sexta-feira, 23 de maio de 2008

Os dias seguem lentos aqui na grande cidade. preparo-me para partir mais uma vez. para um lugar que sempre muda todas as vezes quando volto. as plantações redefinem a paisagem longe daqui. as estradas adquirem novas texturas conforme o tom das cores que as envolvem. o sol muda lentamente de posição e as sombras escondem pontos dentro da paisagem que eu não pensava perceber assim, na escuridão.

os homens na grande cidade escondem as emoções e vamos todos levando a vida de uma forma tão blasé. como reagir intensamente a tudo o que nos cerca se tudo o que nos cerca se tudo o que nos cerca é tão intensamente possível de uma grande reação? e assim vamos, pouco a pouco, nos tornando um pouco mais frios. surpreender-se implica não ter medo. assumir o ridículo. e desgastar um tanto de energia.

na pequena cidade as surpresas são tão grandes. como se carecessem de surpresas as reações podem ser desmedidas e muito maiores do que eu, um cara acostumado com a grande cidade, poderia imaginar. os homens nas pequenas cidades sofrem mais por que pensam mais. a eles é dado o tempo para pensar. as horas para suportar. a vida vazia para viver. retirar-me é como redescobrir em mim a incerteza das reações dos poucos que ainda permito me rodear. retirar-me é sempre ser surpreendido pela inconstância dos colonos. que sempre esperam demais. que sempre cobram demais. que sempre sabem tão pouco sobre si mesmos. pq encontrar a dor e o lado negro dentro do próprio coração pode ser tão perigoso.

os colonos agarram os pés à terra. e lá seguem os dias. comendo migalhas do mundo sorrindo de longe. contentando-se com notícias de jornais que eles nunca lerão. acordando surpresas que nunca serão reais. a vida dos colonos é perigosa para quem não é um deles. para quem, há muito tempo, deixou de ser um deles.

a partida assusta os colonos. e entender que um colono deixou para trás a vida presa à vida, pode ser triste demais para continuar levando adiante. como eu disse, hoje repito: é preciso leveza no espírito, paz no coração e inteligência aguçada para não confundir o sucesso de outrem no fracasso de si próprio.

termino o chá nesse pequeno café perdido em alguma charmosa rua de são paulo. em pouco tempo embarco para o sul. conversarei com as plantas e beberei com poucos. abraçarei minha mãe e beijarei o meu filho. o mundo não será melhor e nem os dias mais bonitos. voltar à casa para ver dentro dela toda a sujeira que sempre esteve lá. que sempre estará. olhar os meus amigos e não reconhecer dentro dele o que um dia nos moveu. observar sozinho a cidade envelhecer. as risadas perderem a cor. as conversas desgastando-se em sentido. carecendo de verdade. as noites perdendo a vontade. o interior me chama sem que eu queira voltar. mas eu vou. eu preciso. mais uma vez. dessa. a última.

berlim. logo estarei nas suas ruas. chorando a sua falta de luz. sorrindo os seus passos lentos. tristes. e inteiros. longe é um lugar onde nunca poderei estar.

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