sexta-feira, 17 de abril de 2009

se pelo menos strokes.






















Estamos naquela estação em que o sol se põe cada vez mais cedo. São seis e meia da noite e o céu já está escuro. Nessas horas eu sempre vou sentir saudades do verão. Das tardes intermináveis. E dos dias nascendo tão cedo. Há sempre perigo nos lugares onde o sol demora para surgir. As noites longas trazem sentidos inversos aos fatos. As noites longas são a ilusão logo depois de ela ter acontecido.

Nas noites longas demais as conversas avançam por territórios que não deveriam existir. Que talvez nem existam. Nessas noites é sempre possível mais um pouco. É sempre preciso mais um pouco. Depois um de nós tenta vomitar no banheiro. Arranha a garganta mas não consegue arrancar o que nunca lhe trará nenhum bem. Aquilo que lhe comprime a glote e faz o seu peito apertar. Depois de um tempo, fica olhando para o ralo sentindo as batidas do próprio coração voltarem ao seu tempo real. 

Na roda dos amigos o mal-estar já passou. O mal estar sempre passa. O céu ainda está escuro e sempre dá tempo para mais uma. A ultima antes de voltar. Só mais essa antes de dormir. Nas noites longas demais todos esqueceram que o sono não virá.

Aos poucos os olhares envelhecem e os sorrisos vão perdendo os dentes. O nariz dói por dentro e dói para respirar. Olho para os meus tênis e penso em tudo o que eles já fizeram. Penso nos caminhos por onde eles irão. Olho para os pés dos que estão na mesma roda tentando imaginar o trajeto de cada um. A menina mais bonita tem os dedos para fora da sandália e ela não sente frio. Está acostumada a esse tipo de noite. Ela acende mais um cigarro e continua encostada no tronco da arvore olhando a cidade do alto da pequena montanha. Eu olho para ela e ela tem nos olhos a cidade onde eu cresci. Depois olho para a cidade e ela parece tão pequena. Tão longe de mim.

Cogita-se uma ultima volta. Reclama-se das rádios que não tocam o que queremos ouvir. Nunca tocaram. Nunca tocarão. O mais sensato sugere caçar mais uma rodada. O mais cansado reclama do frio. A gorda continua sorrindo e olhando para o céu de olhos fechados. Querendo ser qualquer coisa que não ela mesma.

Finalmente amanhece. 

Agora cada um rola sobre a própria cama. Todos sabem que todos rolam, mas nenhum ousa se tocar. Há sempre um pacto de silêncio envolvendo as primeiras horas de sol nas pequenas cidades do país. 

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