quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

os dias estão estranhos aqui na grande cidade. os dias estão cheios desde o dia em que cheguei. mas eu não vou. e eu não quero. e eu acho que eu não sei mais querer as coisas que um dia eu quis. é como se tudo tivesse perdido um pouco a graça. pessoas morreram em 2009. pessoas morrerão. hoje eu estava em uma festa. e nessa festa uma mulher não sorriu para ninguém. duas vezes ela sorriu para mim. e eu não sorri de volta. depois da sobremesa ela foi embora sem se despedir. uma menina veio me dizer que ela iria começar a quimioterapia amanhã. ela fumou um baseado. comeu um prato de comida e no meio do prato de comida ela riu para mim pela primeira vez. depois comeu sorvete de chocolate e entre duas colheradas ela sorriu para mim mais uma vez. quando eu fiquei na janela olhando para a cidade e sentindo o vento nos meus cabelos, ela olhou para as minhas costas. e ela sorriu para mim. sorriu tão forte que eu não precisei ver para sentir. 

depois ela foi embora. saiu arrastando a saia indiana que não combinava com a decoração da casa. antigo demais para aquelas pessoas. seus cabelos tingidos de um jeito infantil. o sofá de couro. a mobília antiga. o disco novo do franz ferdinand. e os sorrisos que ela emitia sem resposta.  depois ela foi embora. desceu os cinco andares do prédio sem carregar sorrisos. 

quando fiquei sozinho na cama tentei entender o que ela havia procurado naquela noite. na última noite antes da quimioterapia. o mundo é mais difícil para os doentes. antes de deitar você reclamou de alguma coisa sem importância e eu contei sobre o câncer da mulher que saiu no meio da festa. você se sentiu mal e era isso o que eu queria. você parou de reclamar e essa que eu queria. você não dorme na nossa cama. eu estou acordado na parte mais fria da casa. não era isso o que eu queria.

eu queria que ela não morresse. 

se os sofrimentos são sem sentido a morte sempre perde o significado. mas eu ainda tento entender os por quês dos sorrisos que não retribuo. dos telefones que não atendo. das cartas que não recebo. e nunca encontro resposta para o meu próprio silêncio.

3 comentários:

leila fletcher disse...

withdrawing from the world. just like me. maybe we meet somewhere else...

t. disse...

acabei de ler o livro. é lindo.

Anônimo disse...

o melhor da liberdade eh fazer aquilo que queremos...não sonrio mais para qualquer um...meu sorriso eh valioso
mesmo que esteja morrendo...daria outra coisa mais não retribuio tipo "epelho" o que o outro começou>
Um sonria, eu digo oi!
nao tente entender, viva vc.

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