sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

às vezes parece que nada faz sentido. parece que somos agressivos demais. que gritamos com quem não deveria. estou triste comigo e não há motivos para sair de dentro.
e eu pensei que esse ano não haveria inferno astral.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009








eu e o nelo johann em arroio augusta/roca sales. terra do meu pai. e terra onde eu cresci.





















Escrevo do meio de uma tarde de verão. Se a sua pergunta foi: você tem escrito ultimamente? A minha resposta sempre será a mesma: como sempre, tenho escrito. 
Talvez você não me conheça tão bem. É verão e faz uma tarde de sol recortada por pequeninos temporais. Eu deveria estar trabalhando. Mas eu não estou. Passo a vida buscando motivos que me joguem contra eles. Marco compromissos para ter o que desmarcar. Construo amizades para ter o que destruir. Cultivo rostos para ter o que evitar. E danço em cima do nosso amor que se acabou escondendo as lágrimas de mim mesmo de um jeito tão verdadeiro que eu mesmo acredito nas coisas que invento. Os perigos são maiores quando brincamos sozinhos. É sempre mais fácil perder a dimensão quando, do outro lado do abismo, não há ninguém para indicar o caminho. São nas noites escuras que os barcos perdem o rumo e batem contra os rochedos.
O nosso amor talvez se acabe um pouco mais a cada noite. Estranho. Mas, mesmo se assim for, eu te quero sempre um pouco mais. Sempre que as luzes se apagam e esquecemos de nos fazer as perguntas mais bonitas olhando no fundo dos nossos olhos. No meio da noite você acorda. O seu peito aperta e você procura o meu braço. E eu te abraço entre dois sonhos. Pequenas tempestades enfeitando a noite de verão.
Do outro lado do mundo um sol nasce de dentro de algum mar e alguma pessoa olha os primeiros raios do dia pensando nas coisas boas que nunca irão lhe acontecer. Nem sempre é o bem que está no nosso caminho. Mas com você do meu lado nos protegemos de tudo o que não pode ser belo. Esgrimamos guarda-chuvas fechados prestes a explodir temporais sobre os pequeninos.
Do outro lado da cidade uma pista de dança ferve. E alguém dança sozinho esperando alguém chegar. E alguém dança sozinho olhando para o chão sem saber como chegou até aquele instante. E alguém toca musicas para destruir o coração de quem escuta. E o meu sempre foi o primeiro a explodir.
Agora toca uma musica bonita. As folhas das arvores pingam do outro lado do vidro molhado. Os vizinhos me observam. E eu não estou em lajeado. Estou na minha casa aqui em São Paulo. Na Vila Madalena. Em 2009. No inferno astral mais bonito desde quando eu não sabia o que era “inferno astral”. Quando olho para trás é sempre impossível não me perguntar: caralho, mas alguém pode me explicar como foi que eu cheguei até aqui?

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no ultimo inferno astral eu morri. Mas agora passou.


Tudo tudo vai passar. Todas as coisas ruins. E todas as coisas boas.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

 Tuane.
hoje eu li na internet que fizeram um labirinto de balões coloridos na suíça. vamos?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009













O rio descia na nossa frente e ele estava pesado. Corria na direção da cidade e, antes da curva, ele não brilhava. As nuvens estavam baixas e, muito antes do que pudéssemos prever, os dois, água e céu, viravam uma coisa só. Os pinheiros não balançavam pois não havia vento. O meu pé empurrava o seu para cima e o meu seu pé empurrava o meu para baixo. Nossos tênis esfregavam um no outro o barro da estrada de terra. De vez em quando você parava. E era sempre eu quem tinha que recomeçar. Pensava em muitas coisas para te dizer, ensaiava respostas para perguntas que você não fazia e, quando voltava para casa, a certeza que eu levava para o quarto era que cada dia era um dia a menos. Olhava para as paredes pensando no dia em que eu não estaria mais lá. ouvia o barulho da televisão e sabia do tempo em que eu sentiria saudade daquele instante. Era um pouco estranha a sensação de estar auto-exilado dentro da própria casa. o cheiro do cigarro dos meus pais avançava pela pequena janela que dividia o meu quarto da cozinha, onde eles passavam a noite vendo televisão deitados no sofá de veludo marrom. Fumando debaixo de algum cobertor ao lado do fogão à lenha. Entre julho e setembro eles comiam pinhão. A pia da cozinha afogada em cinzas de cigarro e casca de pinhão no outro dia de manhã, quando eu acordava sozinho para ir à escola. Enquanto calçava o tênis para sair, o radio-relogio ao lado da cama deles despertando no ultimo volume não era o bastante para tirá-los da cama. Quando abria a porta o ar gelado era limpo. Não tinha cheiro de cigarro. As ruas não tinham cascas de pinhão entupindo os bueiros e o mundo fora de casa era um lugar melhor para se estar. Do outro lado do jardim de ervas daninhas, a calçada quebrada por raízes de arvores antigas estragava a paisagem perfeita e cimétrica todas as calçadas que não eram a nossa. Os jardins com pequenos arbustos e grama curta eram acessos para mundos que eu não conhecia. Que talvez fossem melhores do que o meu, mas que eu não queria experimentar. A solidão da calçada desenhava meus passos o caminho mais distante entre as duas portas: a da escola e a da minha casa. Atalhava procurando uma distancia cada vez maior entre as duas portas. Respirando sempre por mais tempo o ar não contaminado dos espaços fechados. Como um mergulhador medindo o tempo eu retinha nos pulmões fechados um ar limpo pelo maior tempo suportável. Antevendo o que viria, fazia da rua a minha casa. fazia do não pertencer o meu bem-estar. e preparava minha família para a despedida que, muito antes do que eles podiam imaginar, viria a acontecer. Entre ser o filho perfeito e ser o filho da vergonha, o melhor era causar vergonha. A despedida seria menos dolorosa. A falta seria menos sentida. Tentava controlar o que despertava nos outros para não ter deles amor demais. Amor demais significava sofrer na hora de ir embora. O amor demais que eu não queria sentir não me deixaria partir. Era um canto da sereia me levando para baixo. Para a morte. Para o não mais eu. E eu não amei o quanto eu deveria, eu não podia. E eu não deixei que eles amassem o quanto eu precisava, eles não podiam. Quando chovia era ruim não poder sair. Nos dias frios era ruim não poder sair. E quando eu passava tempo demais dentro de casa o medo de morrer crescia. E a morte nascia de dentro dos instantes mais imprecisos. Minha mãe servindo um prato de arroz sobre a toalha xadrez. O prato marrom transparente cheio de riscos opacos. Minha irmã conversando com meu pai. Ele prestando atenção nas noticias da televisão. O volume cada dia mais alto. Eu não estava lá. E, antes de sentir raiva eu sempre sentia saudade. E observava o curso da minha casa como um viajante que sabe que não está mais lá. mesmo dentro dela, eu observava a minha  casa de fora. Sentindo uma ponta de nostalgia em cada gesto que deixava de ser. Capturava o ultimo instante antes do sorriso da minha mãe deixar de ser real. Gravava na retina os dedos da minha irmã arrumando os cabelos e dedos do meu pai acendendo mais um cigarro. E existir era uma sucessão de retratos que eu sabia que nunca mais iria esquecer. Você empurrando o meu pé para baixo. Eu empurrando o seu pé para cima. O barro da estrada de terra. Os passarinhos silenciosos no meio da tarde de inverno. Os pinheiros pingando neblina. E nós. E nossos pés.  

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