quarta-feira, 13 de maio de 2009

eu sou a vida que você teve medo de sonhar

(they're. they're. they're not)



















O dia nasce em são Paulo e mais uma vez faço as malas para ir embora. Os poucos dias aqui serviram para me fazer querer ficar cada vez mais dentro da minha casa. Quase fui atropelado em todas as vezes que saí de casa. Essa cidade não foi feita para os distraídos. Os rapazes são espertos e, em cada esquina, tem alguém querendo tirar alguma coisa que não lhe pertence. Eu não pertenço mais aqui. São Paulo virou o antigo.  Tirando as salas de cinema, qualquer lugar do mundo tem atrativos mais interessantes.

Aí você sempre me pergunta “mas da onde você tira dinheiro para tanta viagem” e você não entende que eu não faço viagens para descansar. Eu viajo para escrever os textos que importam. De uma forma ou de outra eu viajo para ganhar dinheiro. Por mais estranho que isso possa parecer. São Paulo alimenta o blogue. Alimenta a cinefilia. Alimenta conhecer algumas pessoas e vender o que encontrei longe daqui. Aqui não brotam histórias. Não se concluem argumentos. Não fomentam apostas sobre formas inusitadas de se escrever. Aqui é sempre o obvio. O caos disfarçado de exótico. A sujeira disfarçada de pitoresco. O preconceito disfarçado de braços abertos depois da décima rodada de cerveja. Depois da décima rodada de cerveja as pessoas se tornam agressivas e as verdades mais feias escapam das bocas de todas as pessoas que um dia se amaram. Eu não sou diferente de nada do que existe aqui. Por isso quero ir embora. Acabou-se o tempo em que eu assistia sem participar. Acabou-se a idade pequena.

Mas falo o que quiser dessa cidade. Ela tem os meus amigos e tem conversas que fluem. Aqui as mesas são em alto som. Aí. Pobre de mim quando estou aí. Aí as mesas ecoam o vazio da vida das pessoas. Ninguém fala nada. Todos se olham e eu me sinto um cara estranho no meio de tantas pessoas que apenas olham. Olham. Olham. Passam o dia dedicados a enxergar apenas o que está por fora. Apenas aquilo que não diz respeito a si mesmo. Tenho pena das pessoas que precisam ficar aí. Em Lajeado. Mas não vou falar mal. Cada cidade tem os próprios encantos. Cada cidade sabe exatamente o motivo de ser do jeito que é. Eu que não devia esperar tanto do meio. Eu deveria saber me preservar de tudo o que está fora. Ousar nem mesmo perceber os olhares de todas as mesas à nossa volta.

Esse post é só para dizer que estou indo embora com os filmes mais incríveis que a Thereza selecionou. Vou levar uma mala carregada de DVD’s. Filmes sempre nos inspiram nos momentos de retiro. Queria explorar as ilhas dentro do mar. Aquelas tres ilhas que passam todas as tardes flutuando bem na nossa frente enquanto ficamos deitados na areia hipnotizados pelo movimento das ondas que quase não existe.

Faz sol na grande cidade. À noite não estaremos mais aqui. Não sabemos quando voltaremos. Toda a viagem implica a possibilidade de nunca mais voltar. Cada viagem é mais uma capa que nos disfarça do que fomos para aqueles que ficaram. Desculpe se o que escrevo te obriga a sempre reler. Desculpa se o que escrevo não faz parte dos seus interesses. Desculpa se a minha vida te inveja. É o que sempre quis. 



7 comentários:

quasechuva disse...

ai bebe bibo
as vezes eu te leio e só tenho vontade de te apertar as buchecha e dizer que tu é tããããããããooooooo fofinho
mas tão mas tão

quasechuva disse...

vai dizer
pessoas são lugares mas
lugares não são pessoas.

t. disse...

mas mas, a inspiração não vem de dentro?
os meios influenciam, mas o início é você.

Paulo F. Perizzolo disse...

Esqueçam o Leao, venham pra Helsinki!

quasechuva disse...

ai eu vou mesmo

B. disse...

To sem palavras

H. disse...

a sua vida me inveja. eu admito. porque eu queria ir embora com tudo o que isso implica e talvez não voltar mais. mas eu sempre fico. nessa cidade que você descreveu de forma tão verdadeira e triste. boa viagem, bons ares e bons filmes! =)

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