sábado, 12 de julho de 2008

é madrugada. bastante madrugada. ou exatamente a sua metade. são 3 e 15 da manhã e agora já é sábado. a garrafa de vinho está bem boa. santa ana reserva malbec. argentino safra 2005. baixíssima acidez. não parece malbec dada a suavidade. é um vinho bem bom. não conheço muito de vinho. minha última descoberta havia sido o graffigna. custa em média 9 reais nos mercados aqui no sul e vale a pena. mas esse santa ana. uau. nem se compara com o graffigna. é bem melhor. custa quase o dobro, mas vale a pena. uma coisa que aprendi com uma nova amiga argentina é que vinho argentino deve sempre ser malbec e vinho chileno deve sempre ser cabernet. ela disse isso e depois falou "isso se você for hard como eu". ela disse isso na primeira noite em que nos conhecemos e naquela noite que foi a nossa primeira eu sabia que ela era uma garota legal essa andréa. trocamos poucas palavras, mas os nossos olhares sempre se entendiam. nossos sorrisos eram iguais nos momentos em que somente nós dois captávamos toda a ironia contida nos diálogos alheios naquela nossa primeira noite juntos. eu fumando e você sorrindo com uma taça na mão e bebendo o meu concha y toro. naquela época, há tão pouco tempo atrás, eu pensava que concha y toro era a aposta certa para impressionar na medida exata da nossa elegância etária e financeira. eu ainda não sabia nada sobre graffigna. nem sobre esse santa ana de agora. agora toca the who. see me feel me e eu lembro de uma adolescência que não pude ter. eu lembro de um jeito de enxergar a vida que demorou para eu perceber. mas quero falar sobre a garota argentina. na nossa primeira noite juntos o jantar acabou e eram folha e carnes e nós dois entendendo nos outros os diálogos que sobravam em nós. ou palavras que nos faltavam. o mundo quando é grande demais e ficamos nós dois olhando um para a cara do outro naquela fração de segundo, a última antes de cair na risada. mas você foi a melhor garota dos últimos tempos e a última com quem eu teria um filho. eu casaria se a imigração te pedisse uma prova para poder continuar vivendo no brasil. não sabem que o brasil é quem precisa de provas concretas para que você continue aqui entre nós. para que buenos aires não te leve de volta. toca white stripes e agora eu te vejo deitada aqui na cama do meu quarto. e te vejo dividindo a mesma taça e nossos beijos todos através do cristal. eu te vejo me enxergando dentro do poster do bob dylan. eu te vejo sorrindo ao reconhecer no anjo da guarda toda a auto-irônia pregada na parede. eu te vejo olhando obcecada para as minhas mandalas tentando entender a simetria dos meus olhos. tentando desviar de mim o que existe em você. como te olhar dentro deles sermos nós dois um mesmo passado. às vezes eu queria que ser jack white valesse à pena. às vezes eu queria ser a fram quando ela escreve com fúria e pressa e fôlego. às vezes eu queria ser o coração dois segundos antes do tiro para os cem metros livres. ou queria ser as baquetas de meggy white quando ela erra o compasso mas ninguém sabe que. ou me ver dentro dele dançando alguma música pela primeira vez. a primeira vez que entendi the cure em uma pista de dança. a primeira vez que tocou the smiths em uma noite de domingo numa pista cheia de iguais. a primeira vez que eu fiquei sozinho em uma pista de dança lotada às três da manhã de uma segunda-feira rezando para não cair ou rezando para que alguém me arrastasse para o banheiro e me fizesse nascer de dentro de mim. e me fizesse respirar fundo e I love new york. depois voltar ao bar e pedir mais uma dose de contreau e ter vontade de vomitar e depois rir e pensar que a vida é tão bonita, mas logo tudo vai acabar. agora tudo acabou. jack white grita aqui, mas não é mais como antes. necessitava desse desabafo o dia inteiro. a hora em que abriria um novo vinho e acenderia o portão para a noite. a luminária está acesa. as duas. a que está ao lado da cama sobre o amplificadora. coloquei borboletas do paraguai em volta dela e as asas sacodem quando a música fica alta o suficiente para a caixa vibrar. agora não. agora são exatamente 3 e 33 da manhã e eu tenho medo dessa hora. tenho medo dos números. e dos homens quando se tornam santos. não gosto de textos assim. acho que ninguém vai ler esse texto até esse ponto. duvido que alguém chegue tão longe ou acompanhe por tanto tempo uma mente confusa. duvido que você suporte amar por muito tempo o meu coração intraquilo. duvido que você nunca mais vá me sentir a falta quando eu estiver longe. eu sempre estive longe. sempre estarei. é como se a voz de jack white atravessasse o tempo e habitasse em todas casas de uma cidade que seria perfeita. de um país que seria o nosso. misturar um pedaço da argentina, um canto do uruguai e o sol do brasil e a pomerânia talvez seja agora. três pedaços de uma mesma terra e um diamante talvez nascesse. seríamos frios e eu seria uma espécie de rei. eu me coroaria mais do que agora. eu sentaria em um trono se a multidão de súditos fossem todas células de mim mesmo. 

Um comentário:

quasechuva disse...

sempre sinto ciume qdo vc se apaixona por uma menina
humpf

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