segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os domingos costumavam ser mais sangrentos antes de eu te conhecer. No fim de todos os domingos, não sei se você já percebeu, preciso ficar mais sozinho. Cochilo no carro voltando para casa ao anoitecer. Nessas horas confio na fragilidade dos seus braços. Na desatenção dos seus óculos. Minhas respostas ficam menos sonoras. Menos sorrisos. Menos eu. É preciso cuidado e carinho ao fechar a semana.

Desatenção implica sofrer mais do que o necessário, no nosso caso.

Eu não entendia pq os domingos eram insuportáveis até um amigo mais velho me contar sobre os domingos sangrentos do Rimbaud. Eu gosto de ter amigos mais velhos, de estar perto de pessoas que viveram o que eu nunca vivi e de saber sobre futilidades fundamentais: que para Rimbaud, assim como para nós, os domingos também eram sangrentos. Os amigos mais velhos ouvem nos gritos da Jane um série de harmônicos que ainda não vivi para poder escutar. Que nunca viveria. Os amigos mais velhos habitam sempre um circulo acima de nós. Gosto de sentir, no topo da cabeça os pés quase não do que um dia todos vamos ser. Os pés um pouco mais leves. Sem nenhuma geração que os proteja do inevitável: o próximo passo será o último antes do fim. Gerações futuras nos protegem cada vez menos. A rede ficará, a cada ano que passa – a partir de ontem, sempre um pouco mais frágil.

 Se agüentarmos firmes, todos um dia vamos ser o que os outros não são mais.

Os amigos mais velhos carregam uma verdade que não se pode fingir: avançaram um pouco mais sobre o inevitável. Os amigos mais velhos são o fracasso do sucesso. A vida um pouco mais perto do real. Os dias passando, cada dia, mais rápidos sem que nada possa ser feito. Kamikaze na direção precisa do chão. Os mais velhos possuem uma seriedade que não conseguimos entender. A cada domingo eu tenho um pouco menos de medo de envelhecer. São bons os anos ao seu lado. Conhecer pessoas mais velhas como se tivéssemos todos os tres a mesma idade. Talvez esse sejam, para sempre, os melhores anos da minha vida.

Mas sempre haverá uma montanha um pouco maior.

       Será?

Podemos subi-la de mãos dadas.

Será?

Podemos competir para ver quem de nós chega primeiro lá no alto.

Ou ver quem agüenta mais tempo antes de desistir.

Quem de nós dois tem menos medo do infinito?

 

 

A cada dia que passava íamos nos tornando um pouco menos futuros ex de nós mesmos. Ríamos das mesmas piadas. Escutávamos as mesmas musicas e assistíamos  com devoção religiosa a um único programa semanal na tv. Passava no começo das madrugadas de domingo. Sempre juntos. Sempre procurando rir de todas as tiradas inteligentes e engraçadas da apresentadora moderna. Por mais que, secretamente, tivéssemos certeza de que as nossas tiradas eram muito mais engraçadas e inteligentes. A única desvantagem era que ainda não estávamos sendo ouvidos por muitas pessoas. Mas tudo é uma questão de futuro e os velhos nos dão uma certeza bonita sobre o futuro então acreditávamos. Nos velhos e no nosso futuro. Era o nosso ritual de domingo, gastar as ultimas risadas com o humor alheio. Inertes. Descansando antes de ser. E era bom antes de ser. Por mais ansiosos que tivéssemos sido.

Manter segredos é o segredo do vencedor. Por isso não quero saber tudo sobre você. Por isso você nunca saberá tudo sobre mim. Geheimnis. Só eu conheço a curva de cada letra que escrevo. Ninguém mais. 

3 comentários:

leila fletcher disse...

talvez a sabedoria do amigo mais velho tenha sido perceber que é inútil querer subir montanhas... talvez seja mais sábio ouvir o choro da montanha que chega até nós aqui embaixo.

leila fletcher disse...

talvez a sabedoria do amigo mais velho seja justamente a de ter entendido que é inútil querer subir montanhas. que talvez seja mais sábio parar para prestar atenção no choro da montanha, que chega aqui em baixo.

Alien disse...

às vezes, tu respiras pelo pulmão dos outros... e és poético. e quando esta poesia toma a curva das tuas letras são asas criadas em pelo abismo.

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