domingo, 23 de agosto de 2009

Viajar é ter menos tempo para pensar. Chegar em casa depois de um mês longe dela implica não conseguir dormir. Encontrar os amigos, depois de um mês longe deles, implica não saber por onde começar. Aceitar o risco de não se reconhecer à primeira vista implica esconder as fotografias para um dia depois de hoje.

Os discos estão aqui, no lugar onde sempre estiveram, mas meus ouvidos ainda não chegaram. Ainda não estou, apesar de já. A bagagem voltará aos armários. Cada quilo excedente deixará o meu rosto. Cada gota do suor que brotou longe daqui será lavado de todas as camisetas que ainda estão presas dentro da mala. As garrafas de vinho serão abertas quando eu sentir saudade do que passou. É preciso que se apaguem os vestígios para entender o que sobrou.

Estar em casa não é equivalência para voltar. Voltar é não estou. Voltei sem ter chegado. É preciso respeitar o espaço do ainda não.

A água que molhou os meus cabelos no banho que acabo de tomar tem o cheiro do encanamento do prédio onde moro, mas meus órgãos internos ainda são feitos da água que existia do outro lado do oceano no tempo em que estive lá. Ontem. Quase hoje. Amanhã um pouco mais. Cada dia um pouco menos até ser outra vez.

Cruzar um oceano é não sucumbir ao pânico de se perder.

Um comentário:

epicuro disse...

dizia um amigo que a gente demora bem mais que nosso corpo para voltar de viagem. http://bit.ly/2j2It

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