domingo, 3 de maio de 2009

qual o tamanho do espaço que uma certeza requer?



















Às vezes eu me sinto um pouco fútil nesse país. Preocupações burguesas demais. Conceitos fechados demais. Estados de espírito egoístas.  Tudo o que deveria me indignar está fora de mim. há um mundo do outro lado da minha pele. Pessoas sofrem do outro lado da minha pele. Pessoas são baleadas sem que eu sofra nenhum tipo de abalo.

Do alto dos prédios a cidade é um pequenino enfeite. O quadro perfeito para nossas paredes emoldurar. E do alto das nossas janelas recrio toda uma vida antes de agora. Vejo as árvores que um dia cobriram os terrenos onde hoje são telhados. Me falam dos córregos que ali corriam. Das boiadas e das estradas de barro. Do brejo das corujas.

Um disco sempre arranha as nossas madrugadas. Só assim atingimos, ou ousamos desejar, o estado mais próximo do que poderia ser sagrado. E tecemos observações precisas sobre nossas existências. Depois o mais velho do casal dorme na sala enquanto os outros conversam sem parar. As luminárias ficam mais vermelhas e o ar absorve o frio que sentimos um pouco menos a cada respiração. As janelas estão fechadas, mas estamos deitados sobre o tapete. As paredes emolduram a cidade como se nada estivesse acontecendo.

Não me peça para falar do que te incomoda. Não espere que eu dê voz ao que alguém pensa. Não tolere que ninguém, não importa quem seja, fale por você. Atente para o que é seu. Antes que seja tarde.

Logo ocorrerá a grande divisão. A grande divisão está acontecendo agora e poucos ousam perceber. O mundo dá sinais claros de colapso e os assustados acreditam que ninguém se salvará. Os cautelosos estocam alimento sob grossas camadas de gordura. As mães pensam em um dia e um dia é sempre mais antes de um outro. Meu pai ainda se assusta quando eu ligo para ele. E nada do que eu pensei que fosse acontecer comigo, não aconteceu. Lembrar dos meus sonhos é vê-los bem pequenos dentro das luzes da cidade cada vez mais distante.

Aqui. No lado de dentro do conforto, vejo a cidade e a noite. Aqui. Do alto do futuro, o mundo foi muito mais belo do que eu poderia imaginar. Em algum lugar pessoas sangram. Em um quarto escuro alguém está chorando. Há espaço e momento para tudo. Basta que se viva de verdade cada  coisa de uma vez.

3 comentários:

quasechuva disse...

yeah yeah
vou vivendo
com o que tenho
até parece que sim mas nunca falta

geheimnis disse...

sara,
o que temos é o que nos resta.

lembra dessa? hoje volta a fazer sentido.

quasechuva disse...

hoje é o que nos dá sentido.
sentido é mto mais e mto menos do que amor;)
podemos viver fartamente do que nos resta.

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