segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Estranha essa sensação de ir, pouco a pouco, me aproximando de você de um jeito que depois vai ser mais difícil de te largar. Hoje, depois da corrida matinal dentro do bosque de eucaliptos, pensei que as drogas são para os adultos. Não sei o que isso quer dizer. Na hora em que eu pensei era apenas uma lição de moral para uma pessoa que era legal e virou careta. Tantas pessoas eram legais e viraram caretas. Provavelmente um dia você foi legal e agora tenha virado careta. Não me refiro sobre as drogas. Me refiro a você. E no seu caso é bem possível que tenha sido o contrario.
Mas essas coisas nada importam. O que importa é que agora toca uma canção linda na sala. E eu sou criança. Tenho doze anos e estou sozinho no meu quarto. Bolando planos para ir embora. Escutando os passos de alguma faxineira. Ou da minha irmã e as suas amigas mais novas do que eu. Eu queria que elas me achassem lindo quando elas passassem por mim dentro da minha casa. mas eu não era. Aquele não era eu. O garoto bonito. Aquele não era eu, o looser deprimido e feio dentro do meu quarto. Algumas garotas me acharam bonitos. E com essas eu tive paixões platônicas. Intensas e profundas. Dessas que, se até hoje ainda ecoam em mim, é provável que ecoarão para sempre. Como as canções quando nos transportam. As canções quando nos transportam é para sempre.
Mas essas coisas não importam. Estou falando merda. Tem uma coisa que eu sempre penso que preciso falar para você. Faz algum tempo que gosto de ouvir vinis. Eles tem uma sonoridade que me remetem à minha casa. À um tempo muito antes de agora. Antes mesmo de eu ter nascido. Um tempo que foi dos meus pais. E que eu só me reconheço, por nunca ter feito parte dele.
Costumo garimpar discos em lojas de usados. Compro muita coisa estranha. Coisas que ouvia quando eu era adolescente. Cantores contemporâneos de alguns ídolos de sempre. A face mais escura do que sobreviveu. Gosto preferencialmente dos lados B desses discos. Gosto de voltar a penas no lado A. Depois beber uma coca-cola ou comer um fandangos, e mergulhar, de barriga cheia e neurônios renovados na obscuridade do lado B. Mergulhar nas lembranças de quando comer não era culpa. De quando perder tempo ouvindo um disco inteiro não era perder tempo. Era mergulhar sem pensar na sonoridade que vinha de dentro das faixas escuras. A agulhava deslizava a tarde sem tocar nos ponteiros do relógio.
Voltamos devagar para lugares de onde nunca devíamos ter partido. E isso me conforta. Viva a incerteza. A ultima que restou.

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