domingo, 31 de maio de 2009

Há uma certa sabedoria na rotina da semana. Desde que me permiti fazer nada referente a trabalho no sábado e no domingo,  os dias úteis têm sido bem melhor aproveitados.

Ontem de noite revi dois filmes que já haviam passado por mim há algum tempo. O Espelho, do Tarkovsky e 2001, do Kubrick. O Espelho é uma versão de Os Famosos e os Duendes da Morte. Falo isso sem  nenhum medo. De nada. Falamos sobre o mesmo tema de uma forma muito parecida. Dadas as devidas proporções de genialidade. O fascínio sobre a memória é o mesmo. Os espelhos perdidos no nosso passado. Um presente que nunca saberemos situar. Apesar de eu não ter sugerido O Espelho para o diretor, os filmes acabaram dialogando inconscientemente. Inconscientemente é como a maior parte dos nossos diálogos têm se dado. E isso é bom. Talvez seja o primeiro passo para a profunda amizade. Percepção e vontade.

Nesse fim de semana as vontades têm me traído. Tenho sido mais eu do que eu podia imaginar que um dia seria.

E eu não sei o que isso quer dizer.

Meu telefone esteve ligado o tempo inteiro.  Menos durante a madrugada.

Alguém me ligou no meio da madrugada e eu não estava aqui para atender. Mas isso não importa. Na madrugada que passou alguém perdeu a ultima das ilusões. Na madrugada passada você se cobrou fazer algo interessante por ser uma noite de sábado. Você ainda não entendeu que o interessante sempre chega sem avisar. Quando você menos espera. O interessante exige meias sujas e cuecas suadas. A preservação dos nossos feronômios é dos segredos que melhor sabemos guardar.

Nesse fim de semana as vontades têm se acalmado. Tenho sido mais eu do que eu podia imaginar que um dia seria.

Meu telefone esteve ligado o tempo inteiro. Menos durante a manhã de domingo.

O segundo filme foi 2001. Tem alguma coisa para falar a respeito? O obvio é obvio e por isso ele não é nada alem de obvio. Obviamente bom. Obviamente genial. Obviamente retrato fiel de tudo o que a gente acredita que vai acontecer. Aconteceu. Acontecerá. Se você já leu Os Famosos e os Duendes da Morte, entenderá o que estou falando.

Amanhã eles virão buscar a vitrola. Depois de todos os sons terem quebrado em menos de uma semana (pós praia), só sobrou a vitrola. E a vitrola, metida que é, resolveu ser temperamental. Ela, que sempre tocou qualquer disco. Que nunca me enfiava em nóia por repetição (principalmente quando tocava Pink Floyd), agora resolveu trancar. A agulha começou a correr pelo vinil sem respeitar a ordem de cada faixa. Enfim. A vitrola resolveu se comportar como uma dama difícil de ser pega. Maldita. Passamos a semana inteira entre brigas e amores. Ela negou tocar o “Cantar”, da Gal. Mas tocou bonitinha o “Blonde on Blonde”. De cabo a rabo. Toda metida. Ela também não tocou aquele disco do Caetano, do Exílio. O que ele está com peles  na capa. Mas o “Revolver” ela tocou lindamente. Cat Power ela aceitou tocar Angelitos Negros. Depois ficou parando. Enfim. O resultado é que, na sexta, decidi mandá-la para o conserto.

Os caras da assistência disseram que viriam pegá-la na segunda-feira.  Disse que queria trocar a agulha, arrumar a saída de uma das caixas e, se possível, trocar os alto falantes das caixas de som.  Agendado horário e dia do resgate, abandonei a vitrola estragada para ouvir fone de ouvido no computador.

Ontem de noite.  Filmes. Vinhos. Queijos. Tapete e cobertor. Frio do lado de fora da janela. Vitrola tocando tudo. Vitrola negando pela segunda vez “Barato Total”. Tudo bem, pensei eu. Vamos de Carpenters, aquele que você me deu de aniversário. E foi de Carpenters. Depois tocou mais um Beatles, e Sad Eyed Lady of the Lowlands sem nem trancar uma única vez.

Amanhã ela vai para o conserto. Vão trocar a agulha, arrumar a saída da caixa de som e trocar os alto-falantes. Se possível a fiação também.

Hoje, durante a organização pratica da casa para a semana, ela tocou os dois lados dos dois discos do Fa-Tal.  Duas vezes.

Agora é noite de domingo. Amanhã ela vai embora daqui. E agora roda o Transa com uma limpeza de dar inveja.

É mais ou menos sobre isso que fala 2001. Sobre a inteligência das coisas que agem.

4 comentários:

quasechuva disse...

ai que fofi
organização pratica da casa para a semana
que amor
eu ainda não tenho isso até hoje

geheimnis disse...

claro que não.
tu tem empregada.
não precisa.

pm disse...

quero ler Os famosos. e rever Tarkovski.

quasechuva disse...

preciso de uma empregada pro meu coração

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