terça-feira, 7 de julho de 2009

Quase tudo sobre cronômetros e almoços ou A Avenida Paulista em dias comuns.

As ruas próximas dos cafés da avenida Paulista,  nas horas próximas do almoço, são tomadas por um exército de engravatados. Moças vestindo tailleur passam apressadas arrancando os braços de quem fica para trás. Faz sol no final da Augusta, mas elas não ousam perceber. Sorrio para o infinito antes que outra bolsa de couro reflita a fivela dourada e os anéis pesando metais raspem suavemente a minha mochila. Os sapatos são bico fino sobre um salto grosso. Não ousam fazer carícias. As engravatadas da Avenida Paulista.

Dentro, o café contem em cada uma das suas mesas uma vasta gama de diferentes consistências de obesidade. As mesas contem expressos engolidos antes que se sinta o gosto para ter tempo de mais um cigarro do lado de fora. Três pacotes de adoçante duas balas de brinde e o celular que ela esqueceu sobre a mesa tocou três vezes antes que eu decidisse atender. Na mesa ao lado alguém gargalhou e esse alguém era diferente de mim.




Quando cheguei em São Paulo os engravatados da Paulista eram o exemplo mais próximo de algum tipo de sucesso que eu me obrigava a, secretamente, admirar. Depois de cinco anos aquilo virou um tipo de nojo. Os engravatados da Paulista nunca chegaram a ser escravos de um coach. São soldados, cronometrados, prontos para morrer. Por isso atravessam a Paulista sem olhar para os dois lados. Suas panças de hambúrguer, um buraco maior dentro do cinto a cada mês que passa. Os dentes velhos de aparelho nunca serão o que vocês quis. Os cabelos crescem raízes que nenhum tailleur do mundo conseguirá disfarçar. Nenhum tecido esconderá a cor da sua pele. Por mais que você tente, os engravatados da Paulista não vão te camuflar. 

Os engravatados da Paulista esquecem que debaixo do asfalto existe uma linha de metrô. Debaixo da linha de metrô, depois dos blocos de concreto, talvez exista algum tipo de solo arenoso. Estar sobre a Paulista é caminhar sobre uma gigante laje suspensa sobre a montanha. Atingir o topo e não receber um horizonte. O morro da Paulista é muito mais alto hoje do que era há setenta anos antes de agora. A Paulista não é mais uma terra fértil. Por mais que vente. Por mais que o sol seja lindo na parte mais alta da cidade, a avenida Paulista não é terra de criar raízes. Venta. As antenas flutuam sobre todos os prédios, fincadas no chão de concreto. Há centenas de metro da terra de verdade.

3 comentários:

B. disse...

Lindo texto!!!!!!Amei!!!!!vc tá por Sampa? Vai me ver sexta!!!!!Saudadessssssss

Anônimo disse...

Onde venta também tem raiz.
Ela cresce mais forte e mais profunda, para existir. O outro só não é você.

Anônimo disse...

Onde venta também tem raiz.
Ela cresce mais forte e mais profunda, para existir. O outro só não é você.

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