quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sempre que uma nova rotina se estabelece em minha vida eu começo a me ver de longe. À medida que começo a me repetir todos os dias, vejo os dias de repetição fora do tempo presente.

Depois de tempos, consegui estabelecer um tipo de rotina nessa semana. Meia semana de rotina no meu tempo é maior do que no seu. Há três dias que sento na mesma mesa, do mesmo café, abro o meu lap top e escrevo há três dias seguidos a continuação de uma mesma história. Quando o dia termina caminho pela Paulista escutando canções que conheço tão bem há tanto tempo. A tríade Nancy Sinatra, Marianne Faithfull e Bob Dylan sempre me acompanha. E é bonito assim. Sendo o mesmo mais um pouco. Um pouco a mais a cada dia. 

Há um tipo de beleza que só existe nos escritores em início de carreira. De um jeito que sempre fui e que só deixei de ser quando me fizeram saber. Os mistérios deixam de ser quando ditos. 

Quando chego perto de casa atravesso uma pracinha e sempre vejo um grupo de garotos fumando os seus baseados. Eu olho para eles e me vejo ali. O guardinha me cumprimenta, mas eu nunca respondo. Eu sempre penso que deveria responder e ser amigo do guardinha. Mas aí eu lembro da moça que trabalha aqui em casa. Então eu sinto que a minha cota de ser legal com pessoas que não gosto mas que é preciso ser amigo ainda está ativa. Eu sempre achei que eu devia ser amigo de pessoas que não me interessavam. Eu sempre me senti meio que auto-obrigado a gostar de quem ninguém gostava. E assim foi indo. Era uma espécie de dívida com o mundo. Se o mundo não gostava de mim eu devia pagar de volta o pouco amor que me foi dado. A medida do ódio por quem não me gostava era exatamente igual ao amor que eu devotava a qualquer um que sentisse um mínimo de simpatia por mim. É foda ser cachorro. Mas essa é uma forma de pensar que é só minha.

Desde que meu contador de acessos tem explodido, me vejo obrigado a controlar os meus excessos por aqui. E aqui não é minha vida. É só um pedaço grande de mim mesmo.

O verão chega. Sempre que a estação muda uma onda de nostalgia elétrica se faz presente no ar. Os alérgicos são sensíveis ao invisível. Jamais duvide de um deles. Sempre que o dia estaciona no meio de um capricho da natureza, eu me sinto mais forte. Que faça sol até ferver. Que esfrie até congelar. Mas que congele. Ou que queime. Só não vale parar antes do fim.

As naves não vieram. Talvez devêssemos ir.

Um comentário:

t. disse...

às vezes penso que somos muito parecidos.


também me sinto assim, devendo algo para os desaventurados, talvez só um pouco de simpatia.



mas talvez eles sejam mais bem-aventurados do que eu.

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