terça-feira, 20 de maio de 2008

encontrei um refúgio. um pequeno lugar onde posso guardar o pouco que sobrou da longa batalha dos últimos meses. há um refúgio nessa cidade. como nos tempos ancestrais, é preciso sempre voltar à selva. por menos bela que ela seja, é preciso sempre olhar para o que não é bonito. talvez eu tenha sorte, mas eu não posso fazer nada se é assim que as coisas são. é preciso calma para entender os movimentos do tempo. é preciso guardar as asas para nunca ter que voar.


a tarde cai tão devagar sobre essa cidade feia onde tento um refúgio. a casa está vazia. dylan continua gritando na vitrola. há vinho por toda a parte. as poltronas contém amigos que sempre podem chegar contanto que saibam a hora certa de partir. todos os meus amigos sabem a hora exata de partir. alguns partem cedo demais. outros nunca chegam. nunca chegaram. nunca chegarão. o vento dos idiotas está longe. soprando em terras distantes. o vento sopra sobre os idiotas que fingem voar sem nunca tirar os pés do chão. o vento sopra sobre os idiotas que sempre buscam aquilo que não ousam desejar. o vento sopra sobre os idiotas que me usam e pensam que eu não enxergo a miséria disfarçada de tristeza dentro dos seus corações. o interesse disfarçado de amizade. os crimes mais cruéis são sempre aqueles que cometemos contra os nossos próprios princípios. mas eu tenho um refúgio. eles não. eu parto. eles nunca. o vento sopra e os seus cabelos nunca voam para longe. para os idiotas, as terras distantes são apenas mensagens trazidas de fotografias. páginas de internet. álbuns que nunca foram seus. as tardes nos seus refúgios não escondem a solidão do cansaço. eles estão longe atormentados por pensamentos que não se concretizam. não se concretizaram. que nunca se concretizarão. até quando? se você tiver a resposta nunca encontrará a saída.


quando faz silêncio eu viro o disco. sem saber que o lado b é sempre mais perigoso. a agulha passa rente a abismos infinitos que podem cegar o coração de quem não ousa partir. abandonar tudo. esquecer todas as voltas. desentender todos os caminhos. morrer sempre para continuar vivo. a sabedoria dos que entendem que nem toda a impermanência  do mundo será o bastante e nem nunca será medida.


estou refugiado. muito mais perto do que qualquer um possa imaginar. nem eu mesmo. quando saio de casa para comprar vinho e vinis antigos esse pode ser todo o trabalho de um dia. que a noite venha. e que eu me perca de mim mesmo no imenso trajeto entre o quarto e a vitrola da sala mais uma vez. que o vinho me leve cada vez mais para longe. os trajetos de terra foram cumpridos. dylan cantou para mim e eu chorei. e uma estrela caiu para que todos pudessem ver. e o vento derrubou o seu microfone. e todo o estádio cantou junto por modern times como nunca se viu. talvez aquele tenha sido o fim. eu estive sozinho. como sempre estarei desde então.


a solidão sem desespero é o caminho para a felicidade. ninguém espera por nós. que seja belo enquanto for intenso. que o vento sopre os idiotas para longe de nós. e que a natureza seja linda. longe daqui.

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