fez no exílio. Mas a dona do bar responde que não lembra em qual disco ela havia gravado essa canção e, na verdade, ela não sabe sobre qual musica estou falando e canto um pedaço mas a expressão do seu rosto continua a mesma. Me olhando como quem perde tempo. Aqui sou apenas uma bêbado inconveniente. Um bêbado inconveniente que bebe cerveja cara e experimenta um rodízio de amigos. Quando ela me olha assim eu sei que eu deveria estar em casa. Ouvindo as minhas musicas. Bebendo nos meus copos. Com todos os telefones desligados. É assim que os gênios criam suas grandes obras. Não tenho o menor saco para cronistas urbanos e menos ainda para filosofia de mesa de bar. Mas às vezes a gente esquece. E cai na armadilha mais perigosa. A armadilha da desatenção. Dos goles feitos de inércia. Dos olhares carregados da mais pura verdade: aqui não sou ninguém.  

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