quinta-feira, 30 de outubro de 2008

it's all about us
















É um pouco complicado escrever durante as temporadas longe de mim. Existem fases em que não me encontro. Por mais que me procure, não sei onde estou. Quando acordo ainda sinto a mesma fome, mas, aos poucos, vou entendo que, hoje, ela não será saciada.

Às vezes basta uma palavra dita da forma certa, mas na hora errada, para o mundo perder a graça. As palavras são fortes demais para mim e eu me sinto mais verdadeiro quando escrevo. Quando falo quase sempre saem mentiras de dentro de mim e eu não me reconheço nos diálogos que tento reconstruir quando a solidão volta. É sempre mais fácil quando sozinho. Sempre foi assim.

Hoje encontrei um texto que traduzi em 2006. Li as primeiras páginas e tudo continuava lá. As palavras ainda fortes. As intenções ainda verdadeiras. E, à medida que lia as falas daqueles personagens, uma vontade de voltar ao teatro foi tomando conta de mim. Antes que a vontade ficasse forte demais, fechei o documento e deitei no chão da sala. Enquanto o vinil do Led arranhava as paredes da casa e o sol atravessava os galhos do abacateiro até mim, eu criei um elenco dos sonhos. E eu escalei um time que faria a peça mais linda do mundo. Quando a música terminou eu tentei saber o nome daqueles atores, mas eles não existem.

Depois mijei. E depois de mijar fiquei olhando no espelho e pensando nos artistas que hoje me tocam. Pensei na Tuane e nas suas fotografias e no seu sorriso carregado de lágrimas que o seu olhar crava quando olha dentro do meu. Pensei nas músicas do senhor Johann. Pensei nas frases interminadas da Francieli. E fiquei feliz. Quando penso que os meus companheiros lá de Lajeado são os artistas mais interessantes que eu conheço hoje, nada fica complicado. Quando sei que, mesmo longe, na época das festas estaremos todos juntos, mesmo sem nunca estar, o dia encontra algum sentido. E eu sei que, se algum dia nos encontrarmos todos juntos, o mundo deixará de ser. Porque nós só conseguimos habitar plenamente os territórios imaginados. Porque nós somos feitos de uma matéria que não existe. Ou que ainda não existiu até aqui. Nossa arte é feita de vento e de tudo o que ele esconde. De tudo o que ele faz sentir quando varre nossos cabelos e arranca lágrimas dos nossos olhos. Nossas frases são imperfeitas, e nem por isso estamos tristes. Nossos raciocínios são complicados demais para os que não encontraram a simplicidade cortante de uma tarde inteira a suportar.

Os que sabem a dor do antes dormir. Do quase não dormir. Do nunca mais descansar.

Mr Johann toca agora "there's so much life besides". Ele está certo. Ele sabe que ela ficará lá, para sempre. Ele sabe que ela nunca será tocada por nenhum de nós. Somos feitos da vida antes que ela aconteça. Francieli atualiza seu blogue com fúria. Tuane despeja as fotografias mais belas do mundo de agora em seu flickr de ontem. E tudo está bem assim. Somos quatro dimensões de um mesmo segredo. E somos um só corpo condenado a nunca se encontrar.


Um comentário:

t. disse...

Tudo sobre nós.
E nós, em todos os sentidos.

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