quinta-feira, 4 de setembro de 2008

geheimnis

É sempre estranho voltar para os lugares de onde não se partiu. É sempre preciso voltar, para entender quando ainda não fomos embora. Como chuvas que molham a mesma terra, eu volto a esse espaço depois de uma morte. É importância dar-se por vencido. Fechar etapas. Concluir ciclos. Voltar de onde se pensou ter ido. Rever os mesmos versos para escutar novas melodias.

E eu penso nos lugares onde estou preso para sempre.

Algumas pessoas quando pensam na idéia de não ter como partir nunca, se apavoram e se sentem presas. Eu não. Saber que nunca partirei de onde vim me faz livre. Eu posso correr o mundo. Posso estar com todas as pessoas. Posso beber um trago com os meus traidores. Posso ouvir cantar quem não precisa ser ouvido. Mas eu sempre terei para onde voltar. Ou nunca terei partido. Se nunca tiver. Você pode me ver nos locais mais improváveis. Eu nunca estarei lá. Onde quer que eu vá eu habito um terreno intimo. Solitário. Triste e frio. Você pode me ver sorrindo na televisão. Meu rosto estará lá, mas meus olhos não molharão o seu monitor. Você pode me ver dançando no baile de sábado, mas os meus pés não serão coreografia nenhuma que não os passos sempre repetindo os mesmos trajetos. O que muda são os caminhos. Não os sentidos.

Como nós que jamais serão desfeitos. Que não devem nunca ser desfeitos, eu serei sempre a minha origem. Como cicatrizes que não precisam cicatrizar para nunca mais sumirem. Estar cicatrizado implica a ferida eterna. E eu serei servo das raízes que me prendem a ela. Pq quanto mais forte o vento, mais firme é o meu terreno.

E eu penso no amor que sinto quando me descubro. O amor que sinto quando eu sei quem sou. A certeza de que dois não são um. Nunca serão. Por mais que os nossos caminham sejam quase um só e por mais que as nossas pernas quase se misturem um pouco antes de pegar no sono, no meio da noite os nossos corpos são dois corpos vazios que não precisam estar juntos para respirarem o mesmo ar. No meio da noite não importa em qual cama você deite. Se eu estiver em você, como você está em mim, a certeza de um outro eu perdido no mundo é o descontrole que eu guardo aqui, no lugar mais sagrado do que eu penso ser existir. Se no meio de uma tarde o seu olhar se misturar em outro homem eu não serei nenhum que não você. Olhe para o que te faz beleza, e eu serei ela, a sua beleza. Eu reconheço-me em ti em tudo o que faz. Eu respiro em você o ar que, às vezes, me falta. Se habitamos dois corpos num mesmo espaço, nada do que vier de ti poderá ser mal a mim.

É tudo sobre nós. 

2 comentários:

t. disse...

Criamos raízes desde que saímos da terra. Podemos alongar e ir e vir, mas a raiz nunca arrebenta. A não ser quando fica escuro.

alberto disse...

somos sempre bem idos e bem vindos. guzik

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