pensamentos confusos de uma noite fria de domingo. lá fora quase neves. casamentos pomeranes. noivas de negro chorando a morta das mutiladas por senhores feudais. é preciso sempre olhar para trás. é preciso nunca esquecer de onde viemos. as brincadeiras mais ingênuas são cartões-postais correndo contra o tempo para chegar na hora certa. sempre saberemos, sem nunca entender, que as horas nunca serão exatas. nunca foram.
o chá esquenta a garganta e meu coração derrete um pouco mais a cada gole. a lareira queima na sala onde meu pai morre um pouco mais a cada noite. não adianta chorar. nunca será o bastante para reverter os fatos. a família morrendo. minha mãe dormindo um pouco mais fora de hora a cada dia. meu pai a cada noite mais insône. meus olhos querendo se fechar sempre antes do fim. o quarto está quente. o sono sempre vem. cedo ou tarde, o sono sempre virá.
sejamos eternos enquanto durarmos.
mais um domingo. mais um domingo. mais um domingo. às vezes eu tenho dezesseis e as lâmpadas são velas desenhando as paredes do meu quarto. retrocedo três séculos para ser seu hochditsbira chamando os primos para o casamento. todas as fitas serão costuradas nos meus ombros e nossos bolsos serão o quente das mãos protegidas pelo inverno. sentirei menos frio. quebraremos a louça e eu dançarei te vendo limpar o chão de um homem que não seria eu. os véus sobre seu rosto e as mulheres da vila protegendo seus seios dos meus olhares.
engordo-te um porco. descasco e engulo o coração cru de um quero-quero. alisto-me em guerra contra mim mesmo.
os galos serão rabos por ti. as vacas serão gordas por ti. os dias virão. que retrocedam as horas antes de chegar o nosso fim.
2 comentários:
Juntar Berlim e Quero-quero no mesmo texto, só podia ter um pézinho no Vale :)) adoiro
Wer nicht denken will, fliegt raus - sich selbst...
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