sexta-feira, 24 de julho de 2009

Toca Townes van Zandt nessa tarde de sexta-feira. Finalmente coloco um ponto final no livro “Os Famosos e os Duendes da Morte” e Townes van Zandt é mais o livro do que o Dylan simplesmente pq o Townes foi para Dylan o que Dylan foi para mim e é para o livro. Hoje eu sou muito mais Townes do que Dylan. É preciso sempre descer um pouco mais. Agora eu devia subir no meu cavalo e desaparecer do mundo. É mais ou menos isso o que vou fazer. Sumir por dois meses. É fundamental ficar longe quando as coisas ameaçam acontecer. A distancia traz  uma calma necessária. Não vou ficar longe daqui. Escrever sou eu. Esse blogue sou eu. E eu ainda não tenho a certeza de Townes van Zandt para cruzar as montanhas do Colorado no lombo do seu cavalo. Não gosto de celulares. Prefiro o conforto do não estar. Mas para ser Townes é preciso muito mais do que isso. 

 

Hoje a cidade está parada. As pessoas choram na televisão e a única coisa que eu preciso fazer é a massagem que você me deu de presente. Sim. Eu recebo as suas mensagens, apesar de não respondê-las. Absorvo o que você me proporciona, mas não devolvo na mesma moeda. Nossas trocas não obedecem a nenhum padrão econômico. Dizem que é assim que as amizades operam. Você me conta sobre o sol, o sal, o calor. Você diz que quer me levar para o seu paraíso muitos quilômetros acima de onde estou. Eu leio e desligo o celular. Jamais ousaria contaminar a sua perfeição com as minhas palavras reais. Hoje você é Townes van Zandt e eu não vou te lembrar do mundo que te pertence. Que existe uma cidade feia chamada São Paulo. Que aqui os carros congestionam um passageiro por veículo. Somos a maior cidade do mundo e ainda não aprendemos a olhar para o lado. É perigoso ser carona. A corda sempre vai arrebentar no lado do mais fraco.

 

Se hoje eu não estivesse aqui seria uma sexta-feira com ela chegando em casa no fim do dia, gelando cervejas para assistir a novela e estocando doces para o fim de semana fazer sentido. Existe sabedoria nos rituais que se conservam com alegria mesmo cientes de que serão eternos. A sabedoria da alegria talvez seja saber que nada é para sempre. Nem minha mãe voltando para casa toda a sexta-feira. Nem meu pai fumando o cigarro enquanto ela prepara o almoço. Nem as piadas que ele lê em voz alta. Nem as mãos cortando cebolas. Nem os olhos chorando de saudade. Nada vai durar para sempre. Aproveite  o que a realidade te dá. Aproveite o rosto da tua filha. Muito antes do que tu possa imaginar, ele não será mais teu pq, na real, ele nunca foi. Não há como ser as coisas que nunca foram. É complicado acreditar que o que não foi, nunca será. 

O contrario disso é ele quem tenta me convencer. Sou eu que tento acreditar.












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3 comentários:

quasechuva disse...

não dá nada
nada dá e não dá nada.
sempre se faz depois o sempre.

Orlando disse...

alegrias abafadas na panela de pressão, é o poder

C. Fiuza disse...

Gostei no novo layout e tb desta parte "jamais ousaria contaminar a sua perfeição com as minhas palavras reais".

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