terça-feira, 3 de junho de 2008


poderia ser tanta coisa para te dizer. fico tentando imaginar do que se fazem os textos que escrevo. fico tentando descobrir quando foi que os meus dias se tornaram um refúgio. um eterno retiro. a procura de um pequeno esplendor que coroe o final de cada tarde. sempre sozinho. cada vez mais em silêncio. tão longe que até eu mesmo corra o risco de me perder de mim.


sonhei com viagens a noite inteira. a cada novo sonho o meu mote era sempre o mesmo: a iminência de uma viagem. 


de uns tempos para cá a minha voz tem sido ouvida. os meus textos, subitamente, começaram a ser lidos embora as minhas idéias ainda não tenham começado a tomar a projeção que espero, um dia, elas tomem. continuo mudando tanto de idéia o tempo todo. o engraçado é que quanto mais as minhas idéias se transformam, mais os meus conceitos se solidificam. conceitos antigos, que eu pregava há tanto tempo e que, de uns tempos para cá, vinham me parecendo tão superficiais voltaram a ser fundamentais para mim. se o significado para o tempo seja mudar o tempo todo, então voltar ao que é superficial pode ser uma parte decisiva do processo. uma rota sempre necessária à jornada. se os tempos são a mudança, pensamentos quase infantis e adolescentes no seu ímpeto de ser eterno, a mudança também pede um retrocesso tanto no pensar quanto no agir. trazer à carne o significado dos conceitos para não perder-se em abstrações. ou voltar a um ponto inicial. 


nenhuma visita nunca será idêntica à outra. pelo simples fato de a visita anterior ter sido um fator decisivo à mudança que virá para a próxima. a visita me transforma e querer reviver o passado é lutar contra o ato de viver. morte, portanto.


se o tempo é mudança, mudança é quase certo que seja apenas mais um significado para estar vivo.


um passado ancestral recomeça, pouco à pouco, a se materializar na minha cabeça. como usar o termo "recomeçar" se nada começa duas vezes do mesmo jeito que foi? lembro de quando os meus avós se referiam à “há vinte anos atrás...". vinte anos atrás parecia ser tanto tempo há tão pouco tempo atrás. muito mais tempo do que o meu na terra até então. envelhecer é redimensionalizar não apenas o espaço, mas muito mais o tempo. envelhecer é reaprender as dimensões do pensamento que nunca pára de crescer. como o adolescente que não sabe o que fazer com as extremidades, cada vez mais distantes de si, esbarrando pela casa, tropeçando na mobília. assim somos nós vivendo. tentando entender a direção para onde nosso pensamento segue. o espaço que expandir o entendimento, nos toma. vamos levando os dias tentando encontrar algum equilíbrio sem perceber que o equilíbrio não está em nenhum outro lugar, senão na sua própria procura. se perceber assim implica cair no precipício. é preciso prestar atenção à paisagem antes da queda.


"ou o buraco era muito fundo ou ela estava caindo muito devagar..."  


o corpo celestial de onde vem o pensamento cresce dentro de um corpo físico que mingua. os braços cansam. os órgão esfriam. a noite sempre vem. mas eu sei que, se ultrapassar a próxima arrebentação, talvez um oceano de calma prometa me fazer repousar por algum tempo. um tempo de morte, avesso às mudanças. se mudar o tempo todo é estar vivo, talvez a eterna repetição seja morrer. do outro lado do mar existe, ou pode existir, uma europa. ou uma áfrica. os braços precisam ser fortes e as velas bem esticadas para dominar a direção do barco independente do vento. as correntes e os vendavais estão no mar aberto e atingir o porto indesejado é mais fácil do que se imagina. 


para onde estamos indo? às vezes é importante se fazer certas perguntas. principalmente quando as suas respostas são tão distantes. quase inexistentes. nada saber, simplesmente para constatar cada pequena descoberta.

















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