quarta-feira, 5 de agosto de 2009

google maps diary - Dallas/A 380 - Decatur

Decidimos pegar a 35 na direção de Albuquerque. Os primeiros quinze minutos, até o acesso à Carrollton serviram para eu lamentar não termos seguido por Fort Worth. A distância entre Dallas e Fort Worth é um trecho de muitos significados que eu conheço através de histórias que você me conta. Foi onde você passou a sua adolescência sem saber que habitava a terra natal de Townes van Zandt. Fico imaginando quantas vezes você, aos quinze anos, fez o trajeto entre essas duas cidades. Dallas-ForWorth. Você sentia as coisas do jeito que você sente hoje quando cruzava Dallas – Fort Worth - amor? Mas não. 
Nessa viagem nós pegamos a 35 e eu não sei se o caminho entre Dallas e Albuquerque é místico para alguém que talvez eu devesse conhecer. Pensei em consultar meu colega de viagem, mas não queria desperdiçar a sua memória com questões inúteis. Eu que tratasse de mistificar aquele pequeno trajeto que estávamos prestes à tomar. Como não prevíamos, ficávamos em silêncio ouvindo aquela canção melancólica que tocava numa estação qualquer enquanto as cidades desabitavam o começo da tarde de domingo. Pensei no caminhoneiro. Pensei que se ele tivesse comido nhoque tudo teria sido totalmente diferente. Por um tempo meu pensamento viajou por uma estrada de possibilidades “se tivéssemos”, mas logo voltei à 35. Às suas construções feias. Ao asfalto refletindo o calor do meio-oeste. Olhei para meu colega e pensei “estamos aqui cara”. Ele dirigia seguindo o GPS interno. Mais uma das infinitas facilidades do Google chip.
Se aquela não fosse a rota certa, pelo menos continuávamos com nosso Volkswagen K70 69, o pior carro produzido nos anos 70. Tínhamos um ano de vantagem sobre os outros competidores e a viagem só encontrou um pouco de sossego depois de Carrolton. O trecho Carrolton – Texas é muito feio. E ainda não era místico para mim. Talvez nunca seria. Talvez não devesse ser.
O problema da 35 é que ela é muito feia. Parece que estamos infinitamente andando de canoas para porto alegre. Detroit-Canoas-amor, mas isso é outra coisa. Talvez tenha sido isso. O excesso de cimento na estrada de Canoas. O asfalto por todo o lado. O vazio de vida. E a vontade de sair do Texas para chegar logo na Califórnia. Optamos por sair da 35 e experimentar a 380 até Decatur e de lá seguir para Wichita Falls. Talvez a estrada fosse mais verde. Mais natural. Mais countryside. Lembrei da casa que Frank Loyd projetou em uma queda e cogitei em consultar meu colega, mas aquela era uma informação boba demais para ser pesquisada. 
A 380 é uma estrada em linha reta de mão dupla. 
No caminho o meu colega me contou sobre a diferença entre os beats wolfianicos e os não-wolfianicos. Pedi que não gastasse as informações do seu chip Google com assuntos desimportantes, mas ele disse que as informações não gastavam nunca. Se quisesse, seu cérebro poderia passar vinte e quatro horas gerando informações sobre tudo o que ele quisesse saber. O preço do chip variava conforme o tempo de duração, não a quantidade de bits transmitidos no mesmo ínterim. No rádio começou a tocar uma canção do Simon e Garfunkel que ele reconheceu na hora: “Simon and Garfunkel. The Sound of Silence. Year 1966”. Eu também lembrei de coisas. Lembrei de quando ouvi essa canção pela primeira vez e lembrei do Fusca do Scheer, que todo o mundo dizia que só tocava fita do Simon and Garfunkel. Eu nunca andei no Fusca do Scheer mas a imagem de um Fusca onde sempre toca a mesma banda, ficou em mim. O Celo também tinha um Fusca, mas no dele só tocava Pink Floyd. Eu era mais amigo do Celo. É claro que você sabe do que estou falando.
Ficamos assim eu e meu colega. Ele me fornecendo informações precisas sobre tudo à nossa volta, e eu devolvendo imprecisões sem me perguntar quem era o lado fraco da nossa relação. 
Depois de ter descoberto que não importava a quantidade de informações que meu colega poderia responder, aproveitei para aprender.
A 380 até Decatur é uma estreita via repleta de plantações infinitas capazes de me sugestionar os mais bonitos entardeceres. 
No trajeto de hoje havia muitos caminhões por lá, o que deixava o clima um pouco mais tenso. Não sei o que os caminhões transportavam. Deviam ser grãos ou sementes para as inúmeras fazendas daquela bonita região. 
De vez em quando a paisagem lembrava muito aquelas regiões próximas à Cascalheira do Passo do Corvo, na estradinha que começa bem do lado do campo de futebol. Entre o rio e o começo da pequena serra, existem pontos onde a luz e a inclinação do terreno me lembraram das bandas mais loucas que já pude dar em Arroio do Meio. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Counting the cars on the new jersey turnpike.
They've all gone to look for america

Scheer

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