quarta-feira, 19 de novembro de 2008



















































































(todos por 25 pilas)





os vinis chiam a tarde. uma idéia brilhante nasceu. mariana, você me ajuda nessa?
chove, vou sair para comprar vinis antigos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008


no espaço unibanco, enquanto espero no café do saguão devorando as primeiras páginas de um livro recém-lançado.

entro no livro, e ao sair pela primeira vez, noto a presença de algumas mães com os seus bebês. bonitos. limpos. um mundo inteiro pela frente. as mães, estranhamente, pouco sorriem. depois percebo, descendo as escadarias, dezenas de mães com seus bebês no colo. todas sérias. um clima de apreensão. alguns casais com filhos aproximam-se do café. as crianças estão calmas. nenhuma chora. nenhuma ri. as mães parecem afastadas do mundo. grupos não se formam. distantes todas de si mesmas. vazias. talvez pela primeira vez.

mais uma sessão materna terminava. perguntei-me qual filme elas teriam assistido. 

ao chegar no guichê leio em um pequeno cartaz que o filme da sessão materna era "Vicky Cristina Barcelona". um filme que talvez devesse ser proibido para mães recém nascidas. um filme, talvez, sério demais para quem acredita em filhos. em fraldas. para quem vive um futuro. um filme perigoso demais para os que acreditam na beleza cor-de-rosa das sessões maternas do espaço unibanco.

se, nessa noite, alguma criança chorar de fome ou dormir sem a dose exata de carinho, a culpa terá sido toda do unibanco. do woody allen. e delas mesmas. por terem nascido.





ps - e eu acho que estou gostando de uma garota. você sabe que é de você mesma que estou falando. e isso é sério. e eu teria um filho com você. mesmo depois do filme.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

marry christmas if you dare














São Paulo. Algumas pessoas vão embora. Outras ficam. E é para sempre, embora a gente pense que não. Chove na rua e aqui dentro faz um calor. Os amigos quando dançam na sala e os planos que nunca seremos. O mundo não existe amanhã. Chove do outro lado da janela. O mundo dorme quando nós não.

Tentamos o contato com qualquer coisa que não nós.

Na pista eu arranquei a camiseta. E só você não estava lá. E eu queria viver em tempo não esse.  Qualquer duas décadas antes de agora me faria feliz. O mundo ainda é uma criança e vivemos todos uma pré-adolescencia coletiva. Nos agarramos ao que não existe. Nos exilamos no que não foi proibido. E sofremos tão mais do que precisamos.

Vivemos o momento final antes da primeira morte, e não sabemos que há tanto a fazer depois. Quando você me ensinou a psicografia há tanto tempo atrás, eu não pude entender. Você foi ele através dela e eu não pude entender.

Agora é o ultimo verão antes do fim. Feliz Natal IF you dare.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

La Boca

Naquele ano estranho de 1979 ela devia ter dezoito anos. Hoje eu sei quase tudo sobre mim através das fotografias que tiramos juntos. Ou que tiraram de nós. Nossos rostos do lado de dentro da fina película plástica dos álbuns escondidos dentro do armário da sala. A sala escondendo um cheiro antigo dentro de cada gaveta. “É sempre preciso muito mais cuidado ao voltar para casa”, alguém deveria ter me dito antes de partir. É o que, agora, eu digo para você. Mesmo sabendo que agora nada ainda será entendido. Você ainda é pequenino demais para entendimentos de ordem tão simples. Será preciso que os anos acumulem sobre os seus dias. Será preciso que as estradas façam parte do repertório de imagens do seu passado. Escrevo esta carta como o desejo mais profundo de que você viaje. Que você parta sempre. Que sempre uma paisagem mas distante te chame para ir. Que você crie mistérios para depois desvendá-los. Que platonize paixões para sempre ter o que destruir. Escrevo para que você nunca fuja de si mesmo. As estradas nunca serão perigosas, se o caminho de volta continuar a menor distância entre você e quem você é. Quem você será, de quem você foi. 




