sexta-feira, 20 de junho de 2008

são 12 e 10 e estou na cama. acordei de madrugada com o barulho da chuva. eram cinco da manhã. o nariz corria corria corria. os pingos batendo no telhado de zinco. os cobertores subindo pela orelha. depois a fome pintando devagarinho do calor escuro das cobertas. as frutas que só devem ser comidas no café da manhã. meus pés saltitando até a cozinha para escapar do chão iglu. 

fiquei encostado na pia comendo maçã. através do vidro da janela as gotas corriam e depois desciam até a grama onde as flores estão lá, sem estar. o verde está quase todo seco pela geada que faz nas madrugadas. os dias congelam e meu coração quase não bate mais. com meus quilos se foi o desejo. com a magreza ganhei friezas. meu coração bate tão devagar. meus pensamentos são tempestades que tento controlar, sem conseguir.

a televisão da manhã tem um dos melhores programas. globo rural. o feijão valorizou esse ano. saltou de 30 reais a saca para 100 reais. os agricultores sorriem e comemoram. depois foi a vez do trabalho escravo nas fazendas do oeste paulistano. a mulher de 53 anos já no fim da vida. os adolescentes descalços que ainda não nasceram. o mundo é sempre belo debaixo dos cobertores antes do mundo acordar.

puxo o mac para a cama. descubro que meu amigo de longe também acorda antes do sol. ele me conta sobre a lua e como ela continua forte antes do sol nascer. aqui chove. imagino o que existe por cima das nuvens. ele me faz imaginar. os cartões postais podem ser imaginários. sempre vou preferir uma frase bonita à qualquer fotografia. sempre vou preferir os meus sonhos e expectativas à qualquer possibilidade real.

continuo na cama. alguém chegou em casa e a cachorra latiu. o dia deve começar. a tarde seguirá chuva e a noite será lareira. e vinho. e fome. emagrecer. sempre um pouco mais. dormir. sonhar. fugir. sempre um pouco mais. sempre mais longe. o inverno chegou finalmente. nada mais pode ser feito que não esperar.

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