domingo, 12 de julho de 2009












Existem fases da vida em que todas as pendências parecem entrar, pouco a pouco, na sua zona de resolução. Se Hamlet dizia que estar pronto é tudo, eu devo continuar acreditando no contrário.

É só uma questão de ponto de vista. E de saco cheio com as opiniões dos outros.

Todos mundo gosta de quase todos os filmes. Todo o mundo elogia o livro que lê. Todo o domingo a praça Roosevelt é a capa da folha de são Paulo. Todos gostam das musicas que ouvem. Às vezes sinto um profundo nojo desse senso comum idiota e estúpido. Mas logo passa.

Noticias chegam de todos os lados: escutar é apenas uma questão de escolha. Às vezes só precisamos ficar quietos. Devíamos ficar mais. Cada vez mais. É fundamental a sensação de um passo antes da inexistência. Calmos também devíamos ficar. É fundamental a sensação de um passo antes da calma. 

São Paulo agora é, cada vez mais, a minha cidade. São Paulo é a metrópole do futuro. Aqui também existe um sol, mas, como não posso sonhar com espetáculos exclusivos dele para mim, procuro alguma coisa que apenas eu consiga perceber. Só assim me sinto vivo. A paisagem natural da maior cidade da America do Sul sempre contém muito mais pessoas do que meus olhos são capazes de suportar. Assim como o céu gaúcho quase não cabe no olhar, a quantidade de pessoas dentro de um só prédio é impossível de exatidão. Assim como o mar de Arroio do Sal tem a costa mais infinita do estado, a quantidade de pessoas descendo as escadas rolantes do metrô consolação às seis horas da tarde é impossível de exatidão. Quantos metrôs cúbicos a lagoa dos Patos é capaz suportar?

O alto do terraço Itália é o encontro entre dois mundos. Entre dois pânicos. Todos os excessos latem no alto do terraço Itália. Ninguém entende o meu medo quando, eventualmente, estamos naquele lugar. Ninguém ouve os latidos ameaçadores da grande cidade ecoando pelo vento frio da noite de inverno.

É preciso ser natural em relação às pessoas para que os olhos possam descansar sobre uma paisagem natural em São Paulo. Os mendigos precisam ser poças sujas, desvios, apenas uma questão de não olhar. É preciso cuidado para não trazer as sujeiras da rua para o chão da nossa casa. Os obesos são vacas que, de vez em quando, aparecem em alguma curva da estrada atrapalhando a passagem. As pessoas bonitas são os passarinhos cortando o horizonte. Apenas o inatingível. O cara que rouba a carteira do indefeso é a cobra tomando sol esperando alguém passar. É preciso maldade para existir.

Existem fazes em que um só dia te empurra para picos máximos de euforia e, logo depois, para o vale profundo de uma depressão. É normal a preguiça na hora de subir a montanha uma outra vez. Descer é sempre o ponto final de qualquer escalada. Subir uma montanha pode ser simplesmente uma sucessão de esforços sem nenhum sentido aparente. A mochila carregada de agasalhos para a noite no alto é um peso que poderia ser evitado se decidíssemos continuar parados. Os galhos batendo no rosto podem não ser o exato oposto de enxergar até o fim a utilidade de cada planta. Os precipícios onde se quase morre. A planície no topo de tudo. A liberdade da parte mais alta. Ver o mundo acontecendo lá embaixo, longe de tudo, como um infinito tapete abstrato feito de estradas, plantações e vilarejos. É bom subir, mas nunca se deve permanecer  tempo demais lá no alto. As noites costumam ser frias demais e os latidos da cidade não te deixarão dormir.

A função de uma epifania nem sempre é acontecer.

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