Caminho pelos corredores sujos da rodoviária de Lajeado. Preciso partir. Os exames de saúde são exemplos de uma conduta correta. Caminho sozinho. Observo rostos conhecidos. Agricultores voltando para casa. Agricultores chegando na cidade. Eles carregam um cheiro estranho. Um cheiro de vaca. Um cheiro de tudo o que fui. Todos os agricultores são os meus avós. São as galinhas mortas no quintal da nossa casa no meio de uma quarta-feira qualquer. O último grito. Os últimos passos sem cabeça. A panela de água fervendo. As penas brancas submergindo. Depois os nossos dedos arrancando todas as penas. O cheiro de pena fervida. A pequena montanha branca de penas molhadas sobre nossos pés. As últimas penas queimadas sobre a fogueira e o cheiro de penas molhadas, fervidas e queimadas se misturando em pequenos redemoinhos que penetravam pelos meus ouvidos e percorriam a infinita distancia entre o que um dia eu cheirei e o que nunca mais sairia de mim. Eu ainda não havia aprendido a ter cuidado com os cheiros. A não deixar que eles entrassem sem critério. O cheiro das galinhas mortas. O galinheiro vazio. Os ovos dentro delas. Pequenos abortos de filhotes que nunca nasceram. Minha mãe gostava desses dias. Eu lembro dela. Eu lembro de mim. Os cheiros que entraram e que nunca mais sairão. É preciso cuidado. É preciso não deixar que eles entrem para nunca mais sair. É preciso critério para formar o repertório que nos fará memória. Existem partes dessa carta que você deveria compreender antes de ler. Aprenda a entender cada cheiro. Entenda o que cada cheiro desperta em você. Lição numero um para não sofrer de memórias. De nostalgias dolorosas. De galinhas mortas e de lágrimas sobre o quintal.
Escolhi a empresa de ônibus pelo atendente do outro lado do balcão. Não que ele fosse especial. Ele era apenas o único atendente atrás de um dos três balcões das três companhias que possuíam linhas para Montevidéo. Ele atendia duas garotas. Elas não tinham dinheiro para as passagens até o Uruguai e tentavam convencer o atendente a trocar uma passagem por um celular. A garota sem celular cogitava continuar na cidade e trabalhar mais um mês para comprar um celular, trocar por uma passagem e depois encontrar com a amiga no país vizinho. Talvez elas fossem personagens muito mais interessantes do que eu. Quase todos os personagens são mais interessantes do que eu mesmo, dentro das minhas histórias. Não. Isso é mentira. E eu não vou mentir para você. A garota de cabelos encaracolados e escuros olhou para mim e sorriu. Perguntou-me se eu precisava de uma companheira de viagem. Eu sempre acho estranho quando estranhos conversam comigo. A última coisa que eu preciso é de uma companheira para as minhas viagens. É sempre um pouco perturbador quando um personagem deixa de ser um figurante na minha história para tentar roubar a cena e protagonizar a minha vida. Eu não deixo. 
Sorri por educação e olhei para o balcão esperando encontrar ali algum calendário, alguma grade de horários. “Um dia estive aqui”, estava escrito sobre a madeira escura. 
A garota ainda sorria para mim e a outra, a loira, conversava com a mãe no celular da amiga. O atendente examinava o aparelho e eu observava a aliança no seu dedo do meio. A garota perguntou se ele era casado e ele perguntou se o celular tinha câmera e rádio. Eu perguntei quanto custava o trecho entre Lajeado e Montevidéo. Mas ninguém me escutou. Depois de um tempo ele olhou para mim e disse que havia um ônibus partindo ainda naquela mesma madrugada. Era um ônibus leito a preço de ônibus comum e eu sempre prefiro as decisões tomadas sem tempo para pensar. O tempo nunca age certo sobre o pensar. O tempo de pensar é o tempo da não ação. Na dúvida, vá. Na dúvida, salte. No aperto, relaxe. Perguntei o preço e ele aceitaria sim o meu cartão de crédito. Era a primeira vez que eu usava o meu cartão de crédito para pagar alguma coisa realmente importante na minha vida. Eu tinha trinta anos e aquela era a primeira viagem que eu faria sem que ninguém me desse dinheiro para isso. Eu tinha quase trinta anos e aquela era a primeira viagem que eu fazia sem ninguém para saber. Sem que ninguém pudesse agir sobre o meu percurso. Era a minha primeira viagem sozinho para fora do país. Mesmo que esse país estrangeiro estivesse a poucos quilômetros do meu. Mesmo que esse estranho país falasse uma língua tão perto da minha. Partir era mais importante do que as palavras. Do que qualquer distancia. 
“Posso ir te chupando daqui até Montevidéo se você pagar a minha passagem”, a garota loira falou olhando para mim. O atendente riu. Eu senti um calor no rosto e suei. Ordenei ao atendendente que debitasse duas passagens no meu cartão e comprei dois bilhetes de ida. Um para mim. E outro para ela. A boca.

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