sábado, 18 de outubro de 2008

sobre o tamanho da vergonha


O sábado começa e a vida hoje é só mais um cansaço. Comprar orgânicos na feira. Ouvir Cat Power tocando na vitrola da sala sem parar. Pensar no mundo e nos lugares onde não estou. É só mais um sábado que começa e talvez esse seja apenas o últimos sábado antes do fim do mundo.

Antes de dormir eu penso nos problemas do mundo para ter sono. Penso na crise. Penso nas tragédias. Nas misérias. Nos governos totalitaristas. E o sonho vem chegando devagarzinho. Para dormir penso em coisas inúteis. Só assim sinto sono. Penso nas dimensões, no tamanho delas, no quanto eu sou pequeno e no quanto as políticas internas me interessam muito mais do que tudo o que vem de fora. Não me interessa o que não diz respeito a mim. Mas nas políticas internas, nessas não se deve pensar antes de dormir. Essas tiram o sono e fazem não querer dormir nunca mais. Ou poluem os sonhos com chaves para portas que abrem para lugares que talvez sejam perigosos demais.

Então eu penso em Bush, Obama, Lula, e em tanto nomes que são apenas nomes e que são apenas sucessões de sucessões e de sucessões. E eu sinto uma ponta de ironia quando leio opiniões tão certas sobre tudo o que não diz respeito a mim. Eu sinto uma ponta de orgulho por não comparecer. Por não participar. Por tentar fazer do meu mundo um lugar bom para mim. O câncer mais assustador é aquele que talvez esteja crescendo entre as minhas carnes. As feridas que mais doem são as que acometem o céu da minha boca. A miséria mais dolorida sou eu querendo comprar sempre o que não deveria ter. A ditadura mais sofrida é ter que esconder dos outros a minha alegria por estar vivo no tempo de agora. Eu não me envergonho. Eu não me envergonho. Eu não me envergonho. Escreva cem vezes e ainda assim não entenderá.

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